Ivete Sartori debate o formato interno de coroas implantossuportadas múltiplas parciais, um tema importante e que ainda falta conhecimento a respeito.
A determinação do formato interno das coroas implantossuportadas é um passo clínico muito importante, seja na prótese unitária, parcial ou de arco total. A resposta do tecido mole peri-implantar é dependente da posição do implante, da qualidade tecidual e da qualidade do material com o qual a prótese foi confeccionada, associadas ao formato dado às coroas. Já discutimos em colunas anteriores a importância do formato associado às próteses de arco total. Aqui, gostaríamos de falar um pouco a respeito do formato interno quando trabalhamos com coroas implantossuportadas múltiplas parciais. Apesar da importância do tema, percebe-se que há uma grande falta de conhecimento a respeito do mesmo.
Tem sido bastante comum encontrar casos com complicações por apresentarem formatos não ideais. No caso aqui apresentado, a paciente tinha queixas de desconforto na região da prótese implantossuportada. A radiografia periapical revelou grande perda óssea marginal (Figura 1). Ao avaliar a adaptação do contorno protético aos tecidos moles, foram observadas áreas de impacção com a ponta da sonda exploradora nos dois elementos (Figuras 2 e 3). Ao remover a prótese, constatou-se o desenho retentivo em todo o contorno (Figuras 4 e 5) e aspecto tecidual bem hiperêmico e com sangramento ao menor toque (Figura 6) – sinais nítidos de inflamação tecidual. Esse tipo de desenho não apresenta bom comportamento, oferece dificuldade para acesso mecânico para higienização e funciona como uma área de impacção, o que pode gerar também as perdas ósseas marginais.
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Frente ao problema, ficam para mim sempre as perguntas: por que os técnicos executam e os dentistas instalam próteses que apresentam formatos que dificultam a correta limpeza? Quais são os fatores de confusão?
Quando desejamos ter um aspecto natural na emergência das coroas, associado à facilidade de higienização e saúde tecidual, temos que garantir a quantidade e qualidade da mucosa ceratinizada, e planejar corretamente os formatos. O formato deve ser todo convexo. O perfil crítico, que significa o contorno do colo em contato com o tecido mole, deve ter o aspecto de emergência com o tamanho desejado de anatomia; e o perfil subcrítico (mais para cervical) deve estar totalmente submerso em um formato menor do que o contorno, mas sem áreas de impacção (Figuras 7 e 8).
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Para que isso seja possível, é importante que o implante esteja instalado em uma posição, pelo menos, 3 mm a 4 mm mais cervical do que o ponto onde se deseja o pôntico. Dessa maneira, é possível instalar um intermediário de pelo menos 1,5 mm e ficar ainda com a base de assentamento subgengival. O contorno desejado deve ser colocado na prótese provisória e depois o formato tecidual deve ser passado ao laboratório, por meios analógicos ou digitais. Após um ano de tratamento, é possível avaliar os resultados favoráveis sobre os tecidos (Figuras 9 e 10).
Na próxima edição, seguiremos mostrando como obter os formatos internos de coroas que contribuem para um comportamento tecidual saudável.
Ivete Sartori
Mestra e doutora em Reabilitação Oral – Forp/USP; Professora dos cursos de especialização em Implantodontia – Fundecto-USP/SP, dos cursos de mestrado e doutorado da Faculdade Ilapeo, dos cursos de aperfeiçoamento em Implantodontia da APCD (Bauru) e da Clínica Mollaris, em Portugal.
Orcid: 0000-0003-3928-9430.