Nivaldo Vanni traz duas notícias que podem sinalizar um cenário de expansão no mercado nacional e mundial dos produtos extraídos da planta.

Temos visto o tema da Endocanabinologia crescer e expandir mais seus horizontes a cada dia que passa. Nesse contexto, o ano de 2024 já está sendo transformador. Dentro das pautas em ação, temos o fornecimento de canabinoides via SUS (Sistema Único de Saúde) para o Estado de São Paulo, que pode ser um exemplo nacional a ser seguido, e do DEA (Drug Enforcement Administration), órgão norte-americano responsável pelo combate ao tráfico de drogas e à distribuição de drogas ilícitas no país, reclassificando a planta Cannabis sativa.

Agora, ela sai da lista I, de produtos altamente controlados e perigosos – como a heroína –, para a lista III, reconhecendo dessa forma sua aplicação medicinal.

Essas duas notícias podem, por si só, sinalizar um cenário de expansão no mercado nacional e mundial dos produtos extraídos da planta. Além disso, é provável que haja uma ampliação do debate do uso dos canabinoides na Odontologia.

ODONTOLOGIA

Nesse mercado aquecido, ainda vemos poucos cirurgiõesdentistas que usam esse recurso no dia a dia clínico. E essa pode ser uma oportunidade de novas abordagens, uma vez que quase 40% dos pacientes que procuram por profissionais habilitados estão insatisfeitos com os tratamentos praticados¹.

Ensaios clínicos começam a ser publicados, trazendo evidências científicas, credibilidade e segurança. Recentemente, dois artigos publicados sobre dores dentais odontogênicas, como pulpite irreversível, necrose pulpar e periodontite apical sintomática, tiveram reduções significativas com o uso de CBD isolado, Epidiolex 100 mg/mL. Apesar da alta concentração utilizada, os resultados foram positivos, o que pode ser um sinalizador para associações futuras para dores agudas^2-3.

Os canabinoides também são bem indicados nas DTM (disfunções temporomandibulares), desde a redução de dores até a redução de gatilhos cognitivos comportamentais e do sono não reparador que contribuem para o bruxismo em vigília.

ODONTOLOGIA INTEGRATIVA

Esse é um assunto que tem atraído muitos colegas cirurgiões-dentistas. Cada vez mais vemos nossa área de atuação se ampliar, com os conhecimentos e domínios sistêmicos adquiridos, melhora nos diagnósticos e nas adições terapêuticas, elevando a prática odontológica.

Nesse viés sistêmico, temos o sistema endocanabinoide, o maior sistema de regulação homeostática do corpo humano. Ele gerencia o sistema nervoso central, com encéfalo e órgãos; o sistema endócrino, com regulação hormonal; e o sistema imune, com redução da inflamação e melhora na oxidação e longevidade.

Ambientes estressores, como preocupação, sono ruim, alimentação inadequada e sedentarismo, esgotam nossa produção de transmissores endocanabinoides, como a anandamida e o 2-AG. Porém, além de podermos melhorar esses itens descritos com mudança de atitude, podemos também lançar mão dos fitocanabinoides, que têm ação análoga às substâncias produzidas por nosso organismo.

Outro ponto importante a ressaltar, é que nos óleos de espectros longos extraídos da planta, como os full spectrum, com THC, e os broad spectrum, sem THC, temos a soma de terpenos e flavonoides, que potencializam o efeito pretendido (efeito entourage).

Os óleos essenciais ou terpenos estão presentes na planta Cannabis e, dependendo de sua predominância, podem criar oportunidades terapêuticas, como o limoleno para ansiedade e o mirceno como sedativo. Os terpenos ou óleos essenciais apareceram de forma muito aceita pela aromaterapia, que usa essa forma inalada para a sinalização do tipo pretendido.

Além desse breve relato, ainda há muito a sabermos, inclusive para a utilização dos canabinoides na Odontologia. Esse, sem dúvida, é o momento ideal para buscar o conhecimento nessa área tão promissora.