Marco Bianchini apresenta caso clínico com protocolo de tratamento cirúrgico para correção do sorriso gengival em uma paciente com erupção passiva alterada.
Atualmente, a estética do sorriso é uma preocupação constante dos pacientes e vem sendo muito explorada, principalmente pelos mais jovens, nas redes sociais. Desta forma, qualquer alteração na face, especialmente no sorriso, tende a ser minimamente percebida, levando os pacientes a desejarem corrigir estes supostos defeitos.
A literatura mostra que um sorriso esteticamente agradável ocorre através da relação harmoniosa entre lábios, gengiva e dentes. Estima-se que pelo menos 10% da população tenha exposição excessiva da gengiva, sendo a maioria mulheres1.
A exposição das coroas dos incisivos superiores e do tecido gengival em relação ao lábio superior classificará o sorriso em: baixo, médio ou alto. O sorriso esteticamente aceitável é considerado de altura média, mostrando todas as coroas dos incisivos superiores e cerca de 1 mm de gengiva2. Exposições acima de 3 mm de gengiva são classificadas como sorriso gengival.
A etiologia do sorriso gengival foi atribuída a vários fatores, incluindo hiperplasia gengival, lábios superiores curtos ou hiperativos, excesso vertical do osso maxilar, coroas clínicas curtas etc. Este comprimento insuficiente da coroa pode ser causado por uma erupção passiva alterada (EPA), que é descrita como uma condição durante uma erupção dentária na qual as margens gengivais não retrocedem ao nível da junção cemento-esmalte.
O aumento de coroa clínica pode ser definido como um procedimento cirúrgico proposto para expor mais estruturas dentárias para restaurações e/ou requisitos estéticos. Este aumento pode englobar somente a remoção da gengiva, através da gengivectomia, ou do osso, através de uma osteotomia e osoteoplastia3.
A decisão da intensidade de remoção dos tecidos moles e duros passa invariavelmente pelo planejamento, que envolve um exame clínico e radiográfico. A introdução da tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) na Odontologia oferece oportunidades de se obter imagens em vários planos, fornecendo informações tridimensionais (3D). O uso destas tomografias, também conhecidas como tomografias volumétricas, é de grande valor no diagnóstico e planejamento cirúrgico do sorriso gengival. Uma pequena modificação da técnica, colocando-se um afastador labial durante o exame para favorecer a visualização, e, consequentemente, as medidas das estruturas periodontais mole e dura, fornecem aos clínicos uma avaliação real das medidas do espaço biológico e estruturas afins4.
O caso clínico aqui descrito demonstra um protocolo de tratamento cirúrgico para correção do sorriso gengival em uma paciente com erupção passiva alterada, utilizando TCFC para o desenvolvimento da metodologia diagnóstica e planejamento do caso.
Como forma de tratamento para este caso clínico, optou-se por uma terapia cirúrgica de campo aberto (aumento de coroa clínica). A TCFC foi realizada com um afastador de lábio e bochecha de plástico, sendo tomadas as medidas respeitando as distâncias biológicas entre a margem gengival e o rebordo ósseo alveolar. Com a ajuda de um guia cirúrgico e uma lâmina de bisturi, foram realizadas uma gengivoplastia e, com o auxílio de uma broca H207D (Komet, Brasil), uma osteotomia, mantendo-se a distância de 3 mm da junção cemento-esmalte até a crista óssea.
A técnica do aumento de coroa clínica com abertura de retalho para corrigir um sorriso gengival, descrita no presente artigo, é um interessante recurso para minimizar os efeitos do excesso de exposição gengival. O acompanhamento de oito meses pós-operatório demonstra que os resultados iniciais são bastante satisfatórios.
A última edição da ImplantNews5-6 apresentou artigos sobre a harmonização entre a face e o sorriso5, além da técnica sem retalho (flapless)6, que também tem uma forte relação com a estética do sorriso. Isto demonstra que são vários os recursos e as técnicas na Odontologia empregados na melhora da estética do sorriso.
Ortodontia, harmonização facial, laminados, lentes de contato etc. podem ser feitos isoladamente ou em conjunto com procedimentos cirúrgicos periodontais, a fim de melhorar a estética como um todo. Cabe ao periodontista tomar decisões compartilhadas com o paciente e escolher as melhores técnicas para alcançar os objetivos finais, satisfazendo os anseios do paciente sem prejudicar a sua saúde.
Referências
1. Sousa SJB, Magalhães D, Silva GR, Soares CJ, Soares PFB, Santos-filho PCF. Cirurgia plástica periodontal para correção de sorriso gengival associada a restaurações em resina composta: relato de caso clínico. Rev Odontol Bras Central 2010;19:362-6.
2. Vacek JS, Gher ME, Assad DA, Richardson AC, Giambarresi LI. The dimensions of the human dentogingival junction. Int J Periodontics Restorative Dent 1994;14(2):154-65.
3. Cairo F, Graziani F, Franchi L, Defraia E, Pini Prato GP. Periodontal plastic surgery to improve aesthetics in patients with altered passive eruption/gummy smile: a case series study. Int J Dent 2012;2012:837658 (DOI:10.1155/2012/837658).
4. Januário AL, Duarte WR, Barriviera M, Mesti JC, Araújo MG, Lindhe J. Dimension of the facial bone wall in the anterior maxilla: a cone-beam computed tomography study. Clin Oral Implants Res 2011;22(10):1168-71.
5. Thiesen KPPR, de Andrade GS, Schmitt VL, Naufel FS, Rigo RC. Harmonização entre face e sorriso. ImplantNews Reab Oral 2020;5(3):470-6.
6. Schoenberger E, Anesi RS, de Souza VZ. Aumento de coroa clínica pela técnica flapless aliada à reabilitação estética. ImplantNews Reab Oral 2020;5(3):424-31.
Coordenação:
Marco Bianchini
Professor associado II do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Autor convidado:
Mario Escobar
Doutorando e mestre em Implantodontia – Universidade Federal de Santa Catarina; Especialização em Implantodontia – Unique Cursos.