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O inferno são os outros

Editorial traz reflexão útil não apenas para política, mas também para conflitos em casa, no trabalho, nos estudos, no condomínio e em qualquer outro grupo que você faça parte.

Foi em 1945 que o escritor e filósofo Jean-Paul Sartre apresentou ao mundo uma de suas mais inspiradoras frases: “O inferno são os outros”. A afirmação consta em uma peça de teatro assinada pelo francês em que três personagens eram condenados a passar a eternidade no inferno, fazendo companhia uns aos outros. A tortura consistia unicamente em forçá-los a conviver entre si, mediante suas diferenças de interesse, opinião e visão de mundo. Assim, sem fazer nenhum esforço, cada personagem transformava-se no carrasco dos demais colegas.

Consegue reconhecer alguma semelhança com o país em que vivemos? Lidar com opiniões diferentes faz parte da experiência de viver em sociedade. No entanto, devemos reconhecer que essa escalada de conflitos e enfrentamentos por conta de desavenças políticas não está, efetivamente, nos levando a um lugar melhor. Contrapor opiniões é bem diferente de querer apertar o pescoço do coleguinha.

Hoje, todas as discussões giram em torno da gravíssima crise desencadeada pelo coronavírus – e todas as suas consequências sanitárias, econômicas, sociais e políticas. No entanto, sejamos francos, já tínhamos vários outros problemas muito antes mesmo da pandemia começar. Entre os mais graves deles, provavelmente, está a desunião e o clima de revanchismo infinito que envenena nossas redes sociais.

Entre ideias conservadoras demais e progressivas demais, devemos encontrar um caminho do meio que nos faça voltar a jogar novamente no mesmo time, sem que um grupo tente destruir e sabotar o trabalho do outro. E não estamos falando só de política. Essa reflexão também vale para seus conflitos em casa, no trabalho, nos estudos, no condomínio e em qualquer outro grupo que você faça parte.

Aprender a conviver com o diferente não significa viver em eterna harmonia. Isso, provavelmente, não existe. Trata-se apenas de um chamado à racionalidade: se não podemos trabalhar juntos, morreremos sozinhos. A visão de Sartre, de fato, parece bastante desanimadora. Olhando a sociedade caótica e complexa que nos cerca, fica fácil reconhecer que estamos sendo torturados pela convivência alheia desde que nascemos.

No entanto, o conflito e a contraposição de ideias é essencial para que possamos reconhecer nossa própria identidade. Ou seja, quando discordamos, estamos provando que não somos meras cópias uns dos outros. É a prova de que somos, de certa forma, seres únicos, o que também se constitui em uma das razões que nos fazem sermos felizes. Portanto, que seja bem-vinda a diferença! Ou você discorda?