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Deve-se recobrir cirurgicamente toda recessão gengival?

Marco Bianchini debate o que uma avaliação inicial rigorosa deve levar em consideração para prosseguir ou não com qualquer tipo de cirurgia em recessão gengival.

A recessão gengival é definida como o deslocamento da margem gengival para apical da junção cemento/esmalte, caracterizada pela perda de suporte periodontal1. Os fatores associados a essa condição são: mau posicionamento dos dentes, escovação traumática, placa bacteriana, inserção muscular, freios ou bridas próximos à margem gengival e fatores iatrogênicos relacionados a tratamentos restauradores, periodontais e ortodônticos1-3.

As indicações para realizar recobrimento radicular incluem estética, sensibilidade radicular, prevenção de cárie radicular e controle da evolução de recessões existentes, bem como a promoção da estabilidade da margem gengival1. O resultado final de uma cirurgia de recobrimento radicular deve satisfazer todas estas questões, além de resolver o problema estético, se existir.

A literatura é bastante extensa na indicação de diversas técnicas cirúrgicas que visam tratar as recessões gengivais. Dentre todas as técnicas, as mais conhecidas e consagradas são os enxertos autógenos combinados de gengiva livre e de tecido conjuntivo (Figuras 1 a 5). Contudo, vale lembrar que a ocorrência da recessão gengival está associada à sua causa. Desta forma, a remoção dos diversos problemas clínicos que podem causar uma recessão apresenta um desafio quanto à escolha correta da intervenção cirúrgica para tratá-la.

Diante de tantas opções terapêuticas, poucos clínicos se arriscam a não tratar algumas recessões que parecem não evoluir em longo prazo. Alguns autores4 já demonstraram que pacientes altamente motivados e que realizam um controle de placa adequado podem prevenir o desenvolvimento ou a progressão da recessão gengival e inflamação por mais de 20 anos, mesmo sem tratamento. Além disso, a maioria dos estudos publicados sobre este tópico não abordou a satisfação dos pacientes quanto aos resultados finais obtidos5. Assim, uma questão básica a ser respondida é: o que ocorre se alguns tipos de recessão gengival não forem tratados?

Embora alguns autores4-5 afirmem que, na visão dos dentistas, a estética é responsável por 90,7% da justificativa para procedimentos de recobrimento radicular, como forma de tratar as recessões gengivais, a percepção dos pacientes parece não ser a mesma. Assim, mesmo sabendo que o tratamento cirúrgico de algumas recessões gengivais é altamente previsível (Figuras 1 a 5), uma avaliação cuidadosa deve ser feita para identificar se ele é realmente necessário. Esta avaliação deve levar em consideração as aspirações do paciente antes da decisão sobre prosseguir ou não com qualquer tipo de cirurgia5.

Referências

  1. Cortellini P, Bissada NF. Mucogingival conditions in the natural dentition: narrative review, case definitions, and diagnostic considerations. J Clin Periodontol 2018;45(suppl.20):190-8.
  2. Stefanini M, Marzadori M, Aroca S, Felice P, Sangiorgi M, Zucchelli G. Decision making in root-coverage procedures for the esthetic outcome. Periodontol 2000 2018;77(1):54-64.
  3. Cairo F. Periodontal plastic surgery of gingival recessions at single and multiple teeth. Periodontol 2000 2017;75(1):296-316.
  4. Agudio G, Cortellini P, Buti J, Pini Prato GP. Periodontal conditions of sites treated with gingival‐augmentation surgery compared to untreated contralateral homologous sites: a 18 to 35‐year long‐term study. J Periodontol 2016;87(12):1371-8.
  5. Nieri M, Pini Prato GP, Giani M, Magnani N, Pagliaro U, Rotundo R. Patient perceptions of buccal gingival recessions and requests for treatment. J Clin Periodontol 2013;40(7):707-12.