Marco Bianchini reforça que Periodontia e Implantodontia devem trabalhar juntas, favorecendo o pleno estabelecimento da saúde bucal e geral dos pacientes.
Antes dos implantes osseointegrados, a Periodontia preocupava-se intensamente em recuperar dentes perdidos e manter elementos abalados em boca. Para tanto, diversas modalidades de tratamentos periodontais foram exaustivamente pesquisadas e utilizadas na manutenção de dentes. Isto ocorria porque os resultados dos tratamentos convencionais para perdas de dentes (prótese fixas e removíveis) tinham um percentual de insucesso e de desconforto bastante relevantes e os dentes naturais “precisariam” ser mantidos a todo custo1.
Com o advento dos implantes osseointegrados e a euforia pelos resultados obtidos com a Implantodontia1-2, os dentes naturais hígidos ou com uma boa perspectiva de serem mantidos passaram a ser extraídos para dar lugar a implantes, pois estes dispositivos de titânio pareciam funcionar muito bem e até mesmo melhor do que muitos dentes com algum comprometimento periodontal.
Baseada nestas constatações, uma forte corrente de profissionais aderiu à “eutanásia dental”, que seria o conceito de se extrair dentes precocemente, que teriam um prognóstico duvidoso, para a colocação de implantes, pois estes dentes poderiam contaminar os implantes com bactérias potencialmente destrutivas. Essa abordagem faz com que as terapias tradicionais para doenças periodontais, bem documentadas e baseadas em evidências, não sejam utilizadas em todo o seu potencial1-2.
Atualmente, os problemas oriundos dos implantes osseointegrados são muitos3-4. A peri-implantite é o mais conhecido deles. Muitas dessas alterações peri-implantares, que ocorrem ao longo dos anos de uso dos implantes em boca, são de difícil resolução e muitos implantes vêm sendo perdidos ou removidos por uma série de fatores3-4. Esta constatação epidemiológica fez voltar na comunidade científica a importância de se manter o foco na Periodontia e na manutenção dos dentes naturais1-2,5, evitando-se extrações desnecessárias, sob o falso pretexto de que os implantes osssointegrados funcionariam melhor.
Para melhor ilustrar esta relação íntima entre a Periodontia e a Implantodontia, compartilho com vocês o caso clínico a seguir, com dez anos de acompanhamento. Trata-se de uma paciente de 42 anos, com doença periodontal, que teve a colocação de alguns implantes e a manutenção de dentes periodontalmente comprometidos. Por fim, podemos concluir que, apesar de a peri-implantite ser um problema real na terapia com implantes3-4, a presença de dentes naturais comprometidos periodontalmente, próximos aos locais onde se encontram implantes, não parece aumentar a prevalência da mesma2, especialmente se estes dentes forem adequadamente tratados com terapias periodontais e manutenções subsequentes5.
Desta forma, a Implantodontia e a Periodontia devem trabalhar juntas, favorecendo o pleno estabelecimento da saúde bucal e geral dos pacientes, seja pela reposição de dentes condenados por implantes ou pela manutenção de dentes que possam estar saudáveis após a terapia periodontal.
Referências
1. Donos N, Laurell L, Mardas N. Hierarchical decisions on teeth vs. implants in the periodontitis-susceptible patient: the modern dilemma. Periodontol 2000 2012 59(1):89-110.
2. Pjetursson BE, Asgeirsson AG, Zwahlen M, Sailer I. Improvements in implant dentistry over the last decade: comparison of survival and complication rates in older and newer publications. Int J Oral Maxillofac Implants 2014;29(suppl.):308-24.
3. Dalago HR, Schuldt Filho G, Rodrigues MA, Renvert S, Bianchini MA. Risk indicators for peri-implantitis. A cross-sectional study with 916 implants. Clin Oral Implants Res 2017;28(2):144-50.
4. Bianchini MA, Galarraga-Vinueza ME, Apaza-Bedoya K, de Souza JM, Magini R, Schwarz F. Two to six-year disease resolution and marginal bone stability rates of a modified resective-implantoplasty therapy in 32 peri-implantitis cases. Clin Implant Dent Relat Res 2019;21(4):758-65.
5. Pjetursson BE, Helbling C, Weber HP, Matuliene G, Salvi GE, Bragger U et al. Peri-implantitis susceptibility as it relates to periodontal therapy and supportive care. Clin Oral Implants Res 2012;23:888-94.
Marco Bianchini
Professor associado II do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.