Em entrevista, o húngaro Attila Bodrogi explica o que é biohacking e como esse conceito pode ser aplicado na Odontologia.
O húngaro Attila Bodrogi é um dos expoentes da nova geração da Odontologia. Especialista em Odontologia Estética e mestre em Implantodontia pela Universidade da Califórnia (Estados Unidos), Bodrogi estuda o biohacking, conceito contemporâneo fundamentado em hackear o corpo para encontrar formas de otimizar seu funcionamento.
O húngaro também é adepto da terapia de extração parcial, técnica que foi abordada em detalhes na entrevista conduzida por Franco Vilela, ceramista e doutor em Clínica Odontológica pela Universidade Federal de Uberlândia. A seguir, confira como foi esse bate-papo.
Franco Vilela – O que é biohacking e como pode ser aplicado na Odontologia?
Attila Bodrogi – O termo biohacking vem da ciência do esporte. Resumidamente, significa que podemos controlar a biologia e a performance de uma pessoa a partir de alterações no corpo humano. A princípio, parece não existir ligação entre Implantodontia e esse termo. Mas, com a ciência do esporte compreendemos que, para atingir alta performance, como os atletas profissionais, é preciso tentar novas maneiras de praticar e de treinar. Isso pode envolver nutrição e alguns tipos de tratamentos. Aplicando à Odontologia, trata-se de algumas abordagens que podemos realizar com os pacientes em busca de uma melhor, mais rápida e até mesmo completa recuperação. O que é benéfico para o paciente, pois resulta em tratamentos menos invasivos e de menor tempo.
FV – Outro tema que você aborda é o conceito PET, ou seja, terapia de extração parcial. Fale sobre ele.
AB – Esse não é um conceito novo. O primeiro artigo sobre o assunto foi publicado por Hurzeler em 2010, mas o conceito de terapia de extração parcial ou técnica socket shield se espalhou pelo mundo nos últimos dois ou três anos. É interessante porque o profissional que entende o comportamento biológico do corpo humano, principalmente em casos de extração, e busca compreender o conceito da terapia de extração parcial fica imediatamente interessado e reconhece os benefícios deste procedimento – já que se trata de preservação do tecido. Todos nós, da Odontologia, sabemos que após uma extração sempre há algum tipo de recessão e perda óssea, principalmente nos dentes anteriores, maxilares e mandibulares, pois temos placas corticais muito finas e frágeis diante da raiz e, se as removermos, a placa é destruída.
Antigamente, colocávamos o implante imediatamente no local da extração, mas a terapia de extração parcial mudou essa visão. Ao deixar um pequeno fragmento da raiz que estiver ligada por ligamentos periodontais à placa cortical, será possível suportar o dano à placa cortical e colocar o implante. É o mesmo procedimento em casos imediatos, apenas deixando um pequeno fragmento. Quando o sangue circular no ligamento periodontal que sustenta a placa cortical, ela resistirá por muito tempo.
FV – Em relação aos pilares, qual tem sido a sua preferência?
AB – Esta é minha principal área de interesse porque eu vim da Prótese Dentária. Um protesista instala o implante e o restaura conforme o conceito de previsibilidade a longo prazo. Quando eu coloco um implante, é fundamental planejar a posição adequada para que seja possível restaurá-lo. A prótese deve ser sempre parafusada, não gosto de lidar com coroas cimentadas porque há o desafio do cimento remanescente ao redor do arco – que pode causar peri-implantite e provocar a perda do implante. A minha abordagem é posicionar o implante de modo que facilite restaurá-lo com a ajuda do parafuso.
FV – Você tem utilizado workflow digital em seus casos de implante, na etapa cirúrgica ou protética?
AB – Antes usávamos o planejamento digital para a parte restauradora, mas hoje podemos reunir mais informações com os dados da tomografia computadorizada e fabricar stents digitalmente, o que é mais confiável e preciso do que a colocação do implante por método convencional. Outro benefício é que, ao posicionar o implante no local determinado digitalmente, será possível temporalizar ou mesmo aplicar carga imediata e otimizar o tempo cirúrgico para o paciente.
FV – Você prefere o processo analógico ou digital?
AB – Eu me formei em 1992, minha curva de aprendizado começou no modo analógico e confesso que há pouco tempo comprei meu primeiro scanner digital intraoral. Ainda estou no processo de aprendizado, mas tenho certeza de que podemos aprender muito rápido trabalhando em parceria com os laboratórios. Também tenho novos colegas no consultório que podem ajudar a usar os programas para alcançar o melhor resultado para os pacientes.
FV – Qual a sua opinião sobre o uso da zircônia monolítica?
AB – Tenho algumas preocupações estéticas. Em restauração de um único dente, principalmente na zona anterior, eu não optaria por zircônia monolítica. Porém, essa é uma boa solução para restauração de arcadas completas suportadas por implantes. Outro problema é a funcionalidade e o movimento da temporomandibular. Se a restauração estiver coberta com porcelana, o ajuste pode ser feito mais facilmente do que no caso de uma arcada completa com zircônia monolítica, que é um material muito rígido. É preciso se preparar antecipadamente para atingir a funcionalidade ideal.