Victor Montalli e João Vitor Maldonado trazem algumas novidades sobre biossegurança na Odontologia.

As clínicas odontológicas são ambientes com risco potencial de contaminação cruzada, levando em conta a grande quantidade de gotículas e bioaerossóis produzidos durante os atendimentos de rotina. Bioaerossol refere-se aos aerossóis biológicos dispersos na atmosfera e formados de partículas bióticas ou abióticas. A composição da microbiota dos bioaerossóis é variável, dinâmica e relativa às origens de seus componentes, bem como à temperatura e à umidade do meio no qual estão suspensos.

Os bioaerossóis, assim como as gotículas, constituem importantes meios de transmissão de patógenos, e o impacto dessas partículas em ambientes odontológicos merece especial atenção. Por exemplo, o coronavírus possui alto poder de contágio e utiliza a rota aérea como uma das vias para transmissão, o que evidencia a importância de garantir a qualidade do ar em ambientes odontológicos no momento em que uma pandemia mundial ainda está em curso.

Algumas empresas brasileiras do ramo de ultrassom têm investido em inovações, com o intuito de diminuir a dispersão de bioaerossóis no ambiente odontológico. Na coluna da edição passada, apresentei o estudo do SprayControl, uma pesquisa desenvolvida pela parceria entre a Faculdade São Leopoldo Mandic e a CVDentus. Já a empresa Helse, com o objetivo de oferecer à comunidade odontológica uma alternativa para tratamentos com menor geração de bioaerossóis, criou a linha LowSpray de pontas ultrassônicas. O design do inserto LowSpray concentra o fluxo de água diretamente na ponta, devido a uma fenda no terço médio dos insertos (Figura 1).

A Helse também procurou a Faculdade São Leopoldo Mandic para a validação científica dos insertos com o design LowSpray, quando foi utilizada a metodologia de dispersão de bioaerossóis criada pela equipe de pesquisa do laboratório de Microbiologia. Esta pesquisa foi orientada por mim e teve a participação do mestrando João Vitor Maldonado, que a utilizou como tema da sua dissertação de mestrado defendida em 2021. O estudo avaliou a dispersão de bioaerossóis gerados com o uso de insertos de ultrassom com e sem a tecnologia LowSpray em diferentes potências ultrassônicas.

Os testes foram realizados em uma clínica da faculdade, com 12 equipamentos odontológicos posicionados a uma distância linear de 2 m. O apoio da cabeça de um equipo odontológico foi adotado como ponto de referência e foram alocadas placas de Petri com meio de cultura MRS, o qual é enriquecido para Lactobacillus spp.

As placas foram posicionadas nas distâncias de 50, 100 e 150 cm, nos ângulos de 0º e 90º em relação ao apoio da cabeça. Para avaliar a dispersão de bioaerossol, foi utilizada a metodologia de índice de contaminação microbiana passiva do ar (Montalli et al., 2020). Foram testados os insertos Acteon H3, da Setalec (grupo-controle), e LowSpray, da Helse (grupo experimental), em duas diferentes potências ultrassônicas (30% e 50%), Figura 2.

Após a ativação do ultrassom por um minuto, as placas de Petri foram abertas. Passados 15 minutos, as placas foram fechadas e alocadas na estufa do laboratório de Microbiologia. Após 48 horas, as unidades formadoras de colônia (UFC) foram contadas. Os resultados mostraram maior contagem de UFC de Lactobacillus casei Shirota na potência de 50%, em comparação com a potência de 30%.

Para o grupo-controle (inserto Acteon H3), em comparação com o grupo experimental (inserto LowSpray), na potência de 50%, a redução média foi de 90,4%; na potência de 30%, a redução média foi de 98,6% (Figuras 3).

Com base nos resultados, foi possível constatar que os insertos de ultrassom com a tecnologia LowSpray reduziram a dispersão de bioaerossol, em comparação com o grupo-controle. Dessa forma, pôde-se concluir que o inserto LowSpray, utilizado principalmente na potência 30%, pode ser uma alternativa para melhor controle e biossegurança do ambiente odontológico durante o uso de ultrassom no tratamento odontológico.