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Editorial: fenômenos (in)explicáveis

Os anos 1990 e 2000 foram de suma importância para o desenvolvimento da Reabilitação Oral que praticamos hoje com excelência.

O fenômeno das redes sociais no século 21, onde todo mundo comenta todos os tipos de assuntos, nos faz lembrar outro “fenômeno” comum, mas dos anos 1990, quando alguém falava que havia “perdido” um implante dentário. Afinal, todos eram catedráticos em suas disciplinas, experientes no que faziam, e “perder um implante” naquela época possivelmente significava apontar o dedo para a empresa A, B ou C. O resultado, além do silêncio total nos corredores dos congressos, fazia recair sobre mim ou você uma pecha de “azarado”, “mão pesada” ou os piores adjetivos que se pode imaginar.

Da mesma forma, falar em “recessão gengival após a colocação de um implante dentário” era um sacrilégio. Até que, em 2003, como será visto na seção Túnel do Tempo, um trabalho aliviou essas tensões.

Mas a lista de fenômenos in(explicáveis) não parava por aí: o que dizer aos pacientes bruxômanos, que perdiam implantes dentários sem qualquer contaminação local ou externa? Ora, não seria por terem apertado demasiadamente sobre as restaurações provisórias? E quem deveria ir para a fogueira: eu, você ou o paciente? Ninguém.

Vamos nos debruçar sobre os dados já conhecidos entre os anos 1990 e 2000. As taxas de sobrevivência dos implantes com formato cilíndrico e superfície sem tratamento específico variavam de 95% a 97%. Bruxismo, tabagismo e experiência prévia de doença periodontal sempre foram considerados fatores de risco. Mas, por que será que temíamos tanto ao falar do assunto em público? Quem seria a “mão invisível” a nos julgar? Nenhuma.

Outro fenômeno in(explicável) foi o começo da prática da carga imediata no Brasil. Mesmo dentro das limitações tecnológicas, as próteses saíam em até 24 horas após a cirurgia. As guias sequer possuíam anilhas, e grande parte das barras metálicas monobloco era cortada e soldada. E o ponto mais “disruptivo”: trabalhávamos com imagens tomográficas que não podiam ser sobrepostas. Ou seja, sabíamos onde o implante deveria ficar, mas não tínhamos a certeza de que ele realmente havia chegado ao local desejado (tridimensionalmente). No caso de próteses totais bimaxilares, quantas vezes foram necessários ajustes na região posterior para que os dentes tivessem bom engrenamento? Pergunto: o paciente nos condenava por isso? Confira também na seção Túnel do Tempo como a carga imediata se tornou uma terapia de sucesso.

Talvez o único fato explicável aqui seja tentar entender como uma máquina composta por dez trilhões de células, com cérebros capazes de construir lançadores de foguetes que agora vão e voltam perfeitamente, demorou tanto para colocar em prática um dos aspectos mais exemplares da sua existência em toda galáxia: a democratização sem limites da comunicação. Quando utilizada de forma correta, ela nos conscientiza sobre as nossas limitações e as dos pacientes, fazendo com que ambos se apreciem de verdade.

Ainda, confira os destaques imperdíveis desta edição, como a matéria de capa sobre as novas possibilidades do planejamento digital do sorriso, conteúdos exclusivos de nossos colunistas e os 12 artigos científicos inéditos. E aproveite o Abross23, o Consenso, o GUIDE e o Simpósio sobre Implantes Cerâmicos para atualizar e receber novos conhecimentos, explicáveis ou não (por enquanto).

Boa leitura!