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Novos tempos, novas estratégias: a retomada com biossegurança atualizada na Odontologia

O avanço da pandemia estabeleceu novos protocolos de segurança para a prática odontológica. Diante do cenário a frente, Victor Motalli expõe suas perspectivas da área.

Há quase dois anos, o mundo foi surpreendido pela Covid-19. Desde então, os profissionais de saúde uniram forças contra um inimigo desconhecido e perigoso buscando segurança. Os procedimentos eletivos foram reduzidos. Pesquisadores partiram em uma busca sem precedentes para deter o SARS-CoV-2, sendo a mais promissora a imunização em massa.

Chegamos ao momento atual, no qual é vislumbrada a tão almejada “normalidade”. Porém, as últimas notícias têm trazido insegurança. A Alemanha registrou em novembro o maior número de casos diários de Covid-19 desde o início da pandemia, com 50.196 novas infecções em 24 horas. A Europa vem sendo atingida por uma quarta onda de Covid-19 que está começando a pressionar hospitais em vários países, porém as mortes não cresceram na mesma proporção devido à vacinação.

Diante disso, com o intuito de apresentar à comunidade científica as estratégias utilizadas pelas clínicas de graduação e pós-graduação da Faculdade São Leopoldo Mandic, nosso grupo de pesquisa desenvolveu uma pesquisa para demonstrar a eficácia da associação de dois métodos no controle da dispersão de gotículas e aerossóis em ambiente de clínica-escola: a Barreira Individual de Biossegurança Odontológica (Bibo) associada ao uso da tecnologia UVC.

O estudo foi publicado recentemente no periódico internacional PLoS One. Utilizamos uma metodologia com o objetivo de avaliar novas estratégias associadas para reduzir o risco de transmissão cruzada em um ambiente de saúde, simulando a propagação de partículas potencialmente contaminadas no ambiente de clínica-escola (quatro clínicas contendo 12 cadeiras odontológicas cada).

Como grupo-controle positivo (sem barreiras), 12 profissionais ativaram ao mesmo tempo a turbina de alta rotação, durante um minuto, com uma solução bacteriana (Lactobacillus casei Shirota, 1,5 x 108 UFC/mL) que foi adicionada ao reservatório de resfriamento do equipamento odontológico. Nos grupos experimentais, os profissionais fizeram uso de: a) barreira individual de biossegurança odontológica (Bibo), que consiste em um suporte metálico coberto por uma barreira descartável de filme de PVC; b) uma unidade móvel de desinfecção por ultravioleta-C, composta por oito lâmpadas UV-C de 95 W, com 304 μW/cm2 de irradiância cada, conectada durante 15 minutos (UV-C); e c) a associação entre os dois métodos (Bibo + UV-C), Figuras 1.

 

Em cada clínica, 56 placas de Petri contendo ágar MRS foram posicionadas nas lâmpadas, bancadas e no chão (Figura 2). A média (desvio-padrão) de L. casei Shirota para o grupo-contro positivo foi de 3.905 (1.521) UFC, enquanto nos grupos experimentais a média com o uso do Bibo foi de 940 (466) UFC, estabelecendo uma redução em média de 75% (p < 0,0001). Para o grupo UV-C, a média foi de 260 (309) UFC e a associação do uso de Bibo + UV-C promoveu uma contagem média geral de 152 (257) UFC, estabelecendo uma redução em média de 93% e 96%, respectivamente (p < 0,0001). Além disso, as placas também foram colocadas no corredor que liga as quatro clínicas (Figura 3).

Nos grupos sem barreira e Bibo + UV-C, os microrganismos passivos do ar em placas de Petri também foram avaliados nos tempos de 30, 60, 90 e 120 minutos após o término da ativação da broca odontológica (Figura 4).

Considerando esses resultados e o modelo de estudo utilizado, o uso da Bibo e da tecnologia UV-C demostraram ser estratégias eficientes para reduzir a dispersão dos bioaerossóis gerados em um ambiente com alta taxa de geração de gotículas e aerossóis, e podem ser alternativas para a melhora da biossegurança.

Apesar da existência de várias técnicas que podem reduzir a disseminação de patógenos, a falta de intervenções eficazes comprovadas tem permitido a disseminação incontrolável do vírus na população humana. Nossos resultados mostram que a Bibo e UV-C são ferramentas poderosas que podem ser aplicadas extensivamente em uma ampla gama de instituições, incluindo hospitais, ambulatórios e consultórios odontológicos, para desinfetar o ambiente potencialmente contaminado, prevenindo e reduzindo a transmissão de patógenos, incluindo o vírus SARS-CoV-2. 

Confira outras edições da coluna “Em dia com a biossegurança”.

Montalli VAM, Freitas PR, Torres MF, Torres Junior OF, Vilhena DHM, Junqueira JLC et al. Biosafety devices to control the spread of potentially contaminated dispersion particles. New associated strategies for health environments. PLoS One 2021;16(8):e0255533.

Confira a íntegra do artigo em: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0255533