Novas técnicas possibilitam a utilização de materiais para diferentes fins dentro da Odontologia. Entenda a relação entre a tecnologia e o uso da fibra de vidro.
A restauração de dentes tratados endodonticamente e com extensa destruição coronária sempre foi um grande desafio para a Odontologia. Os núcleos intrarradiculares são importantes meios de reconstrução coronária a partir da utilização do conduto radicular como meio de retenção. Esse recurso restaurador requer características biológicas, mecânicas, adesivas, estéticas e clínicas dificilmente alcançadas por qualquer sistema existente.
Os tradicionais núcleos metálicos fundidos são modelados conforme a anatomia do conduto preparado, podendo ser cimentados de forma simplificada com diversos cimentos, mas possuem características estéticas indesejáveis e módulo de elasticidade diferente da dentina radicular.
Os pinos de fibra de vidro, por sua vez, possuem um módulo de elasticidade mais próximo ao encontrado na dentina, propiciam reconstruções estéticas em uma única consulta e são cimentados de forma adesiva às paredes do dente. Por outro lado, têm resistência mecânica inferior, são pré-fabricados e precisam ser adaptados ou anatomizados para se adequarem ao conduto preparado.
A Odontologia digital, juntamente com os sistemas CAD/CAM, tem permitido o desenvolvimento de novas técnicas de restauração e o uso de novos materiais. A empresa brasileira Angelus Produtos Odontológicos S/A (Londrina, Brasil) desenvolveu blocos de fibra de vidro com fibras dispostas em uma única direção, que podem ser usinadas em fresadoras (CNC) para obtenção de núcleos de fibra de vidro anatômicos, estéticos, com comportamento mais próximo ao das estruturas dentárias remanescentes e que podem ser cimentados adesivamente. Por ser um material ainda novo, muitos estudos precisam ser realizados para atestar sua real efetividade biológica e mecânica (Figura 1).
Na São Leopoldo Mandic, são crescentes os estudos e pesquisas envolvendo a participação da Odontologia digital. A dissertação de mestrado em Prótese Dentária da aluna Raquel Adriano Dantas, orientada pelo Prof. Dr. Guilherme da Gama Ramos, procurou comparar a resistência à fratura de dentes anteriores tratados endodonticamente enfraquecidos, sem férula e restaurados com dois sistemas compondo os grupos 1 e 2 (Figura 2).
Os dentes restaurados foram inseridos em blocos de resina acrílica a 2 mm da junção amelocementária, simulação do ligamento periodontal com poliéter (Impregum, 3M – Minesota, EUA). Foram posicionados com uma inclinação de 45º na máquina de ensaio universal Emic DL2000 e submetidos a uma força de compressão por uma ponta esférica a uma velocidade de 0,5 mm/minuto até a fratura ou deslocamento (Figura 3).
Os dentes restaurados com núcleo pré-fabricado (grupo 1) tiveram uma resistência mediana de 443,3 N, enquanto os dentes restaurados com núcleo fresado (grupo 2) apresentaram uma resistência mediana de 525,4 N. Apesar da diferença numérica, os grupos não apresentaram diferença estatisticamente significativa (p=0,26) com características de fratura similares em ambos os grupos, sem fratura do núcleo e com fratura radicular (Tabelas 1 e 2).
Os resultados apresentados demonstram o surgimento de uma alternativa viável, já que foram similares a uma das melhores opções para a reconstrução de dentes com destruição coronária extensa tratados endodonticamente. Apesar disso, ainda são necessários mais estudos laboratoriais e clínicos sobre o tema.
Dantas RA, Delgado LA, Rolim AKA, Martins JN, Ortega VL, Ramos GG. Comparison of the resistance of intrarradicular pin of glass fiber with experimental pin connected by CAD/CAM technology. RSD 2020;9(7):e884974905.
