Diogo Viegas e convidados destacam um software de CAM, que permite a produção das peças sem que seja necessário um conhecimento aprofundado sobre as estratégias de fresagem.
Tanto o mercado europeu como o brasileiro dispõem atualmente de uma grande variedade de softwares e equipamentos com a tecnologia CAD/CAM voltados para a Reabilitação Oral. Existem várias empresas dedicadas ao desenvolvimento de sistemas para o fluxo digital na Odontologia, que vão desde os equipamentos de aquisição de imagem (scanners intraorais e extraorais), softwares de planejamento e desenho, e, por fim, produção (fresagem de próteses ou impressão 3D de guias e modelos), dentre elas a ZirkohnZahn (ZirkohnZahn GmbH – Bruneck, Itália)1.
Nestes sistemas integrados, depois de desenhar em CAD os dispositivos, utiliza-se um software de CAM, denominado Nesting, para calcular os arquivos necessários para a fresagem2. Ele permite a produção das peças sem que seja necessário um conhecimento aprofundado sobre as estratégias de fresagem. Depois que o profissional coloca as peças desenhadas no bloco selecionado, é necessário apenas escolher uma entre três opções de fresagem: fast (F), quality (Q) ou high quality (HQ).
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Quando optamos pelo cálculo de uma estratégia de fresagem rápida (F), verificamos que esta utiliza um menor número de brocas, o que torna o processo de produção da peça mais ágil, implicando em pior qualidade de reprodução de superfície externa quando comparado às demais opções do sistema. De acordo com um estudo realizado na Universidade de Nova York3, verificou-se que, utilizando uma estratégia de fresagem de alta qualidade (HQ), são utilizadas brocas de diâmetro mais fino, de 0,5 mm e 0,3 mm, criando assim ângulos mais acentuados (~35°) nas zonas críticas dos conectores e fissuras oclusais (Figura 4), em comparação a ângulos menos agudos (~55°) nas estratégias de fresagem intermediária (Q) e rápida (F), Figuras 2 e 3. Verificou-se ainda que a reprodução destes ângulos mais acentuados afeta diretamente a resistência das restaurações produzidas em zircônia monolítica. A estratégia rápida (F) revelou os maiores valores de resistência à fatura, e a estratégia de alta qualidade (HQ) revelou os valores mais baixos.
No dia a dia do laboratório, muitas vezes nos deparamos com espaços de reabilitação muito reduzidos, o que nos faz levar estes novos materiais a espessuras muito inferiores às recomendadas pelos fabricantes e pela literatura4. Tendo em conta estes fatos, em situações extremas de espaço de reabilitação reduzido, uma opção é adotar uma estratégia de fresagem rápida (F) ou intermediária (Q), a não reproduzir ângulos demasiado acentuados, aumentando assim a resistência da peça de zircônia à fratura. Desta forma, o profissional assume um compromisso entre a reprodução da morfologia oclusal, secundária e a resistência, de modo a potenciar ao máximo a resistência das peças produzidas.
Referências
1. Al Hamad KQ, Al-Rashdan RB, Al-Rashdan BA, Baba NZ. Effect of milling protocols on trueness and precision of ceramic crowns. J Prosthodont 2021;30(2):171-6.
2. Duqum IS, Brenes C, Mendonca G, Carneiro TAPN, Cooper LF. Marginal fit evaluation of CAD/CAM all ceramic crowns obtained by two digital workflows: an in vitro study using micro-ct technology. J Prosthodont 2019;28(9):1037-43.
3. Effect of milling strategies on fracture resistance of monolithic zirconia fixed-dental-prosthesis connector design. AADR/CADR Annual Meeting 2018.
4. Nakamura K, Harada A, Inagaki R, Kanno T, Niwano Y, Milleding P et al. Fracture resistance of monolithic zirconia molar crowns with reduced thickness. Acta Odontol Scand 2015;73(8):602-8.
Coordenação da coluna:
Diogo Miguel da Costa Cabecinha Pacheco Viegas
Pós-graduado e técnico em Prótese Dentária, doutorando em Ciências da Reabilitação Oral e professor assistente convidado de Prótese Fixa e Reabilitação Oral – Faculdade de Medicina dentária da Universidade de Lisboa (FMDUL), em Portugal.
Orcid: 0000-0002-6545-7875.
Autores convidados:
João Pedro Antunes Rodrigues Fernandes
Técnico em prótese dentária pela Escola Superior de Saúde Egas Moniz (Portugal); Professor na pós-graduação em Reabilitação Oral Avançada da Biomimetic Dentistry Portugal.
João Carlos da Silva Roque
Doutor em Ciências e Tecnologias da Saúde na área de Prótese Dentária – Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa, em Portugal; Licenciado em Ciências da Educação na área de Saúde – Ferris State University, EUA; Mestre em Pedagogia no Ensino Superior – Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, em Portugal.
João Tiago Mourão
Professor associado e coordenador das disciplinas de Prostodontia Fixa I e Reabilitação Oral II do curso de mestrado integrado em Medicina Dentária e da pós-graduação do curso de especialização em Prostodontia – Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa (FMDUL), em Portugal.