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Tratamento não cirúrgico da retração gengival

Guaracilei Maciel Vidigal Júnior e Daniela Britto apresentam dois casos clínicos em que a retração gengival é tratada sem intervenção cirúrgica.

A retração gengival tem origem multifatorial. Porém, sua simples presença não é indicação de tratamento cirúrgico, frequentemente realizado através de técnicas de enxerto gengival livre ou enxerto de tecido conjuntivo. O diagnóstico da causa da retração é, na maioria das vezes, mais importante para o sucesso da cirurgia do que a simples avaliação pela classificação de Miller, que estabeleceu percentuais de recobrimento radicular de acordo com as características dos tecidos periodontais (altura das papilas e do osso interdental, e se a retração ultrapassa ou não a linha mucogengival).

Em meu consultório, recebo um número considerável de pacientes que se submeteram à cirurgia de enxerto de tecido conjuntivo ou gengival para recobrimento das raízes e que não conseguiram nem 1 mm de recobrimento. Em quase todos os casos houve falha no diagnóstico da causa da retração, especialmente na região anterior da mandíbula. Nesta área, os tecidos periodontais são mais finos e, quando as raízes são projetadas para vestibular (Figura 1), pode ocorrer retração gengival. Mais ainda: os casos de raízes projetadas para vestibular não são passíveis de cobertura radicular através das técnicas de enxerto gengival/tecido conjuntivo. Esta projeção da raiz para vestibular, após a erupção dos dentes, pode ocorrer frequentemente por três causas: 1) no movimento protusivo, quando há interferência em um dos incisivos inferiores (Figura 1) e a raiz se desloca para vestibular (Figura 2); 2) no tratamento compensatório de vestibularização de corpo de incisivos inferiores nos pacientes Classe II de Angle, bem como nos pacientes Classe III pela retroinclinação das coroas destes dentes, que tendem a vestibularizar as raízes; 3) na presença de barras fixas de contenção (principalmente as com loops), que podem sofrer pressão e empurrar alguma raiz para vestibular.

CASO CLÍNICO 1

Quando a retração gengival está associada à interferência no movimento protusivo, torna-se imperativo o ajuste oclusal para eliminar a interferência e, muitas vezes, também é necessário realizar uma contenção para evitar a extrusão do dente ajustado. Dependendo do grau de projeção vestibular da raiz deste dente, antes da cirurgia de enxerto gengival/tecido conjuntivo, deve-se movimentar ortodonticamente a raiz do dente para lingual, tornando o prognóstico mais favorável. Nos casos de raízes projetadas para vestibular (Figuras 3 e 4), a intervenção ortodôntica é fundamental para o sucesso do tratamento, devendo ser executada antes das cirurgias de enxerto gengival/tecido conjuntivo. O tratamento do caso clínico 2 (Figura 5), realizado pela ortodontista Daniela Britto, aplica movimento de torque no dente 31 e desloca a raiz para lingual. A Figura 6 ilustra o resultado da técnica.

Nestes casos, o exame tomográfico é importante tanto na fase de diagnóstico quanto na etapa final do tratamento, para confirmar a posição axial adequada da raiz. Nos casos de retração, devemos ficar atentos sempre que houver história de movimentação ortodôntica na região dos incisivos inferiores, em casos de compensação para vestibular ou lingual.

Depois que as raízes chegarem às suas posições corretas dentro do envelope ósseo, as regras para recobrimento radicular (total ou parcial) propostas por Miller voltam a ser aplicáveis. As cirurgias de enxerto gengival/tecido conjuntivo não devolverão aos pacientes a tábua óssea vestibular perdida. As cirurgias devolverão o tecido gengival rico em fibras colágenas densas e um epitélio queratinizado, mecanicamente mais resistente aos desafios mecânicos diários (atrito dos alimentos e das cerdas das escovas), quando comparados às margens gengivais em mucosa alveolar (com predominância de fibras elásticas e epitélio não queratinizado). Para a manutenção (estabilização das margens gengivais) em longo prazo destes pacientes, uma boa higiene oral com ótimo controle de placa é fundamental, pois evita a inflamação causada pelo biofilme bacteriano, que levaria à perda de inserção e progressão da retração gengival. 

CASO CLÍNICO 2

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Referência

  1. Miller Jr. PD. A classification of marginal tissue recession. Int J Periodontics Restorative Dent 1985;5(2):9-13.