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Representação digital de uma célula expressando a molécula HLA – antígeno leucocitário humano. Esta molécula é reconhecida pelo sistema imune do receptor. (Imagem: Depositphotos)

Ação do sistema imune na enxertia de alógenos

As indicações cirúrgicas e contraindicações ou dificuldades de uso do osso autógeno tornaram a enxertia de alógenos uma alternativa.


Para a instalação dos implantes dentários e a consequente reabilitação protética, é necessário que o paciente possua quantidade e qualidade óssea suficientes. Caso não haja, o cirurgião-dentista deverá promover uma regeneração para aumento ósseo utilizando um dos diferentes tipos de biomateriais.

As classes tradicionais de materiais de enxerto ósseo incluem os autógenos, alógenos, xenógenos e aloplásticos. A indicação do tipo de biomaterial utilizado para o aumento ósseo depende dos vários fatores que envolvem o procedimento, como quadro de saúde sistêmica do paciente, extensão do dano ósseo a ser recuperado, recomendação de uso do biomaterial, dentre outros. Cada situação cirúrgica pode demandar diferentes possibilidades de técnicas e de biomateriais, sendo que cada um apresenta vantagens ou desvantagens.

Em decorrência das indicações cirúrgicas e contraindicações ou dificuldades de uso do osso autógeno, os ossos alógenos se tornaram uma alternativa. No Brasil, em 2005, o Sistema Nacional de Transplantes autorizou que cirurgiões-dentistas especializados utilizem o osso alógeno. Desde então, houve um aumento exponencial no uso deste tipo de biomaterial na Odontologia. Entre 2010 e 2013, mais de 23 mil ossos alógenos foram utilizados anualmente para transplante, dos quais mais de 90% foram destinados à Odontologia.

Para que seja possível empregar o osso como material de transplante, a aloimunogenicidade (capacidade do sistema imunológico de um indivíduo reconhecer e atacar um antígeno estranho) é minimizada por processos físicos, tais como o ultracongelamento, que induz o rompimento das membranas das células, resultando em morte celular. Isso reduz o volume da célula e dificulta o processo de reconhecimento da molécula HLA (antígeno leucocitário humano) pelas células de defesa do receptor. No entanto, foi demonstrada a presença de células intactas dentro das estruturas ósseas mesmo após o processamento e ultracongelamento realizados em bancos de tecidos muscoloesqueléticos. Uma vez que persistem células intactas dentro do tecido ósseo, temos presentes, portanto, as proteínas de membrana intactas, incluindo a molécula HLA. As células T do indivíduo receptor do osso alógeno reconhecem o complexo HLA estranho na superfície das células do osso do doador e se ligam a ele através do receptor de células T (TCR). Como resultado, pode-se iniciar um dano ao doador por meio da produção de anticorpos anti-HLA.

Dados publicados pelo nosso grupo de pesquisa demonstraram que os antígenos HLA foram detectáveis após o uso de blocos ósseos de enxertos alógenos frescos congelados e que, portanto, a antigenicidade não é eliminada em todos os casos. Nossos dados demonstraram que o uso de enxertos alógenos congelados resulta em volume e qualidade óssea adequados, possibilitando a instalação e osseointegração de implantes.

No entanto, induziu à sensibilização de indivíduos, que passaram a produzir anticorpos anti-HLA em 33% dos casos (vide artigo associado ao QR code). As perguntas que ficam sobre esta sensibilização imunológica nos pacientes, que receberam blocos ósseos alógenos frescos congelados são: 1) Qual é o impacto clínico para o enxerto após a sensibilização a longo prazo?; 2) Este potencial de sensibilização pode trazer prejuízos em caso de necessidade de um futuro transplante de órgão vivo?

A despeito do processamento realizado nos ossos alógenos frescos congelados para uso na Odontologia, as proteínas do complexo HLA do osso do doador podem sensibilizar o sistema imunológico do indivíduo receptor, e os efeitos adversos resultantes ainda precisam ser investigados. Outro fator a ser estudado é a avaliação da presença ou ausência de repercussões imunogênicas em ossos alógenos mais processados (por exemplo, liofilizados).

Mais conteúdo:

de Lacerda PE, Pelegrine AA, Teixeira ML et al.
Homologous transplantation with fresh frozen bone for dental implant placement can induce HLA sensitization: a preliminary study. Cell Tissue Bank 2016;17:465-72.
Confira o artigo original aqui.

Conteúdo disponibilizado pelo corpo docente da Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic, sob coordenação do Prof. Dr. Marcelo Napimoga.