Elcio Marcantonio Jr e Ísis Balderrama debatem as principais características da mucosa queratinizada de acordo com estudos.
Nas últimas três décadas, a taxa de sucesso dos implantes era avaliada pela taxa de sobrevivência, estabilidade da prótese, perda óssea radiográfica e ausência da infecção dos tecidos peri-implantares1. Com os avanços da Implantodontia contemporânea, além do fenômeno da osseointegração ser considerado o parâmetro predominante do sucesso dos implantes, novos fatores foram introduzidos e acrescentados, como o estado de saúde peri-implantar, tecido mole peri-implantar “natural”, parâmetros protéticos, estética e satisfação do paciente2.
A estética rosa tem se mostrado tão necessária quanto a osseointegração e, para quantificar esses parâmetros estéticos, alguns escores foram criados para avaliar o tecido mole peri-implantar3. A fim de manter uma adequada estabilidade tecidual ao redor dos implantes, deve ser levada em consideração a condição prévia do fenótipo tecidual ao redor do dente4.
Um ponto importante e muito discutido na literatura é a presença da mucosa queratinizada (MQ) ao redor dos implantes. Muitos estudos científicos afirmam sobre a importância da MQ ao redor dos implantes osseointegrados, para manter a estabilidade clínica dos tecidos mole e duro em longo prazo em relação à higienização, manutenção tecidual e estética5.
Sabe-se que a mucosa queratinizada dá proteção aos tecidos, devido à queratina que é mecanicamente resistente, insolúvel e flexível, assim como no conjunto de sua estrutura. Isto é, a presença de um epitélio estratificado espesso que protege os tecidos subjacentes, um tecido conjuntivo que é rico em fibras colágenas e lâmina própria demonstra uma ótima adaptação à superfície do implante ou abutment5. Essa quantidade de MQ ao redor do implante pode ser determinada pela quantidade original de gengiva, pela quantidade de remodelação do tecido pós-extração ou pela posição da superfície do implante em relação à linha mucogengival5.
Estudos afirmam que uma adequada largura de MQ está associada com menos acúmulo de placa bacteriana e inflamação tecidual, ausência de recessão peri-implantar e ausência de perda de inserção clínica6-7. Da mesma forma, outros estudos concordam em afirmar que essa ausência de MQ está associada com uma pobre condição de saúde do tecido peri-implantar, levando o paciente à evolução da mucosite peri-implantar7-8.
A falta de uma largura adequada (maior ou igual a 2 mm) está relacionada com um maior risco de inflamação peri-implantar e perda de tecido mole e duro. Então, uma largura de mucosa queratinizada menor que 2 mm ao redor dos implantes demonstra uma maior taxa de sangramento à sondagem, acúmulo de placa e inflamação da mucosa, quando comparada com sítios maior ou igual a 2 mm9-11.
Outro fator importante é a indicação cirúrgica para o aumento do tecido mole peri-implantar para aprimorar a largura de MQ. Este aumento pode ser realizado antes, durante ou no segundo estágio (reabertura) de instalação do implante – nestes casos, são produzidos resultados mais previsíveis. Quando o implante já está em função com a prótese definitiva, geralmente são casos mais complexos e que possuem as doenças peri-implantares12.
A importância da mucosa queratinizada se dá pela relevância da manutenção do controle de higiene oral que se mostra obrigatório para garantir a saúde do tecido ao redor do implante, ou seja, há melhor conforto durante a escovação devido à presença mínima de uma largura maior ou igual a 2 mm de MQ ao redor dos implantes13.
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Coordenação:
Elcio Marcantonio Jr.
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia, e coordenador do curso de especialização em Implantodontia – FOAr/Unesp; Professor colaborador do Ilapeo.
Orcid: 0000-0002-9660-4524.
Autora convidada:
Ísis de Fátima Balderrama
Cirurgiã-dentista – PUC/PR; Especialista em Periodontia e mestra em Reabilitação Oral – FOB/USP; Estágio no Depto. de Periodontia – Universidade de Malmö, Suécia; Doutoranda em Implantodontia – FOAr/Unesp.
Orcid: 0000-0002-8606-9054.