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Zircônia e suas definições

Renata Marques de Melo ajuda a entender diferenças e semelhanças dos tipos de zircônia para melhor selecionar o material para cada situação clínica.

A alta resistência e tenacidade à fratura da zircônia distinguem-na, e muito, das vitrocerâmicas ou porcelanas. É tão diferente que a alcunha “análoga ao aço” levou muitos a acreditarem que, em se tratando de comportamento mecânico, as zircônias respondem da mesma maneira que os metais. Com frequência, os instrumentos e os procedimentos de desgaste dos metais são usados também para as zircônias.

De fato, as 3Y-TZPs (stabilized tetragonal zirconia polycrystal) que formam as zircônias de primeira e segunda geração possuem resistência em torno de 1.200 MPa. Constituída de dióxido de zircônio adicionado de ítrio, alumínio e háfnio, a 3Y-TZP é parcialmente estabilizada, isto é, os cristais que a formam são majoritariamente tetragonais, mas, frente a um estímulo, podem mudar para a fase monoclínica. Os grãos monoclínicos são mais volumosos e comprimem a ponta da trinca, que é impedida de se propagar dentro do material. O óxido de ítrio (~3% em mol) estabiliza o material na fase tetragonal, conferindo-lhe alta resistência. A despeito disso, a zircônia é considerada uma cerâmica e é passível de fratura1, mesmo que isso seja um evento raro (Figura 1).

A ideia de que a zircônia é praticamente inquebrável é, portanto, digna de reflexão, uma vez que novas zircônias entraram no mercado com outras propriedades e limitações. Uma visão mais atualizada que considere a oposição entre resistência versus translucidez precisa ser assimilada pelos laboratórios e clínicos, pois os materiais recentes denominados “zircônias de terceira geração” têm cerca da metade da resistência das 3Y-TZPs2.

Dessa forma, como resultado do aumento da porcentagem em mols de ítria (~ 4-6% em mol), as 4Y-TZP e 5-TZP (terceira geração) são menos resistentes do que a 3Y-TZP (primeira e segunda gerações). Com menor quantidade de fase tetragonal (~20%) e aumento significativo de fase cúbica, mesmo que ainda sejam consideradas parcialmente estáveis (PSZ), a transformação fase nas zircônias translúcidas não parece conter a propagação da trinca como nas 3Y-TZPs. A degradação em baixa temperatura também não altera as propriedades dessas zircônias3.

Além do impacto das mudanças de composição na resistência, existem aqueles resultantes dos procedimentos laboratoriais e clínicos. Por exemplo, se por um lado o jateamento com óxido de alumínio aumenta a resistência da 3Y-TZP, pelo outro, diminui a capacidade de resistir às cargas da 4Y-TZP e 5-YTZP4. Outros processos, como pintura extrínseca, protocolos rápidos de sinterização, polimento, entre outros, para os quais ainda não há orientações clínicas definidas, precisam ser melhor estudados e determinados1.

As mudanças de composição da 3Y-TZP, por sua vez, foram motivadas pelo aumento da translucidez. O aspecto branco e opaco da zircônia de primeira geração foi substituído pela translucidez das zircônias novas, que continuam sendo menos translúcidas do que as vitrocerâmicas (ex. dissilicato de lítio). Assim, tanto a translucidez como a resistência dos materiais de terceira geração são intermediárias, entre os da 3Y-TZP e os das vitrocerâmicas, ocupando um nicho de indicações que ainda não havia sido preenchido. Clinicamente, as zircônias de terceira geração podem ser usadas como restaurações monolíticas anteriores ou posteriores se não houver grande exigência de translucidez. Também é preciso considerar que a adesão a qualquer zircônia é limitada quando comparada às cerâmicas vítreas, portanto deveria ser evitada em restaurações minimamente invasivas5.

Em suma, as diferenças e semelhanças entre as zircônias – 3Y-TZP, 4Y-TZP ou 5Y-TZP, PSZ, primeira, segunda ou terceira gerações – são mais do que uma questão semântica (Figura 1). Entender as diferenças para melhor selecionar o material para cada situação clínica é fundamental.

Referências

  1. Monaco C, Llukacej A, Baldissara P, Arena A, Scotti R. Zirconia-based versus metal-based single crowns veneered with overpressing ceramic for restoration of posterior endodontically treated teeth: 5-year results of a randomized controlled clinical study. J Dent 2017;65:56-63.
  2. Zhang F, Reveron H, Spies BC, Meerbeek BV, Chevalier J. Trade-off between fracture resistance and translucency of zirconia and lithium-disilicate glass ceramics for monolithic restorations. Acta Biomater 2019;91:24-34.
  3. Disponível em <https://www.aegisdentalnetwork.com/cced/special-issues/2018/10/zirconia-the-material-its-evolution-and-composition>.
  4. Sulaiman TA, Abdulmajeed AA, Shahramian K, Lassila L. Effect of different treatments on the flexural strength of fully versus partially stabilized monolithic zirconia. J Prosthet Dent 2017;118(2):216-20.
  5. Zhang Y, Lawn BR. Novel zirconia materials in Dentistry. J Dent Res 2018;97(2):140-7.