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Biomaterial bifásico: das comprovações científicas à aplicação clínica

De acordo com pesquisas, o biomaterial bifásico pode ser considerado uma excelente opção para o preenchimento alveolar e enxerto sinusal.

Nos últimos anos, o desenvolvimento de novos produtos tem fomentado o estudo dos biomateriais existentes no mercado nacional, no sentido de conhecê-los para que possam ser úteis em algumas situações clínicas, como enxertos sinusais e alveolares ou mesmo aumentos vertical e horizontal de rebordo atrófico.

Na condição de scaffolds, o uso dos biomateriais tem como objetivo promover a interação com as células da região e permitir adesão celular na sua estrutura, bem como a deposição de matriz extracelular; conceder suficiente transporte de gases, nutrientes e fatores regulatórios à sobrevivência celular e sua diferenciação e proliferação; ser biodegradável a níveis controláveis que se aproximem da taxa de regeneração dos tecidos adjacentes; provocar o mínimo grau de reação inflamatória e toxicidade in vivo; ter capacidade de manter o espaço biológico para neoformação óssea; e, preferencialmente, ser substituído por osso neoformado após sua dissolução química e remodelação óssea por osteoclastos1.

Com relação à estrutura física, os biomateriais particulados podem ser orgânicos, inorgânicos, compostos (mix de orgânico com inorgânico), bifásicos nas diversas proporções ou integrais. Com relação à propriedade biológica, a osteocondução é predominante entre todos os biomateriais avaliados2.

Uma tese3 estudou diversos biomateriais particulados (GenOx Inorg, GenPhos XP e Bio-Oss) implantados em defeitos ósseos de calvária de ratos e demonstrou sua osteocondutividade, já que houve neoformação óssea por todo o defeito ósseo.

Outro estudo4 comparou o uso de GenPhos XP em defeitos críticos de calvária de ratos – material que tem a proporção de 70:30 entre a hidroxiapatita sintética porosa e o betatrifosfato de cálcio, respectivamente – com outro material bifásico que apresenta a proporção 60:40 dos mesmos componentes. A conclusão foi de que ambos apresentam propriedades osteocondutoras, com neoformação óssea em áreas de defeitos críticos em calvária de ratos, com uma diferença significativa no período de 60 dias a favor do GenPhos XP quando comparado ao BoneCeramic.

Este resultado de osteocondutividade diferenciada do biomaterial bifásico pode ser explicado por uma atividade biológica denominada osteoindução, observada por autores5 que estudaram o biomaterial bifásico GenPhos XP (Baumer – Mogi Mirim/SP, Brasil) e obtiveram um resultado surpreendente quando o avaliaram microscopicamente, após ser implantado no plano muscular de ratos. Eles notaram a neoformação óssea junto das partículas e, inclusive, no interior de suas concavidades, já que sua superfície é porosa. Este resultado5 sugere que o material apresentou a propriedade biológica chamada osteoindução, pois houve a formação óssea em uma região onde não existem células pré-osteoblásticas e que não é comum em biomateriais sintéticos, pois, teoricamente, não existem fatores de crescimento e nem proteína óssea morfogenética – que seriam alguns dos fatores osteoindutores.

Este fenômeno observado5 poderia ser chamado de osteoindução? Uma possível explicação é que, segundo uma pesquisa6, as cerâmicas de fosfato de cálcio apresentam a dissolução do betatrifosfato de cálcio, que provoca aumento na concentração de íons Ca e P, resultando em precipitação de microcristais de apatita, o que favorece a aposição de tecido ósseo. De qualquer forma, foi um resultado interessante e incomum nos biomateriais sintéticos, e novas pesquisas deverão ser realizadas com esta metodologia.

Outro estudo com o produto GenPhos XP foi realizado7 comparando a alteração volumétrica de enxertos sinusais em pacientes com o osso autógeno. Os resultados demonstraram que os pacientes que receberam o GenPhos XP tiveram a manutenção do volume do enxerto após seis meses de pós-operatório, o que não surpreende, pois o osso autógeno apresenta uma reabsorção na fase de reparo do enxerto8.

O GenPhos XP possui as granulometrias de 0,50-0,75 mm e 0,75-1 mm, e está indicado para o preenchimento alveolar, preenchimento de defeitos ósseos, enxerto sinusal e aumento vertical e horizontal de rebordo atrófico na proporção de 50%-50% com osso autógeno particulado9.

Relato de caso

Paciente do sexo feminino, com 40 anos de idade, apresentava entre 4 mm e 5,40 mm de remanescente ósseo (Figura 1) na região do 15, o que indicava a necessidade de enxerto sinusal para a instalação de implante.

A paciente não tinha hábitos ou doença sistêmica. Foi feita profilaxia antibiótica com 2 g de amoxicilina uma hora antes da cirurgia. A anestesia foi realizada com articaína 4% com adrenalina 1:100.000 pela técnica de bloqueio do nervo alveolar posterossuperior, infraorbitário e palatino maior, bem como complementações infiltrativas. A incisão e o retalho foram mucoperiosteais, sendo a incisão relaxante realizada na distal do 17. A osteotomia foi feita com broca específica para sinus (Fresa LSM, Black Polymers – WF). Após a osteotomia na parede lateral do seio maxilar e o descolamento da membrana sinusal, foi colocada a membrana de cortical de osso bovino (GenDerm, Baumer – Mogi Mirim/SP, Brasil) no interior da cavidade sinusal e em contato com a membrana sinusal (Figura 2).

Na sequência, o seio maxilar foi preenchido com o GenPhos XP, partículas de 0,75-1 mm (Figura 3), e a janela lateral foi protegida com a membrana GenDerm (Figura 4).

Após a execução da sutura interrompida simples com fio de nylon 4.0, foi realizada a medicação pós-operatória (amoxicilina 500 mg de 8h/8h, nimesulida 100 mg de 12h/12h e paracetamol 750 mg em caso de dor) e a paciente foi orientada sobre os cuidados com relação à dieta, repouso relativo, higienização bucal e nasal.

Decorridos dez meses, foi feita outra tomografia computadorizada, na qual observou-se o ganho em altura para 11,42 mm (Figura 5), o que possibilitou a instalação de implante osseointegrável Neodent CM Alvim 3,5 x 11,5 Neoporos (Figura 6). Passado o período de osseointegração, de cinco meses, foi confeccionada a prótese final sobre o implante (Figura 7).

Conclusão

Pode-se afirmar que, de acordo com as pesquisas experimentais e clínicas, o material bifásico GenPhos XP pode ser considerado uma excelente opção para o preenchimento alveolar e enxerto sinusal. Mas, são necessárias novas pesquisas para avaliar sua indicação para os aumentos vertical e horizontal de rebordo atrófico em combinação com o osso autógeno9 ou com concentrados celulares na forma de stick bone.

Referências
1. Yamada M, Egusa H. Current bone substitutes for implant dentistry. J Prosthodont Res 2018;62(2):152-61.
2. Carvalho PSP, Rosa AL, Bassi APF, Pereira LAVD. Biomateriais aplicados à Implantodontia. ImplantNews 2010;4(7):57-65.
3. Arantes RVN. Avaliação microtomográfica e histomorfométrica do processo de reparo em defeitos ósseos em calvária de coelhos tratados com diferentes materiais de enxerto (tese). Bauru: Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, 2016.
4. Bernardes MA. Avaliação histomorfométrica da osteocondução de dois substitutos ósseos bifásicos de HA/β-TCP em defeitos críticos de calota craniana de ratos (dissertação). Campinas: Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic, 2020.
5. Santos P, Cestari T, Paulin J, Martins R, Rocha C, Arantes R et al. Osteoinductive porous biphasic calcium phosphate ceramic as an alternative to autogenous bone grafting in the treatment of mandibular bone critical-size defects. J Biomed Mater Res B Appl Biomater 2018;106(4):1546-57.
6. Eliaz N, Metoki N. Calcium phosphate bioceramics: a review of their history, structure, properties, coating technologies and biomedical application. Materials (Basel) 2017;10(4):334.
7. Machado RQP. Estudo pré-clínico e clínico de uma nova cerâmica porosa de fosfato de cálcio como alternativa para o reparo de defeitos ósseos [tese]. Bauru: Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, 2018.
8. Rinaldi NE. Avaliação da remodelação óssea em enxertos sinusais após reabilitação protética sobre implantes [dissertação]. Campinas: Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic, 2014.
9. Urban IA, Monje A, Lozada J, Wang HL. Principles for vertical ridge augmentation in the atrophic posterior mandible: a technical review. Int J Periodontics Restorative Dent 2017;37(5):639-45.