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Por trás dos bastidores: cerâmica sobre refratários

David Morita amplia abordagem sobre confecção de peças protéticas obtidas através da técnica de aplicação de cerâmica sobre refratários.

Dando sequência à edição anterior, vamos continuar a abordagem sobre confecção de peças protéticas obtidas através da técnica de aplicação de cerâmica sobre refratários. Essa é uma técnica antiga, se comparada às diversas disponíveis hoje no ambiente laboratorial. Porém, trata-se de uma técnica de baixo custo, em que o profissional não precisa realizar grandes investimentos financeiros.

Ao mesmo tempo, vale lembrar que ela é relativamente difícil, se considerarmos as várias etapas exigidas, pois aumenta a possibilidade de erros em consequência de possíveis distorções – o que leva à chamada frustação da técnica. Esse problema pode ocorrer devido aos materiais utilizados, mas é facilmente eliminado se o TPD levar em conta os cuidados na manipulação de cada material e respeitar todas as etapas necessárias.

No meu caso, esta técnica me abriu portas para confeccionar as famosas lentes de contato, pois, na ocasião, eu não tinha outro sistema de cerâmica e comecei a usá-la nos meus primeiros casos de restaurações minimamente invasivas. Isso me fez recordar da frase célebre do professor Mario Sergio Cortella: “Faça o teu melhor na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores para fazer melhor ainda”.

Há um contrassenso em relação a essa técnica, pois inúmeros profissionais desejam realizá-la mesmo existindo tantos outros novos equipamentos e materiais para a produção de peças em cerâmica, que evoluíram, proporcionam redução dos processos e garantem melhores resultados e com mais previsibilidade. Estou falando das cerâmicas injetadas e cerâmicas fresadas por CAD/CAM.

No caso desses novos materiais, após a confecção dos troquéis de revestimento, inicia-se a aplicação de cerâmica. Para isso, os troquéis devem ser hidratados com água destilada para evitar contaminação, já que qualquer outro tipo de água utilizada levará a contaminantes, como minerais, cloro, flúor, entre outros produtos presentes mesmo no líquido potável e filtrado.

Com os troquéis devidamente hidratados, a primeira camada de cerâmica deve ser aplicada de forma bem homogênea, ficar muito fina e bem condensada para evitar fissuras ou pequenas rachaduras. Caso esses problemas ocorram, é preciso descartar o troquel e confeccionar outro. Esta primeira camada é muito importante para gerar resistência na peça. A fragilidade de uma camada primária só será percebida ao final do trabalho, quando for feita a remoção do troquel de revestimento, pois as fissuras internas da peça levarão à fratura, o que pode acontecer no laboratório, na prova das peças em boca ou na cimentação.

Com uma camada inicial bem feita, pode-se começar a aplicação das outras camadas. O técnico pode dividir a aplicação em duas, três ou mais etapas. O número de camadas ou queimas é determinado pela habilidade do técnico aliado às recomendações do fabricante – isso é bastante importante, pois existem cerâmicas com maiores ou menores estabilidades no que se diz respeito às queimas em forno de cocção.

No caso apresentado a seguir, fiz três camadas de aplicação, sendo a primeira de fundação, a segunda de efeitos internos e a última de esmalte. A camada de efeitos foi realizada com incremento de pigmentos cerâmicos para potencializar a cor, pois, como espaço era limitado, foi preciso recorrer aos pigmentos para gerar os efeitos sem aumentar a espessura da cerâmica. E, por fim, uma terceira e última camada deu o formato ideal e desejado para as peças restauradoras. O acabamento foi feito com pontas diamantadas de corte fino para evitar fraturas ou ranhuras profundas. Borrachas de polimento de cerâmica também foram utilizadas para a finalização antes do glazeamento. O bom acabamento das peças garante uma superfície bem acabada e a possibilidade de observar os contornos e a textura antes do glaze.

Por fim, o glaze foi realizado e as peças ficaram prontas para a remoção do revestimento, sempre feito com o uso de microesfera de vidro – nunca utilizando o óxido de alumínio, pois ele possui um formato cristalino e criará microfissuras na parte interna das peças, levando todo o trabalho ao fracasso. Lembre-se de que, para cortar um vidro, basta apenas um risco formando uma linha de fratura: o mesmo acontecerá com as peças, caso seja utilizado o óxido de alumínio.