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(Imagem: Envato Elements)

Varíola dos macacos: o que os dentistas precisam saber

Victor Montalli detalha o contágio, os perigos e as informações importantes para os cirurgiões-dentistas sobre a varíola dos macacos. 

A varíola dos macacos foi descoberta em 1958, em uma colônia de macacos que viviam em um laboratório na Dinamarca. A primeira infecção em humanos foi diagnosticada em 1970, no Congo – país que até hoje concentra o maior número de casos da doença. Porém, trata-se de uma zoonose, ou seja, ela passa dos animais para o ser humano e, apesar do nome, a teoria mais bem aceita é a de que os roedores são os principais vetores da doença. O contágio ocorre mais facilmente no contato com o animal doente, por meio de mordidas, secreções ou ingestão de carne contaminada.

Recentemente, o surgimento da varíola dos macacos em diversos países acendeu uma preocupação entre especialistas e entre a população, que passou a se preocupar com a transmissão, os sintomas e a severidade da doença. Até o dia 27 de maio, mais de 400 casos foram confirmados em cerca de 21 países. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a principal via de transmissão é o contato próximo com alguém infectado, por meio de gotículas respiratórias e fluidos corporais. Segundo especialistas, ainda é cedo para fazer afirmações precisas sobre a disseminação, a letalidade e os possíveis rumos do patógeno, no entanto o número de casos detectados fora do continente africano nos últimos dias já ultrapassou o acumulado dos últimos 50 anos.

Algumas teorias estão em estudo para tentar explicar este aumento abrupto. Uma postula que a população está mais suscetível agora, já que praticamente todos os menores de 50 anos não foram vacinados para a varíola humana, que garantia proteção cruzada no passado. Há de se destacar ainda que é normal que doenças emergentes surjam. Nas últimas décadas, a circulação de pessoas entre países cresceu consideravelmente, o que facilitou o espalhamento de agentes infecciosos. Além disso, com a pandemia, as autoridades passaram a monitorar novas infecções com mais atenção. Portanto, qualquer novo surto ganha mais visibilidade, inclusive da mídia.

Apesar do cenário novo, a varíola dos macacos é conhecida e monitorada há décadas. Ela é uma parente mais branda da varíola humana. A maior parte dos infectados tem um quadro inicial com mal-estar, dor de cabeça, dor no corpo e febre. Alguns dias depois, aparecem as lesões na pele. Nesta fase, pode ocorrer inchaço dos linfonodos localizados no pescoço, axilas e virilha. As feridas, em geral, começam vermelhas e planas, depois viram pústulas e, por fim, cicatrizam. É na fase purulenta que a transmissão é maior. A maioria dos casos se resolve em poucas semanas. No entanto, ela pode ser fatal para indivíduos com comprometimentos no sistema imune, como idosos e portadores de doenças crônicas.

O vírus monkeypox é mais estável e menos transmissível do que o SARS-CoV-2, por exemplo. É um vírus feito de DNA, molécula mais estável e complexa que o RNA, principal componente genético do coronavírus. É claro que os patógenos de DNA também sofrem mutações, mas são mais discretas e menos frequentes. Além disso, por ser mais pesado e maior, o vírus da varíola do macaco parece não conseguir ficar tanto tempo suspenso no ar ou viajar em partículas menores, como as gotículas e aerossóis nos quais o SARS-Cov-2 permanece viável por um longo período de tempo. Ou seja, sua capacidade de se disseminar seria menor por essa via.

Considerando tudo isso, a chegada da doença ao Brasil parece uma questão de tempo, embora não seja possível prever quando e com qual intensidade. Mas, isso não deve ser motivo para pânico. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sugere o uso de máscaras e reforço no distanciamento para adiar a chegada do patógeno e seu possível espalhamento. Além disso, a higienização das mãos com água e sabão ou álcool em gel são medidas indicadas para evitar a exposição ao vírus.

Dessa forma, considerando o conhecimento adquirido com a Covid-19, pode-se especular que o risco de contaminação em ambiente odontológico em um provável surto da doença é baixo, desde que as medidas de biossegurança sejam mantidas.

Referências

  1. Huhn GD, Bauer AM, Yorita K, Graham MB, Sejvar J, Likos A et al. Clinical characteristics of human monkeypox, and risk factors for severe disease. Clin Infect Dis 2005;41(12):1742-51.
  2. Reynolds MG, McCollum AM, Nguete B, Shongo Lushima R, Petersen BW. Improving the care and treatment of monkeypox patients in low-resource settings: applying evidence from contemporary biomedical and smallpox biodefense research. Viruses 2017;9(12):380.
  3. Diaz JH. The disease ecology, epidemiology, clinical manifestations, management, prevention, and control of increasing human infections with animal orthopoxviruses. Wilderness Environ Med 2021;32(4):528-36.
  4. Monkeypox. Centers for Disease Control and Prevention, U.S. Department of Health & Human Services [On-line]. Disponível em <https://www.cdc.gov/poxvirus/monkeypox/index.html>. Acesso em: 31-5-2022.