Nivaldo Vanni traz as novidades dos canabionoides na Odontologia, abordando eventos, descobertas, mercado e o futuro da terapia no Brasil.
O ano começou com bastante movimentação no mercado da cannabis medicinal. Tivemos, recentemente, a terceira edição da feira Medical Cannabis Fair, onde foi possível observar muitos avanços, como nos processos de extração eletrônica, em que a temperatura deixa de ser o foco principal, mantendo presente formas ácidas de canabinoides que, com o aquecimento, se convertem em formas ativas estáveis. Essas formas ácidas, como o THCa, por exemplo, têm se mostrado bastante promissoras na remissão de tumores. Além de modernizar o processo, essas extrações deixam as propriedades botânicas da planta mais robustas, aumentando o efeito entourage ou comitiva, aquele que soma os canabinoides, terpenos e flavonoides.
Ao longo do evento, também foi possível acompanhar algumas novas possibilidades, com empresas trazendo produtos com concentrações diferenciadas de canabinoides, fazendo verdadeiros “blends”, com o objetivo de oferecer mais especificidade nas prescrições. Outro ponto positivo: as farmácias de manipulações. Já temos disponíveis farmácias com autorização para manipular CBD nas suas fórmulas. Um leque de possibilidades começa a surgir, podendo somar terpenos, flavonoides, vitaminas e minerais nas fórmulas, buscando mais individualização nos tratamentos.
MERCADO
Já temos uma empresa com fábrica instalada em São Paulo que está produzindo IFA (ingrediente farmacêutico ativo), o que certamente ajudará na produção de produtos nacionais. Havia muitas empresas novas e diversidade de produtos, como xampus, cremes, bebidas terpenadas, rações animais com CBD, roupas e vestuário, movimentando o segmento, com muitas oportunidades aparecendo rapidamente.
PESQUISA E CIÊNCIA
Hoje, temos alguns projetos de pesquisa sendo colocados em prática, abrangendo não apenas a área médica, mas também a odontológica. Alguns estudos em materiais odontológicos à base de CBD já estão sendo desenvolvidos, em fase inicial de testes, assim como estudos nas áreas de dor orofacial e DTM, com avaliação das respostas frente aos canabinoides. Esses são alguns exemplos da busca por evidências científicas que está sendo realizada, vista com bons olhos pela Anvisa, que vem fazendo um trabalho moderno e, ao mesmo tempo, rigoroso. Essa inovação favorecerá em muito a ciência e ampliará as prescrições.
Além de embasarem as condutas e indicações dos profissionais, os estudos tendem a criar um grau farmacêutico, o que ainda é motivo de discussão, incredibilidade e insegurança a muitos profissionais, bem como em associações de classe profissional. Há diversos produtos com origem, peso, concentração, dose e compostos diferentes, o que dificulta o dia a dia clínico e os resultados.
CANABIDIOL BRASILEIRO
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram recentemente uma planta brasileira que produz o canabidiol (CBD). A substância está presente em frutos e flores da Trema Micrantha Blume, considerada uma praga e conhecida popularmente como Grandiúva ou Candiúba. Trata-se de uma planta da família das Cannabaceae que atinge o porte de dois a cinco metros, estando presente em áreas degradadas, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do País. Ela apresenta flores e frutos em cachos, de onde é possível a extração do CBD.
Essa descoberta tende a ampliar a discussão, uma vez que se trata de uma planta nativa e livre, inclusive para ser plantada. A expectativa é que a novidade possa ajudar na popularização dos valores dos produtos à base de CBD, o que ainda é considerado um fator negativo.
FUTURO
Estamos diante de uma transformação bastante curiosa. Vemos cada dia mais os efeitos positivos dos terpenos nos óleos essenciais, muito usados na aromaterapia, além da ação no combate da dor dos flavonoides, como a cúrcuma, e que também se expressam na cannabis medicinal com os óleos de amplo espectro. A descoberta de uma planta nativa, uma erva daninha, que produz CBD, é a prova de que há muita novidade por vir neste tema. Sugiro que os colegas acompanhem mais de perto para, certamente, se impressionarem.
Nivaldo Vanni Filho
Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial, mestre e especialista em DTM e Dor Orofacial, coordenador da especialização em HOF – IVA/ Facop, Professor do curso de especialização em Cannabis Medicinal – Unifesp/SBEC; Diretor do CT de Odontologia – SBEC.