As mutações do vírus Sars-CoV-2 nos mostraram que devemos continuar atentos à Covid-19. Saiba por que a variante Delta merece ainda mais cuidado.
No final de 2020, com o surgimento de variantes do Sars-CoV-2 que representavam um risco maior para a saúde pública global, os pesquisadores passaram a acompanhar com maior atenção as chamadas variantes de interesse (VOI) e variantes de preocupação (VOC) do vírus.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e suas redes internacionais de especialistas estão monitorando as mudanças no vírus para que, se substituições significativas de aminoácidos forem identificadas, possam informar os países e o público sobre quaisquer mudanças que possam ser necessárias para responder à variante e prevenir sua disseminação. Globalmente, os sistemas foram estabelecidos e estão sendo fortalecidos para detectar sinais de potenciais VOIs ou VOCs, e avaliá-los com base no risco apresentado à saúde pública global.
Para auxiliar nas discussões públicas e na emissão de alertas, a OMS recomendou a utilização de nomes mais fáceis de pronunciar e que não representassem um estigma para uma determinada região em que a cepa foi identificada pela primeira vez. Dessa forma, passou-se a utilizar as letras do alfabeto grego para denominar as diferentes variantes (Quadro 1).
Variante Delta
Identificada pela primeira vez na Índia, em outubro de 2020, a mutação do vírus SARS-CoV-2, conhecida como variante Delta (B.1 617.2), é considerada uma variante preocupante, por ser mais transmissível do que as anteriores, o que a torna mais contagiosa do que as cepas identificadas anteriormente.
Sua rápida disseminação, em tempos de flexibilização das medidas de isolamento social em muitos países e no Brasil, chama a atenção dos pesquisadores em um momento em que os avanços para controlar a pandemia começavam a ser observados a partir dos aumentos nas porcentagens de cidadãos vacinados. Em agosto de 2021, a variante Delta já correspondia a 69,7% das amostras analisadas na cidade de São Paulo.
Para efeito comparativo, para cada pessoa portadora da variante Alfa, três outros indivíduos eram contaminados. Com a variante Delta, estima-se que seis ou mais indivíduos sejam contaminados. Já existem trabalhos que mostram que a Delta é mais transmissível do que a própria varicela.
Quando a variante Delta está circulando, indivíduos não vacinados possuem chance cinco vezes maior de se infectarem pela Covid-19 do que indivíduos completamente vacinados, e uma chance 29 vezes maior de hospitalização pelas complicações da Covid-19. Ainda, indivíduos não vacinados possuem risco aumentado de desenvolver doença grave e de evoluir para a morte pela variante Delta, enquanto que em indivíduos vacinados a variante Delta não representa um risco maior de se desenvolver. (Fonte: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019- ncov/variants/delta-variant.html)
Tudo isso torna a Delta uma variante de especial preocupação. E nós, como profissionais de saúde, devemos estar atentos aos seus sintomas, riscos e impactos.
Sintomas da variante Delta
São semelhantes aos sintomas de todas as variantes que existem hoje e, na maioria das vezes, são quadros de resfriado comum. Mas também podem apresentar sintomas da síndrome respiratória aguda grave, podendo passar para uma vasta gama de sinais, como coriza, tosse, dor de garganta, obstrução nasal, dor de cabeça, falta de apetite, diarreia, vômitos, dor abdominal e manchas na pele, o que torna clinicamente impossível distinguir uma variante da outra. Porém, alguns estudos têm destacado que a variante Delta geralmente não manifesta os sintomas comuns da Covid-19, como alterações no olfato e paladar. Lembrando também que muitas pessoas não apresentam sintomas, mas mesmo sendo assintomáticas transmitem o vírus, inclusive os vacinados também transmitem com cargas virais elevadas.
Efetividade das vacinas atuais
Ainda não existe uma vacina disponível e aprovada pelos órgãos reguladores que tenha sido desenvolvida especificamente para proteção contra a variante Delta, pois as vacinas que temos hoje foram criadas para nos proteger da cepa inicial. Porém, elas podem ser efetivas para combater formas graves da Covid-19. Em relação à variante Delta, as vacinas continuam mantendo um bom perfil de segurança na diminuição de hospitalizações e internações em terapia intensiva.
Alternativas de enfrentamento
São as mesmas das outras variantes: higienização de mãos, uso de máscaras adequadas, distanciamento social (quanto maior a distância, maior a proteção, principalmente frente às cepas de alta transmissibilidade, como a variante Delta), evitar aglomerações e realizar a vacinação em massa. No ambiente odontológico, os cuidados com a biossegurança permanecem os mesmos, com o uso adequado dos EPIs, principalmente o uso dos respiradores PFF-2/N95.
Para muitos pesquisadores, a ação mais adequada seria voltar às medidas de distanciamento social com redução do afrouxamento de movimentação das pessoas. O momento mais apropriado para interromper a flexibilização, no entanto, depende dos indicadores locais. Deve ser analisado o número de casos, juntamente com o aumento na taxa de ocupação de leitos hospitalares, terapias intensivas e de óbitos, para intensificar as medidas de isolamento social.
Novas variantes
O vírus pode achar um hospedeiro que não é imune ou que não teve a doença. Isso pode ocorrer por vários motivos, como: não foi vacinado; foi vacinado e não tomou a segunda dose; ou não tem 15 dias da imunização completa, quando a vacina for de duas doses. A consequência em um cenário de baixa cobertura vacinal e a presença de um grande número de pessoas é que o vírus pode sofrer uma mutação e se transformar em uma variante com maior transmissibilidade e/ou maior virulência. A conjunção desses fatores é o que mais preocupa a comunidade científica.
Vale ressaltar a importância de que exista uma equidade vacinal, pois novas variantes poderão ser disseminadas pelo mundo, como está acontecendo com a Delta, a partir da reabertura das fronteiras. Diante deste contexto, também é indispensável reforçar que o fim da pandemia só vai acontecer quando a maior parte da população elegível estiver vacinada, o que vai diminuir a circulação viral e, provavelmente, extinguir esse vírus e suas variantes.
Em homenagem ao meu pai e colega de profissão, Angelo Fernandes Montalli, que perdeu a vida para essa terrível doença (⋆21/9/1955 †16/5/2021).
Victor Montalli
Doutor em Ciências Médicas, área de concentração em Patologia – Mestre e pós-doutorado em Patologia bucal, e professor dos cursos de graduação e pós-graduação – SLMandic.