O avanço da sociedade no mundo moderno fez com que ficássemos acostumados com a limpeza e pureza da água e da nossa comida. Por que não fizemos o mesmo com o ar?
O saneamento básico foi uma das mais poderosas invenções já criadas pela humanidade. Sem ele, dificilmente conseguiríamos viver em cidades superpopulosas, como fazemos hoje. Os alimentos e a rede de abastecimento de água estariam permanentemente contaminados, as doenças se espalhariam rapidamente e nossa expectativa de vida estaria bem abaixo do patamar atual. Com a ajuda de gigantescas estruturas de coleta de esgoto e tratamento de água, aprendemos a impedir a disseminação de perigosas doenças que, no passado, eram capazes de dizimar cidades inteiras.
Olhando para o nosso sucesso no controle de doenças transmitidas pela água, fica uma pergunta inevitável para quem vive em 2021: se fazemos tanto esforço para não consumir água contaminada, por que somos tão tolerantes e aceitamos respirar ar contaminado? Por que não redesenhamos o fluxo de ar nos ambientes para evitar a contaminação das pessoas? Imagine como tal medida poderia ser útil em espaços com grandes concentrações de pessoas, tais como cinemas, escolas, ônibus, aviões e metrôs.
Esse debate começou com artigos publicados nas revistas Nature e The Atlantic, e certamente precisa ser amadurecido para que possamos compreender o que está efetivamente ao nosso alcance. Bastaria purificar o ar do ambiente? Precisamos de barreiras protetoras? Protocolos permanentes de distanciamento? Controle de patógenos na entrada dos prédios? De qualquer forma, a discussão vem ganhando cada vez mais espaço à medida que a pandemia continua se estendendo, sem data para terminar.
É preciso deixar claro, no entanto, que essa preocupação não está limitada pelas circunstâncias da Covid-19. Assim como nossos antepassados padeciam das disenterias como se fossem fatos inevitáveis, nós aceitamos conviver com uma série de doenças aerotransportadas pelo ar contaminado, com maior ou menor risco, como se fosse impossível evitá-las. Hoje sabemos que não é. Além disso, as epidemias de doenças respiratórias acontecem regularmente em diferentes pontos do planeta e, lamentavelmente, as probabilidades indicam que o SARS-CoV-2 não será a última pandemia de nossa geração.
Podemos concordar que a implantação de tais sistemas de purificação do ar seria caríssima e ainda nem sabemos como fazer isso adequadamente. Também reconhecemos que nosso sistema imune não é tão frágil assim e que, com alguns hábitos de higiene, máscaras e vacinas, podemos nos proteger das doenças mais graves. No entanto, não há como negar que a solução mais rápida, barata e inteligente para enfrentar a próxima pandemia de doença respiratória é evitar que ela comece.
Na Odontologia, conter tais doenças significa a nossa própria segurança e a proteção de nossos pacientes. Biossegurança é um tema relativamente novo para a sociedade, mas está no dia a dia do cirurgião-dentista há muito tempo. Vamos trabalhar para que as lições que aprendemos com o saneamento básico e a traumatizante experiência da Covid-19 não se percam nos próximos anos.
Confira os editoriais publicados em outras edições da revista ImplantNews.
Paulo H. O. Rossetti
Editor científico de Implatodontia.
Orcid: 0000-0002-0868-6022
Antônio Wilson Sallum
Editor científico de Periodontia.
Orcid: 0000-0002-7158-984X
Marco Antonio Bottino
Editor científico de Prótese Dentária.
Orcid: 0000-0003-0077-3161