Volta por cima da Odontologia: algumas das principais empresas do setor falam sobre as perspectivas para este ano e como se prepararam para enfrentar 2021.
Por Renata Putinatti
A Odontologia mostrou números promissores em 2019 e bons resultados no início de 2020. No entanto, todas as clínicas, laboratórios e fabricantes de produtos odontológicos se viram obrigados a recalcular a rota – juntamente com toda economia mundial – para enfrentar a crise sanitária gerada pela pandemia do novo coronavírus.
De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (Abimo), o segmento fechou 2019 com a maior produção nacional já registrada. O recorde histórico foi refletido positivamente também no índice de empregos no setor. Todo esse cenário de otimismo veio abaixo a partir de março de 2020, quando os consultórios precisaram fechar, os pacientes adiaram ou cancelaram tratamentos, e as vendas de insumos paralisaram. A partir do final de maio e início de junho, com a reabertura gradual dos consultórios, o setor voltou a se movimentar. Neste momento, os protocolos sanitários e de biossegurança também já estavam melhor estabelecidos, oferecendo mais segurança aos profissionais e pacientes.
O segundo semestre de 2020 foi marcado pelo clima de recomeço em toda a economia. O mercado precisou se ajustar às novas relações – agora virtuais –, fortalecer o e-commerce e saber estar presente, mesmo estando distante fisicamente. E esse foi, com certeza, o maior aprendizado. As empresas tiveram que encontrar soluções rápidas, inteligentes e eficientes para manter o funcionamento do negócio e dar apoio ao cliente. Para isso, apostaram maciçamente no relacionamento digital, nas mídias sociais e nas novas tecnologias.
Mesmo com os desafios impostos por 2020, o mercado odontológico se mantém otimista. As lições aprendidas serão a base para o próximo período. Junto com 2021, chega também a vacina contra o coronavírus. A imunização em massa é a garantia de que a roda do setor voltará a girar com força total: pacientes se sentirão confiantes para iniciar novos tratamentos, cirurgiões-dentistas voltarão a consumir insumos e os eventos presenciais serão novamente o momento de grande celebração da Odontologia.
Para avaliar as perspectivas de recuperação em 2021, ouvimos algumas das principais empresas do segmento odontológico, que nos revelaram o que esperam para os próximos meses e como estão se preparando para enfrentar esse novo ano.
“O resultado de 2020, alavancado pela recuperação no segundo semestre, pode ser justificado pela manutenção de toda a equipe de trabalho e um cuidado especial no relacionamento com os clientes. Aliado ao grande volume de ações digitais – meetings e lives – envolvendo todo nosso conselho científico e ao lançamento de produtos inovadores, como o implante Maestro e a linha de componentes protéticos Ideale, experimentamos um crescimento significativo com o aumento do nosso market share, pois o mercado como um todo reduziu seu volume de implantes colocados. Para 2021, temos uma enorme expectativa e um grande desafio para seguir nessa curva de crescimento, com o lançamento de novos produtos com tecnologia exclusiva e publicações internacionais, demonstrando que nossos produtos possuem eficácia e segurança similares às marcas líderes mundiais. Nossa equipe está preparada e motivada para conquistar maior participação de mercado, pois o mesmo voltará a crescer.”
Aluizio Canto, CEO da Implacil de Bortoli.
“Este será um ano de vencer obstáculos. Acreditar que vamos vencer é o primeiro passo. Todos teremos de nos adaptar à nova realidade e jamais desistir. As empresas brasileiras possuem produtos competitivos tão bons ou até melhores do que os de quaisquer outros países.”
Munir Salomão, diretor da Bone Heal.
“A recuperação do setor de Prótese Dentária vai depender da recuperação do setor odontológico, que está ligado às soluções que surgirão para debelar essa pandemia. A vacinação no Brasil deve começar em breve e estamos otimistas quanto aos seus resultados. Portanto, prevemos uma recuperação em V. Com a vacinação em massa, as pessoas se sentirão seguras para ir ao dentista e, finalmente, fazer o tratamento que foi adiado em 2020. Há uma demanda reprimida que deve deixar de existir nos próximos meses. Por outro lado, em 2021 o Brasil será a grande fronteira de investimentos entre os países em desenvolvimento, com uma rápida recuperação econômica e geração de empregos, que vai beneficiar em curto prazo a classe média. Esses fatores, sem dúvida, beneficiarão a Odontologia, que tem tudo para ter um excelente 2021.”
Danilo Cury, diretor do Laboratório Nicolau de Prótese Dental.
“Esperamos que, com a chegada da vacina, as pessoas tenham a possibilidade de seguir o curso normal de suas vidas. Aquele tratamento eletivo, que foi deixado de lado devido à pandemia, deverá ser retomado. Quanto às cirurgias, a Geistlich acredita que a segurança e a previsibilidade terão um valor ainda mais fundamental. Os profissionais buscarão oferecer tratamento de excelência, com o objetivo de fidelizar seus pacientes e, para que isso aconteça, será necessário o uso de produtos de alta qualidade. É nesse cenário que a Geistlich almeja crescimento de market share e recuperação das vendas perdidas durante a pandemia.”
Débora Furlani, marketing and events manager Brazil da Geistlich.
“Em relação ao mercado, esperamos um 2021 de sólida recuperação. Apesar das limitações e mudanças nos hábitos de contato físico entre as pessoas, percebemos que um dos legados da pandemia é o maior zelo e cuidado com a saúde. A saúde dental não é uma exceção, e acreditamos que no ‘novo normal’ isso acabará não somente recuperando a dimensão histórica do mercado, assim como vai acelerar o seu crescimento. Em relação à SIN, a empresa investiu todo o seu fluxo de caixa em algumas apostas fortes no início da pandemia: proteger 100% dos seus colaboradores, contratar talentos que estavam sendo demitidos pelos concorrentes e ajudar financeiramente os seus clientes no Brasil e distribuidores internacionais a atravessarem a parada de atividades e a lenta retomada. A estratégia provou ser acertada. A empresa fechou 2020 com crescimento de até 50% comparado aos últimos meses de 2019 e prevê crescimento entre 40% a 60% para 2021, tanto pelo incremento do market share no Brasil como pela expansão internacional.”
Felipe Leonard, CEO e presidente da SIN Implant System.
“O ano de 2020 nos desafiou a reinventar, usar ferramentas digitais, testar novas ações e nos fortalecer para 2021. Vimos uma recuperação mais expressiva a partir do segundo semestre e fechamos o ano com crescimento do faturamento. Tudo isso foi reflexo de muito trabalho e uma dedicação extraordinária da nossa equipe de vendas, além do constante investimento em cursos e treinamentos. Estamos bastante otimistas para 2021 e vamos ampliar nossos investimentos no segmento de implantes, com uma nova fábrica e com a duplicação do centro logístico para atender o crescimento do mercado nacional e internacional – recebemos a certificação CE para o Nanosynt e o Arcsys. Também vamos ampliar os investimentos em e-commerce e televendas. Há uma tendência forte do mercado de implantes para adesão à cirurgia guiada e a FGM é revolucionária com o sistema Arcsys, que proporciona ao paciente estética, longevidade com saúde e funcionalidade. Para o profissional, é simples, fácil e econômico. Vamos investir em campanhas educativas mostrando estes benefícios que o Arcsys trouxe de forma pioneira. Estamos completando 25 anos em 2021 e certamente será um ano para muitas comemorações, com a nova fábrica e a consolidação da FGM no mercado de implantes.”
Bianca Mittelstädt, CEO da FGM Dental Group.
“As expectativas para 2021 apontam para uma certa recuperação, até porque melhorar o desempenho comparado ao ano de 2020 não deverá ser tão difícil. O grande desafio para nossa empresa, entretanto, pode estar relacionado à eventual redução do nicho de mercado que produtos mais refinados e de maior valor agregado possam enfrentar. A carteira de produtos comercializados pela Intra-Lock/Tissue-Tech reúne as melhores tecnologias e marcas internacionais que têm como público-alvo profissionais nesta faixa de alta exigência. Temos certeza de que muita criatividade nas estratégias comerciais aliadas aos novos formatos digitais de divulgação e treinamento podem ser a resposta para os novos tempos que enfrentaremos. Resiliência e combatividade é o que não nos falta.”
Aziz Constantino, diretor da Intra-Lock/Tissue-Tech.
“A Regener Biomateriais vê de modo muito promissor a retomada do Brasil e do crescimento do mercado odontológico em 2021. Apesar dos desafios enfrentados por todos em 2020, o ano foi muito importante para a companhia, que continuou expandindo suas atividades, parcerias, equipes e gama de produtos. Além do já conhecido enxerto ósseo Blue Bone, a empresa lançou em meados de 2020 a Green Membrane (membrana de colágeno). Nesse sentido, permanece na linha firme de unir tecnologia suíça, insumos importados e preços acessíveis, propiciando um equilíbrio ideal em prol da melhoria da saúde dos seres humanos. Para 2021, mais novidades serão trazidas.”
Marcel Melhem, diretor da Regener Biomateriais.
“Sabemos que, em nível mundial, o mercado odontológico sofreu uma retração de 20% em 2020. No Brasil, houve uma queda entre 20% e 30% na venda de implantes, já que boa parte dos consultórios tiveram que fechar no mês de abril ou atender apenas casos emergenciais e somente em junho iniciaram a reabertura. Em 2021 esperamos alcançar os volumes de 2019, ou seja, isso significa que nós queremos e achamos que o mercado irá se recuperar. A Neodent estará focada na exportação, tendo em vista que mais de 50% do nosso volume de produção é destinado ao mercado externo. A meta é que nossas fábricas de Curitiba (PR) produzam mais de 2,6 milhões de implantes, por isso estamos contratando funcionários e recontratando pessoas que precisaram ser demitidas em maio, quando tivemos que diminuir nosso quadro de colaboradores. É válido lembrar que o segmento value crescerá muito mais que o segmento premium. Acredito que 2021 será de recuperação, com melhora sensível a partir do segundo semestre, quando sentiremos os efeitos positivos da vacinação da população.”
Matthias Schupp, CEO da Neodent e vice-presidente executivo do Grupo Straumann da América Latina.
“Após um início excelente em 2020, sofremos todo o impacto da pandemia. Entretanto, tivemos a capacidade de nos reinventar rapidamente. Desde a pronta adaptação ao modelo de home office, mudança de atividades educacionais do modelo presencial para virtual, até a implantação de um novo e-commerce: tudo foi feito com agilidade e disciplina, garantindo bons resultados. O mercado, por outro lado, sofreu forte retração a partir de abril, mas, para a Curaprox, houve uma crescente recuperação mês a mês, até voltarmos a níveis satisfatórios de operação. O fato das pessoas permanecerem mais em casa, com mais tempo para si mesmas, contribuiu para a recuperação do mercado de higiene e beleza. O e-commerce garantiu o abastecimento dos consumidores, mesmo com a restrição de deslocamentos até as lojas físicas. Para 2021, esperamos a retomada do crescimento que havíamos experimentado nos três primeiros meses de 2020. A perspectiva da vacina, de melhores protocolos de tratamento da Covid-19 e consumidores mais conscientes contribuirão para uma maior intenção de compra, com reflexos benéficos para todo o mercado. De nossa parte, teremos o lançamento de novos produtos e serviços, e esperamos poder retomar o quanto antes a presença em feiras e congressos, estreitando ainda mais a nossa parceria com a comunidade odontológica.”
Erik Vidal, sócio-diretor da Curaprox Brasil.
“Em 2020 não pudemos contar com ações governamentais 100% eficazes, mas conseguimos avançar em alguns aspectos e tivemos que recuar em outros. Acredito, com muita segurança, que em 2021 a Odontologia vai conseguir consolidar muito do que teve que se aprimorar no ano passado. Sobretudo o segmento laboratorial da Odontologia será desafiado a desenvolver soluções mais assertivas, seguras e previsíveis para profissionais e pacientes. E, se pensarmos bem, o laboratório é um dos mais importantes (se não o mais) no que diz respeito ao desenvolvimento de tecnologias e soluções. Se já éramos desafiados constantemente a encontrar soluções seguras, de excelência e de previsibilidade, agora em 2021 todos os profissionais da Odontologia que quiserem fazer parte da ‘onda’ de recuperação irão trazer cada vez mais a tecnologia para suas rotinas diárias.”
Elias Rosa de Oliveira, diretor do Ero Prótese – Laboratório de Prótese Dentária.
“No último trimestre de 2020, o mercado já apresentou uma recuperação quando comparado ao ano de 2019. Os profissionais souberam se adaptar às necessidades de prevenção e, com isso, levaram confiança para os pacientes, aumentando o consumo no mercado. Para o mundo corporativo, obviamente, muitas coisas mudaram e permanecerão, como as intensas atividades digitais (reuniões, cursos, seminários e trabalhos remotos). Essas ações levaram a um novo entendimento das empresas, que poderão se resguardar de despesas/investimentos e focar seus esforços em estratégias para aumentar os negócios e a lucratividade. Acreditamos em uma recuperação e manteremos nossa estratégia de crescimento, pois nosso país é formado por um povo resiliente, que já amargurou vários desafios e não se deu por vencido.”
Herbert Mendes, diretor de vendas da Ivoclar Vivadent.
Economia no ritmo da vacina
Colaboração: Adilson Fuzo
A Odontologia não é um bolha isolada do restante do País, mas podemos dizer que foi um segmento privilegiado em comparação ao restante da economia por conseguir elevar seus resultados financeiros no segundo semestre. Infelizmente, nem todas as clínicas e fabricantes conseguiram usufruir dessa onda de recuperação e fecharam o ano em dificuldades. Outras não conseguiram passar pelo período de transição e foram fechadas.
Observando a economia brasileira como um todo, 2020 foi mesmo um ano desastroso. Estima-se que o PIB do ano fique entre -3% e -5%. Tal resultado é considerado ainda pior com o desempenho que já vinha fraco de 2019, quando o PIB de apenas 1,1%, muito aquém das expectativas.
E o que esperar para a economia brasileira em 2021? Com o fim do pagamento do auxílio emergencial à população, alguns segmentos podem sentir a desaceleração da economia. Também preocupa o alto desemprego e os efeitos da própria pandemia, que ainda não acabou. O poder de recuperação da economia está diretamente ligado à velocidade da imunização da população. Até o momento, não existem doses suficientes da vacina para uma parcela significativa dos brasileiros.
Outras discussões que devem dar o tom da economia de 2021 estão na discussão sobre o teto de gastos e a eventual criação de novos impostos. O acirramento dos conflitos políticos, de forma geral, pesa negativamente para a confiança dos empresários e dos consumidores. Mesmo assim, diante de tantas más notícias, a perspectiva da maioria dos especialistas é de que 2021 será um ano de crescimento econômico. A previsão da equipe do Ministério da Economia traçada em dezembro aponta um crescimento de 3,2% no PIB brasileiro de 2021. As estimativas para outros indicadores importantes mostra um cenário de estabilidade: Selic de 2,1%, IPCA em 3,2% e dólar em R$ 5,30.