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Fio dental preso na área subgengival na mesial da coroa.

Peri-implantite induzida por fio dental

O difícil diagnóstico da peri-implantite induzida pelo fio dental conta com o exame clínico e a radiografia periapical.


Um dos métodos usados experimentalmente em animais para a indução de doença periodontal são as ligaduras feitas de fio dental1. Elas funcionam como fator de retenção do biofilme bacteriano e, quando localizadas na área subgengival, favorecem a mudança da microflora com o aumento de microrganismos patogênicos, além de desencadearem reação de corpo estranho2-3. Em humanos, o fio dental pode ficar retido em áreas com restaurações defeituosas, principalmente as com excesso. Isto causará inflamação gengival, normalmente associada a algum grau de desconforto. Nos casos em que esta situação se mantiver, a inflamação poderá levar à perda do tecido periodontal de suporte.

Recentemente, a inflamação causada pelo fio dental tem sido observada com maior frequência, provavelmente devido ao aumento do número de implantes dentários instalados. Nas próteses implantossuportadas, existe de uma a três interfaces entre o implante e a coroa, elevando o risco de gerar áreas de retenção do fio dental. A primeira interface ocorre entre o implante e o pilar; a segunda, em alguns casos, ocorre entre o pilar e as estruturas sobrefundidas; e a terceira ocorre entre o pilar e as coroas protéticas.

O caso clínico a seguir, cedido pelo professor Marcio Martins, mostra a evolução da perda óssea peri-implantar (Figuras 1 e 2) causada pela retenção de fio dental. Seis anos após a instalação da coroa sobre o implante, a área mesial do implante instalado na região do 37 se apresentava inflamada, com vermelhidão e exsudato. O paciente (66 anos, leucoderma) se queixava de sangramento e mau cheiro. Após o desparafusamento da coroa, observou-se filamentos do fio dental presos à coroa (Figura 3). A coroa foi confeccionada usando um pilar calcinável tipo Ucla com base de Cr-Co, no qual foi feito o enceramento da subestrutura para coroa parafusada, para fundição em Cr-Co e aplicação de cerâmica sobre a estrutura. No momento da instalação da coroa, toda a estrutura estava íntegra. Entretanto, provavelmente, o fio dental aplicado com força pode ter provocado uma leve deformação da estrutura sobrefundida (Figura 4) que, com o tempo, foi arrancada. Isso gerou uma área de retenção para o fio dental, que causou a inflamação.

O reparo da região do conjunto bainha metálica/sobrefundição foi feito com pedra de carborundum e borracha de polimento (Figura 5). Já o implante foi tratado de forma conservadora com spray de bicarbonato de sódio. Foi prescrito para o paciente a aplicação tópica do gel de clorexidina. O paciente foi mantido sob controle clínico e radiográfico. A radiografia periapical de controle feita após dez meses (Figura 6) mostra a recuperação, inclusive, da desmineralização óssea inicial (Figura 2). Após o tratamento, o paciente foi alertado para ficar atento às áreas em que o fio dental desfiava durante o uso.

Outra situação que também pode desencadear a retenção de fio dental é nas áreas em que o topo do implante fica acima da crista óssea, especialmente naqueles com superfície rugosa e microrroscas até o topo. Nestes casos, o uso do fio dental deve ser questionado, especialmente os tipos esponjosos. Deve-se considerar outros métodos de higiene interdental, como o uso de escovas interdentais ou de palitos de dente.

O diagnóstico da peri-implantite induzida pelo fio dental nem sempre é fácil, devido à radiolucidez dos fios dentais. O exame clínico revelará a inflamação da margem mucosa, enquanto a radiografia periapical, em casos de peri-implantite, mostrará perda óssea marginal. Para coroas parafusadas, o tratamento mostrado nesta coluna poderá ser suficiente. Para coroas cimentadas, pode ser necessária a realização de um acesso cirúrgico, sendo comum encontrar no tecido granulomatoso um material filamentoso que inicialmente é difícil de identificar.

Referências
1. Reinedahl D, Chrcanovic B, Albrektsson T, Tengvall P, Wennerberg A. Ligature-induced experimental peri-implantitis – a systematic review. J Clin Med 2018;7(12):492. Montevecchi M, De Blasi V, Checchi L. Is implant flossing a risk-free procedure? A case report with a 6-year follow-up. Int J Oral Maxillofac Implants 2016;31(3):e79-83.
2. van Velzen FJ, Lang NP, Schulten EA, Ten Bruggenkate CM. Dental floss as a possible risk for the development of peri-implant disease: an observational study of 10 cases. Clin Oral Implants Res 2016;27(5):618-21.

Leia também “Sombras acinzentadas após a instalação de implantes: o que são e como tratar?”, coluna de Guaracilei Maciel Vidigal Júnior na revista ImplantNewsPerio.