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Figura 1 – Fluxo da Odontologia digital, organizado conforme as etapas de diagnóstico, processamento e acompanhamento.

Odontologia digital: qual cirurgião-dentista eu quero ser?

Luis Calicchio defende um entendimento mais aprofundado do fluxo de trabalho digital, que se divide em três grandes etapas.

Será que nós, cirurgiões-dentistas, teremos que nos transformar em super-heróis? Teremos de assumir a responsabilidade de vestir o chapéu de infinitas posições dentro do fluxo de trabalho? Será que deveremos nos sentir inseguros e incapazes de acompanhar tamanha evolução do mercado odontológico e suas tecnologias?

A resposta para tais dilemas pode ser encontrada em um entendimento mais aprofundado do fluxo de trabalho digital, que se divide em três grandes etapas ilustradas abaixo.

A primeira etapa do fluxo digital é o diagnóstico. Aqui, o cirurgião-dentista poderá colher todos os dados necessários para a elaboração do plano de tratamento. Fotografias digitais, escaneamento intraoral e radiografias digitais são as principais atividades desta etapa. Neste momento, já podemos aproveitar ferramentas e aplicativos de desenho do sorriso, como DSD ou Smile Cloud, para gerenciarmos expectativas e melhorarmos a comunicação com o paciente.

A segunda etapa do fluxo digital consiste no processamento de todas as informações. Ela se subdivide em:

a) Design – aqui um software CAD é utilizado para a realização do desenho do sorriso tridimensionalmente, conhecido como enceramento diagnóstico digital. O manuseio de softwares de design exige do cirurgião-dentista ou do técnico em prótese dentária um conhecimento específico e profundo da ferramenta para o alcance de resultados satisfatórios.

b) Manufatura – esta é a fase em que o trabalho será produzido. Após todo o fluxo clínico de atendimento, os arquivos são enviados para o laboratório para que as restaurações possam ser produzidas. Conforme vemos na Figura 1, é possível realizar um fluxo de terceirização dos trabalhos para laboratórios parceiros ou podemos optar por um fluxo in-house ou chairside, em que o próprio cirurgião-dentista se responsabiliza pela produção das peças.

c) Finalização – esta é a etapa do acabamento e micropigmentação das restauraçōes que são retiradas das máquinas de fresagem. Depois desta fase, a restauração está pronta para ser enviada ao dentista.

A terceira etapa do fluxo digital trata do acompanhamento do paciente ao longo dos meses e anos após o tratamento. Com a possibilidade de escaneamento do paciente em todas as consultas de manutenção, criamos um canal de captação de dados poderosos que nos permitem tomar decisões melhores para a manutenção de sua saúde oral. Trata-se de um passo importante da tecnologia na rotina clínica, nos auxiliando a oferecer um melhor serviço.

Uma vez que o fluxo de trabalho da Odontologia digital está melhor compreendido, cabe a você responder algumas perguntas fundamentais que serão decisivas para o seu futuro profissional:

  1. Em qual etapa desse fluxo você quer atuar?
  2. Quanto você está disposto a investir em equipamentos e softwares?
  3. Quanto tempo do seu dia será destinado ao aprendizado dessas ferramentas?
  4. Qual será sua demanda/volume de trabalhos indiretos?

Tais questionamentos servem para orientá-lo em sua migração para a Odontologia digital, norteando seus investimentos de forma mais assertiva e na adoção de um modelo de negócio que se encaixa com a nova realidade de mercado.

Não acho viável e saudável para um cirurgião-dentista querer abraçar sozinho todas as etapas do fluxo digital, já que a demanda de tempo e o investimento financeiro seriam muito altos. Além disso, a capacidade de entrega da etapa laboratorial seria comprometida, uma vez que o cirurgião-dentista ainda não tem todas as habilidades de um técnico.

Todos esses fatores devem ser levados em consideração. O sonho de nunca mais precisar de um laboratório não é verdadeiro. A ideia de que o cirurgião-dentista pode economizar muito na parte laboratorial também é uma ilusão. A manipulação dos softwares de desenho ainda demanda tempo e muito treinamento. Não é “só apertar um botão” e as coisas estão prontas. Esse processo exige muito preparo e conhecimento.

Em meu modelo de negócio, quero ser cirurgião dentista, ocupar meu tempo para trabalhar na boca dos meus pacientes, estabelecer relacionamento com eles e desenvolver uma Odontologia de alta performance naquilo que domino clinicamente. Trata-se da minha escolha pessoal e profissional. Na parte laboratorial, quero me conectar com os laboratórios que estão capacitados para o fluxo digital, que dominam as ferramentas e irão desenvolver trabalhos de qualidade e na velocidade que preciso para surpreender meus pacientes.

No caso do cirurgião-dentista ou da clínica odontológica receber altas demandas de trabalhos indiretos, aí sim vale a pena começar a pensar em um fluxo chairside. No entanto, para que esta operação seja viável, um time de profissionais precisará ser alocado exclusivamente nesta operação. Na prática, você está montando um laboratório junto à sua clínica e precisará de pessoas capacitadas para operar tais ferramentas. Além disso, você precisará investir em equipamentos e treinamento contínuo para que esta equipe desenvolva seu trabalho com qualidade.

Por outro lado, é importante ser realista: se a demanda de restaurações indiretas é pequena, você tem uma agenda cheia de pacientes e compromissos de gestão de sua clínica, será que realmente vale a pena investir tanto tempo e dinheiro em uma operação laboratorial dentro de sua clínica para atender a uma entrega pequena de trabalhos? Será que você conseguirá um retorno financeiro compatível com a energia que você vai dedicar? Você terá tempo para acrescentar uma jornada de técnico em prótese dentária em seu dia?

Na verdade, não existem respostas certas ou erradas. O importante é escolher um modelo de negócio financeiramente viável que te satisfaça pessoal e profissionalmente.

Agora, a bola está com você: qual tipo de cirurgião-dentista você deseja ser?