Roberta Okamoto detalha pesquisas, analisa a importância do conhecimento da Biologia Molecular Regenerativa para os cirurgiões-dentistas e comenta a influência do pai em sua jornada profissional.
Professora titular da disciplina de Anatomia no Depto. de Ciências Básicas da Unesp Araçatuba, Roberta Okamoto desenvolve pesquisas translacionais utilizando modelos pré-clínicos in vivo e com foco no comprometimento sistêmico e reparo ósseo. Em conversa com a equipe da ImplantNews, Roberta Okamoto detalha suas pesquisas, analisa a importância do conhecimento da Biologia Molecular Regenerativa para os cirurgiões-dentistas e comenta a influência do pai, um entusiasta das pesquisas desenvolvidas sobre reparo ósseo, em sua jornada profissional.
1) Conte-nos como você lidera o grupo que dá origem aos seus trabalhos de pesquisa.
Roberta Okamoto – São muitos alunos de graduação e pós-graduação, e vários projetos em desenvolvimento simultaneamente. Atualmente, temos dez pós-graduandos (mestrado/doutorado), dois pós-doutorandos e vários alunos de iniciação científica. Procuro parear: pós-graduando/IC, de forma que sejam formados no mínimo duplas ou trios que compartilham os temas de pesquisa, mas sempre mantendo a individualidade dos projetos. Assim, conseguimos desenvolver as pesquisas, os alunos colaboram entre si e há a possibilidade de os pós-graduandos e pós-doutorandos iniciarem as atividades de orientação dos alunos de IC. Buscamos abordar várias frentes dentro do tema maior, que é o comprometimento sistêmico e reparo ósseo. Atualmente, temos trabalhos que vão desde o uso de fármacos administrados sistemicamente ou por drug delivery (liberação inteligente de fármacos ou smart devices), até estudos de biomateriais funcionalizados ou não, e sempre com foco no reparo ósseo: modelos de reparo alveolar e reparo peri-implantar, além da condição sistêmica avaliada, como osteoporose, diabetes tipo 2 e hipertensão.
2) Quais são os desafios atuais frente ao trabalho de pesquisa em pequenos animais?
Roberta Okamoto – São muitos desafios, especialmente quanto aos cuidados éticos no uso de animais. Seguimos os princípios dos 3R’s (reduce, replace, refine – termo que pode ser traduzido como reduzir, substituir e refinar), buscando otimizar o uso de animais quanto ao aproveitamento das amostras e realização das análises. E, lógico, desenvolvendo projetos que realmente necessitam do uso do modelo in vivo para que as respostas sejam alcançadas. Apesar das dificuldades, considero que o modelo animal é muito rico quanto às respostas fornecidas. É possível mimetizar diversas condições sistêmicas, situações clínicas da Odontologia e as novas estratégias terapêuticas. Avaliar o animal como um todo, especialmente no caso dos comprometimentos sistêmicos, é muito importante para a melhor compreensão dos eventos reparacionais e, principalmente, quando pensamos no aspecto translacional das nossas pesquisas.
3) Como é explicar Biologia Molecular Regenerativa para clínicos? Quais estratégias você utiliza com seus aprendizes/alunos/ orientados?
Roberta Okamoto – Buscamos uma abordagem mais “simplificada”, tentando exemplificar com situações clínicas. O desafio é tornar atrativo um conteúdo que não é tão atrativo para o clínico. No entanto, é a base para o sucesso nos procedimentos a serem desenvolvidos. Deixamos claro que compreender os eventos reparacionais em multiescala (do macro para o micro e molecular) permitirá ao clínico compreender as respostas observadas, dando-lhe mais segurança quanto aos procedimentos a serem adotados, sempre visando o bem-estar do paciente. Não há necessidade de se tornar um “expert” nas vias de sinalização em nível molecular, mas o entendimento sobre as vias que podem ser acionadas frente a determinadas terapias é de grande importância, principalmente para que o clínico acompanhe os avanços que estão sendo atingidos na área de Engenharia Tecidual, por exemplo. As abordagens que fazemos em aula geralmente têm como base as pesquisas que desenvolvemos no laboratório. Contamos uma “história”, introduzimos conceitos básicos, uma vez que deixamos clara a importância de se conhecer a base biológica dos eventos reparacionais. Os modelos de comprometimento sistêmico acabam fazendo com que o conteúdo fique mais atrativo.
4) Seus trabalhos envolvem bastante a saúde sistêmica dos pacientes. Conte-nos um resumo do que vocês sabem até agora, principalmente quando os implantes dentários estão envolvidos.
Roberta Okamoto – Nosso foco é: interferência sistêmica no reparo ósseo. Especificamente nos últimos anos, temos estudado muito o modelo de reparo peri-implantar. Com o foco em condições sistêmicas, como osteoporose, diabetes tipo 2 e hipertensão, temos observado o comprometimento na qualidade do osso reparacional em cada uma dessas situações. No caso da osteoporose, o foco principal associa, além da avaliação do reparo ósseo, o desempenho de diferentes terapias medicamentosas utilizadas no tratamento desta patologia e o seu desempenho sobre a osseointegração. Medicamentos como bifosfonatos comprometem o reparo peri-implantar, desequilibrando a ação de células ósseas e prejudicando a qualidade do tecido ósseo reparacional. No entanto, é inegável o seu efeito sistêmico, favorável no tratamento da osteoporose, recuperação da densidade óssea (fêmur, vértebras) e prevenção de fraturas nesta condição. O estudo de anabólicos ósseos (fármacos osteoformadores) tem mostrado um desempenho excelente, especialmente na presença de comprometimento sistêmico. Recentemente, o efeito local e o “drug delivery” têm sido uma estratégia explorada em nossas pesquisas e bastante promissora, especialmente quando pensamos em associar o drug delivery (terapia local peri-implantar) aos tratamentos sistêmicos que o paciente precisa fazer quando possui osteoporose, por exemplo. Buscamos a sinergia entre o tratamento local peri-implantar e o tratamento sistêmico da condição sistêmica. Assim, ambas as frentes são contempladas na terapia adotada para aquele paciente em especial. Já temos algumas publicações com estes resultados, e este tem sido um dos pontos principais das pesquisas que desenvolvemos em nosso grupo.
5) Qual foi a influência do seu pai na sua formação? Afinal, há muitos descendentes de professores que seguiram em outras profissões.
Roberta Okamoto – Meu pai teve um papel fundamental na minha formação, desde a escolha do curso de graduação. Sempre tive um grande interesse nos estudos de processos biológicos e que estariam mais focados na pesquisa básica. A escolha do curso de Odontologia veio da sua sugestão de que, fazendo este curso, ainda assim poderia me dedicar à área básica. Hoje, vejo como foi acertada esta escolha, uma vez que o foco das nossas questões sempre está na Odontologia e nas estratégias para a melhora dos procedimentos reabilitadores. Assim, cursar Odontologia foi essencial para direcionar nossos questionamentos e nossas pesquisas. Durante a graduação, tive a oportunidade de ser estagiária de iniciação científica do meu pai, e a atividade no laboratório de Histologia do departamento de diagnóstico e cirurgia foi fascinante. Ao término da graduação, a escolha foi a Fisiologia para minha formação acadêmica e, mais uma vez, com total apoio do meu pai. Como pós-doc (Prodoc/Capes), tive a oportunidade de trabalhar com o meu pai dentro da sua linha de pesquisa. Foi uma experiência extremamente enriquecedora e que permitiu que, a partir dos estudos desenvolvidos há anos no laboratório, eu pudesse dar continuidade às pesquisas, buscando novas ferramentas de análise e novas estratégias terapêuticas a serem avaliadas, especialmente na situação de comprometimento sistêmico e reparo ósseo, que se tornou o principal foco de estudo das nossas pesquisas.