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A rizectomia como alternativa para o tratamento de lesões endo-periodontais

Marco Bianchini apresenta o controle de 18 meses de um caso de rizectomia realizado no elemento 27 de uma paciente com 67 anos de idade.

Dentes com lesões de furca grau II ou III, geralmente, exibem uma destruição importante dos tecidos periodontais. Essas perdas de suporte ósseo periodontal, no sentido horizontal, atravessam parcial ou completamente para a outra face do elemento dental envolvido, caracterizando uma perda óssea bastante extensa, geralmente igual ou superior a 3 mm1-3. Tamanha destruição acaba condenando à exodontia os dentes acometidos por tais lesões.

Contudo, em algumas situações, ainda é possível manter em boca elementos dentais comprometidos por lesões de furca grau II ou III e tratá-los com uma terapia cirúrgica periodontal bastante conhecida: a rizectomia ou amputação radicular1,4-5. Este procedimento consiste na eliminação cirúrgica da raiz mais comprometida na lesão de furca e é indicado em dentes que possuem três ou mais raízes. Desta forma, se uma raiz comprometida for removida, ainda restarão duas ou mais raízes para que o dente fique estável e com condições de ser mantido através da terapia de suporte.

A técnica de rizectomia, propriamente dita, resume-se a um acesso cirúrgico para promover a raspagem a campo aberto e a consequente remoção da raiz condenada. Esta técnica pode ser usada no tratamento das lesões endoperiodontais, bem como em perdas ósseas provocadas apenas pela periodontite. Procedimentos regenerativos (enxertos ósseos e membranas) também podem ser associados à técnica, configurando uma boa possibilidade de sucesso clínico e radiográfico, aumentando o prognóstico das raízes que permanecerão no alvéolo1.

A cirurgia de rizectomia pode ser realizada sem alterações grosseiras na anatomia do dente e sem reconstruções protéticas, sendo considerada por alguns autores11,4-5 como uma abordagem conservadora. Contudo, geralmente os dentes acometidos por lesões endo-periodontais6 necessitarão de tratamento endodôntico, restaurações e/ou coroas para reparar o acesso aos canais radiculares. Desta forma, em muitas situações, o dente que teve uma de suas raízes removidas vai acabar necessitando de procedimentos restauradores maiores, o que irá enfraquecer ainda mais este elemento dental, diminuindo o prognóstico do tratamento proposto com a rizectomia.

Estudos1,5 mostraram que a maioria dos molares superiores que receberam amputação da raiz foram removidos antes de completar oito anos de acompanhamento. A causa da exodontia, em quase todos os casos, foi a contínua perda do osso periodontal, apesar da boa higiene oral e do controle cuidadoso da placa por parte desses pacientes. Mesmo assim, dependendo da idade e da condição do paciente, um tempo de sobrevivência de oito anos não pode ser desprezado.

Atualmente, embora seja possível manter os dentes em boca por alguns anos após uma rizectomia, a experiência clínica mostra que este procedimento é frequentemente uma etapa temporária ou provisória e que uma grande porcentagem desses dentes será extraída e substituída por implantes osseointegrados alguns anos após a remoção da raiz.

A rizectomia continua sendo uma opção para os casos de tratamento cirúrgico das lesões endoperiodontais6, principalmente para aqueles dentes que, por alguma razão, não se pode partir diretamente para a exodontia e colocação de implantes. Esses casos geralmente estão relacionados com dificuldades socioeconômicas dos pacientes, limitações sistêmicas ou indisponibilidade óssea para a colocação de implantes, o que demandaria procedimentos de enxertia, aumentando o tempo e o custo de todo o tratamento7. Estas situações acabam levando os pacientes a preferirem tratamentos mais conservadores, mesmo que estes sejam apenas por um período temporário.

A seguir, as Figuras 1 a 3 ilustram o controle de 18 meses de um caso de rizectomia realizado no elemento 27 de uma paciente com 67 anos de idade.

Referências
1. Sanz M, Jepsen K, Eickholz P, Jepsen S. Clinical concepts for regenerative therapy in furcations. Periodontol 2000 2015;68(1):308-32.
2. Papapanou PN, Tonetti MS. Diagnosis and epidemiology of periodontal osseous lesions. Periodontol 2000 2000;22:8-21.
3. Tarnow D, Fletcher P. Classification of the vertical component of furcation involvement. J Periodontol 1984;55(5):283-4.
4. Carnevale G, Kaldahl WB. Osseous resective surgery. Periodontol 2000 2000;22:59-87.
5. Green EN. Hemisection and root amputation. J Am Dent Assoc 1986;112(4):511-8.
6. Herrera D, Retamal-Valdes B, Alonso B, Feres M. Acute periodontal lesions (periodontal abscesses and necrotizing periodontal diseases) and endo-periodontal lesions. J Periodontol 2018;89(suppl.1):85-102.
7. Donos N, Laurell L, Mardas N. Hierarchical decisions on teeth vs. implants in the periodontitis-susceptible patient: the modern dilemma. Periodontol 2000 2012;59(1):89-110.