Sérgio Scombatti destaca opções eficazes como substitutos ósseos para elevação do assoalho do seio maxilar.
A instalação de implantes osseointegráveis na região posterior de maxila constitui um desafio clínico em pacientes que possuem rebordos alveolares residuais com altura óssea reduzida. A diminuição da disponibilidade óssea nessa região decorre fundamentalmente da reabsorção alveolar fisiológica pós-exodontia e da pneumatização progressiva dos seios maxilares, ocasionando perdas verticais consideráveis.
No sentido de contornar esse desafio, a cirurgia de levantamento de seio maxilar foi proposta na década de 1970, tendo sido aprimorada com o uso de enxertos ósseos nos anos subsequentes1-2. Durante muitos anos, o osso autógeno foi utilizado como material de escolha nos procedimentos de enxertia, devido às suas propriedades osteogênicas, osteocondutoras e osteoindutoras. No entanto, sua utilização está associada a uma maior morbidade cirúrgica e ao tempo transoperatório aumentado, em razão da necessidade de haver um leito ósseo doador intra ou extrabucal3-7.
Nos dias atuais, a busca por substitutos ósseos que promovam formação óssea em quantidade e qualidade adequadas para a instalação e longevidade de implantes osseointegráveis tornou-se alvo dos trabalhos de investigação científica. Esses substitutos ósseos são utilizados no intuito de propiciar um ambiente osteocondutor, funcionando como um verdadeiro arcabouço para a formação de osso novo. Biomateriais de origem homógena (originados de indivíduos da mesma espécie), xenógena (indivíduos de espécies diferentes) e aloplástica (sintéticos) têm sido empregados clinicamente nas cirurgias de levantamento de seio maxilar.
Os ossos homógenos encontram-se disponíveis nas formas de enxerto ósseo fresco congelado (fresh frozen bone allograft – FFBA), enxerto ósseo liofilizado (freeze dried bone allograft – FDBA) e enxerto ósseo liofilizado desmineralizado (demineralized freeze dried bone allograft – DFDBA). No Brasil, desde 2005, este substituto ósseo pode ser obtido a partir de bancos de tecidos musculoesqueléticos espalhados pelo País. O material pode ser solicitado em partículas ou em blocos corticais, córtico-esponjosos ou esponjosos, ficando a escolha a critério do cirurgião. Recentemente, estudos clínicos mostraram que o uso desse enxerto nas cirurgias de levantamento de seio maxilar está associado à manutenção volumétrica em longo prazo do osso neoformado, possibilitando a instalação de implantes com alta taxa de sobrevivência8-13.
Outra opção eficaz como substituto ósseo para preenchimento de seios maxilares elevados são os biomateriais aloplásticos ou sintéticos, representados fundamentalmente pela associação entre a hidroxiapatita (HA) e o beta fosfato tricálcio (b-TCP). A composição desses biomateriais combina a estabilidade volumétrica e resistência mecânica da HA com a reabsorção acelerada do (b-TCP)14-15. Comercialmente, encontram-se disponíveis na forma de grânulos ou de pastas injetáveis. No ano passado, um estudo clínico randomizado avaliou comparativamente a eficácia de um enxerto aloplástico (60% HA / 40% b-TCP) em relação ao osso bovino inorgânico. Os autores observaram, por meio de análises microtomográficas e histomorfométricas, que os materiais de enxertia apresentavam osteocondutividades similares e uma taxa de sobrevivência de implantes de 100% após um período de acompanhamento de 21 meses16.
Considerado o substituo ósseo mais estudado e empregado para cirurgia de levantamento de seio maxilar nos últimos anos, o osso bovino mineral inorgânico (OBMI) é o principal exemplo de biomaterial de origem xenógena. O OBMI é constituído basicamente de hidroxiapatita natural inorgânica de reabsorção lenta, podendo ser encontrado comercialmente na forma de grânulos ou em blocos. Sua constituição porosa e a liberação de íons Ca2+ e PO43- favorecem a angiogênese e a adsorção de proteínas e células importantes para a formação óssea17-20. Estudos clínicos e experimentais comparativos entre o OBMI puro e o osso autógeno nas cirurgias de levantamento de seio maxilar demonstraram não haver diferença entre os grupos com relação à quantidade e qualidade de osso neoformado, permitindo a instalação de implantes osseointegráveis com altas taxas de sucesso21-23. Mais recentemente, um estudo clínico prospectivo mostrou que a adição da fibrina rica em plaquetas e leucócitos (L-PRF) ao OBMI pode acelerar o processo de neoformação óssea nas cirurgias de levantamento seio maxilar, possibilitando a instalação de implantes osseointegráveis mais precocemente, após um período de quatro meses24. As Figuras 1 a 10 exemplificam a utilização do L-PRF associado ao OBMI em uma cirurgia de levantamento de seio maxilar.
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Coordenação:
Sérgio Luís Scombatti
Doutor em Periodontia – FOB/USP; Livre-docente em Periodontia e professor do Depto. de CTBMF e Periodontia Forp–USP.
Orcid: 0000-0002-6199-7348.
Autores convidados:
Samuel Porfírio Xavier
Professor associado livre-docente do Depto. de CTBMF e Periodontia – Forp/USP.
Erick Ricardo Silva
Especialista, mestre e doutor em CTBMF – Forp/USP; Professor do curso de graduação em Odontologia – Unifran/Cruzeiro do Sul.