A incorporação de um protocolo de atendimento nos casos de aumento de coroa clínica estético acelera a execução do procedimento cirúrgico e minimiza os possíveis erros.
A constante incorporação de novas tecnologias nos protocolos de atendimento odontológico nos auxilia tanto no planejamento quanto na execução dos tratamentos. Nesse contexto, softwares de planejamento associados a exames de imagem são ferramentas excelentes e podem nos auxiliar no diagnóstico e tratamento de várias condições clínicas, incluindo casos de sorriso gengival. Para isso, é necessária uma documentação digital do paciente1-2, que consiste na realização do escaneamento intraoral (arquivos STL) e obtenção de uma tomografia computadorizada (arquivos DICOM).
O sorriso gengival pode estar associado a diferentes fatores etiológicos, cujo reconhecimento é fundamental para o diagnóstico e a definição do plano de tratamento3-6. Dentre eles, destacam-se: erupção passiva e/ou ativa alterada, crescimento vertical excessivo da maxila, lábio superior curto e/ou hiperativo; ou a combinação de dois ou mais desses fatores6. No tratamento de erupção passiva e/ou ativa alterada, é necessário sabermos de antemão se o paciente será submetido ou não a tratamento restaurador complementar. Sendo assim, avalia-se a necessidade de um enceramento diagnóstico prévio para a localização da futura margem gengival, que será nossa referência nos casos integrados à reabilitação protética.
Leia também: Osseodensificação: uma alternativa previsível para o levantamento de seio maxilar
Nos casos genuinamente periodontais, sem complementação protética, a junção cemento-esmalte (JCE) sempre será o ponto de referência, portanto torna-se fundamental a detecção da posição da JCE em relação à posição da margem gengival e crista óssea. Dessa forma, conseguimos avaliar se existe excesso gengival sobre a coroa dental, bem como se existe a necessidade de osteotomia para restabelecer as distâncias biológicas, evitando o risco de recidiva. Normalmente, a detecção da JCE e mensurações são realizadas com a utilização da sonda periodontal, mas, dependendo da anatomia dental e da experiência do operador, podem ocorrer erros na avaliação. Ao inserirmos os arquivos de escaneamento (STL) e de tomografia computadorizada (DICOM) em softwares de planejamento, temos a possibilidade de sobrepor ambos os arquivos tridimensionalmente e, dessa forma, detectar a JCE para realização das mensurações de forma precisa e rápida7.
Além das medições, os softwares de planejamento possibilitam desenharmos um guia cirúrgico capaz de orientar na realização das incisões e da osteotomia. A grande vantagem do guia digital é que a incisão seguirá o contorno real da JCE, não apenas medições manuais pontuais, minimizando a probabilidade de erros durante o ato cirúrgico. A confecção de guias cirúrgicos em casos não protéticos de maneira analógica torna-se imprecisa pela impossibilidade de informarmos ao protético com precisão o contorno da JCE, acarretando em erros frequentes, principalmente nas regiões interproximais. Por esse motivo, antes do uso dessa tecnologia, recomendávamos a realização de incisões a mão livre nessas situações, desde que o operador tivesse experiência suficiente8.
Leia também: Manejo cirúrgico e protético da recessão peri-implantar
Embora alguns parâmetros médios possam ser seguidos, o aumento de coroa clínica estético pode dar margem à subjetividade, dependendo de um planejamento individualizado. Nesse contexto, a utilização dessa tecnologia digital pode auxiliar o paciente a visualizar previamente o possível resultado através de mock-up virtual e sobreposições do planejamento em escaneamento facial.
A incorporação desse protocolo de atendimento nos casos de aumento de coroa clínica estético, especialmente quando a JCE é a referência, acelera a execução do procedimento cirúrgico e minimiza os possíveis erros, tornando a técnica menos dependente do operador, possibilitando a obtenção de resultados mais previsíveis e estáveis.
Referências
1. Jreige CS, Kimura RN, Coelho Segundo ART, Coachman C, Sesma N. Esthetic treatment planning with digital animation of the smile dynamics: a technique to create a 4-dimensional virtual patient. J Prosthet Dent 2021;S0022-3913(20)30600-4.
2. Passos L, Soares FP, Choi IGG, Cortes ARG. Full digital workflow for crown lengthening by using a single surgical guide. J Prosthet Dent 2019;124(3):257-61.
3. Garber DA, Salama MA. The aesthetic smile: diagnosis and treatment. Periodontol 2000 1996;11:18-28.
4. Tjan AH, Miller GD, The JG. Some esthetic factors in a smile. J Prosthet Dent 1984;51(1):24-8.
5. Blitz N. Criteria for success in creating beautiful smiles. Oral Health 1997;87(12):38-42.
6. Levine RA, McGuire M. The diagnosis and treatment of the gummy smile. Compend Contin Educ Dent 1997;18(8):757-62.
7. Liu X, Yu J, Zhou J, Tan J. A digitally guided dual technique for both gingival and bone resection during crown lengthening surgery. J Prosthet Dent 2018;119(3):345-9.
8. Joly JC, de Carvalho PFM, da Silva RC. Perio-Implantodontia Estética (1a ed.). São Paulo: Quintessence Editora, 2015.
Coordenação:
Julio Cesar Joly
Mestre e doutor em Periodontia – FOP-Unicamp; Coordenador dos mestrados em Implantodontia e Periodontia – SLMandic; Coordenador do Instituto ImplantePerio.
Paulo Fernando Mesquita de Carvalho
Mestre em Periodontia – SLMandic; Coordenador do Instituto ImplantePerio.
Robert Carvalho da Silva
Mestre e doutor em Periodontia – FOP/Unicamp; Coordenador do Instituto ImplantePerio.
Autor convidado:
Guilherme Paes de Barros Carrilho
Mestre em Implantodontia – Unisa; Especialista em Implantodontia – HRAC/USP; Especialista em Periodontia – Aorp; Professor – Instituto ImplantePerio.