Estar atento aos diversos fatores que influenciam a estética de um sorriso é essencial para a satisfação do paciente. Aqui apresentamos uma abordagem periodontal.
O tecido gengival é fundamental para a estética do sorriso. Problemas com a sua coloração, destoando da cor rosa normal, o excesso de tecido, como em casos de sorriso gengival, ou a falta dele, como em casos de perda de papila ou de recessões gengivais, são motivos de queixas frequentes na clínica. Dessa forma, o domínio de procedimentos e técnicas para correção dessas condições clínicas é cada vez mais necessário.
A recessão gengival, definida como a migração apical da margem gengival em relação à junção cemento-esmalte, e a consequente exposição da superfície radicular é uma condição que frequentemente leva à queixa estética por parte dos pacientes, pois a migração da margem gengival deixa o dente afetado com a dimensão ápico-coronária diferente dos elementos vizinhos, e a harmonia do sorriso é prejudicada. É uma condição bastante frequente em adultos e deve ser tratada por meio da cirurgia plástica periodontal.
Existem diversos procedimentos e protocolos cirúrgicos para o tratamento de recessões gengivais. Um dos mais comumente empregados, e que a literatura aponta com o padrão-ouro, é a combinação de um retalho posicionado coronariamente com a colocação de enxerto de tecido conjuntivo autógeno¹. Esse procedimento é bastante eficaz para o tratamento de defeitos unitários ou múltiplos, associados ou não às lesões cervicais não cariosas².
Para o sucesso no manejo de defeitos de recessão do tecido gengival, o primeiro passo é o controle do fator etiológico e de condições clínicas que podem influenciar no aparecimento desse defeito e no prognóstico do seu tratamento. Assim, a escovação do paciente deve ser ajustada para evitar trauma nos tecidos, os focos de inflamação gengival devem ser tratados e fatores como posição dental e cavidades na superfície dentária devem ser corrigidos.
A escolha do procedimento para o tratamento das recessões deve levar em consideração as características clínicas do local a ser tratado, as expectativas do paciente e as condições necessárias para que haja um bom recobrimento das raízes expostas e a manutenção dos resultados em longo prazo. A literatura aponta que uma faixa de tecido queratinizado (2 mm ou mais) e uma espessura adequada³ (idealmente acima de 1,4 mm) são parâmetros importantes para a estabilidade do resultado a longo prazo, portanto também devem ser objetivos terapêuticos a serem alcançados durante o procedimento cirúrgico. O caso a seguir ilustra bem esse conceito.
Recessões gengivais múltiplas afetando desde o elemento 21 até o 26. Note a pouca faixa de tecido queratinizado e o fenótipo fino nos elementos 23 e 24.
Para esse caso, o retalho avançado coronariamente modificado foi a técnica de escolha devido à demanda estética do paciente. Foram realizadas incisões oblíquas nas bases das papilas, seguidas de incisões sulculares.
Após a elevação do retalho e a desepitelização das papilas, um enxerto de tecido conjuntivo autógeno foi suturado nas papilas dos elementos 23 e 24.
Após a estabilização do enxerto, o retalho foi avançado coronariamente e suturado com suturas suspensórias.
Pós-operatório de três anos demonstrando um ótimo recobrimento radicular dos elementos envolvidos, aumento da faixa de tecido queratinizado e espessura nos elementos 23 e 24, onde o enxerto de tecido conjuntivo foi colocado. O paciente ficou satisfeito com o resultado estético final do caso.
Referências
1. Chambrone L, Tatakis DN. Periodontal soft tissue root coverage procedures: a systematic review from the AAP Regeneration Workshop. J Periodontol 2015;86(2 suppl.):8-51.
2. Santamaria MP, Silveira CA, Mathias IF, Neves FLDS, Dos Santos LM, Jardini MAN et al. Treatment of single maxillary gingival recession associated with non-carious cervical lesion: randomized clinical trial comparing connective tissue graft alone to graft plus partial restoration. J Clin Periodontol 2018;45(8):968-76.
3. Zuhr O, Akakpo D, Eickholz P, Vach K, Hürzeler MB, Petsos H et al. Tunnel technique with connective tissue graft versus coronally advanced flap with enamel matrix derivate for root coverage: 5-year results of an RCT using 3D digital measurement technology for volumetric comparison of soft tissue changes. J Clin Periodontol 2021;48(7):949-61.
Mauro Pedrine Santamaria
Especialista em Periodontia, mestre e doutor em Clínica Odontológica (Periodontia) – Unicamp; Professor livre-docente da disciplina de Periodontia, chefe do Depto. de Diagnóstico e Cirurgia, professor permanente e vice-coordenador do programa de pós-graduação em Biopatologia Bucal – ICT-Unesp.
Manuela Maria Viana Miguel
Mestra e doutoranda na área de Periodontia pelo programa de pós-graduação em Biopatologia Bucal – ICT-Unesp; Especialização em Estatística Aplicada – UFMG.
Ingrid Fernandes Mathias-Santamaria
Mestra e doutora em Odontologia Restauradora/Dentística – ICT-Unesp; Doutorado sanduíche – College of Dentistry, Restorative Dental Sciences/ University of Florida; Pós-doutora em Periodontia e professora colaboradora no programa de pós-graduação em Biopatologia Bucal – ICT-Unesp.