Profissionais comparam técnicas de moldagem digital e tradicional para entender qual traz resultados clínicos mais precisos. Afinal, qual é a melhor escolha?
Até pouco tempo atrás, a moldagem convencional era a única opção que os cirurgiões-dentistas dispunham para transferir as informações clínicas de seu paciente para a confecção de um modelo. Foi o impacto da tecnologia digital sobre diversos processos da Odontologia que trouxe os scanners extraorais e, principalmente, intraorais, definindo o que hoje chamamos de moldagem digital.
Com a novidade, os profissionais de reabilitação oral passaram a comparar as técnicas de moldagem tradicional e digital para entender qual delas proporciona os resultados clínicos mais precisos e a melhor relação custo-benefício. Nessa avaliação, podemos considerar os inúmeros fatores envolvidos, como o tempo de cadeira, as repetições, o investimento em equipamentos, o conforto do paciente etc.
Na verdade, a Odontologia passa por uma fase de transição tecnológica, portanto seria mais correto entender que não existe técnica necessariamente superior ou inferior. Tanto os profissionais experientes como os mais jovens deverão se preparar para executar corretamente as duas técnicas, já que ambas possuem pontos fortes e fracos. No entanto, essa reflexão que compara o tradicional e o digital é fundamental para que cada clínico aproveite o seu tempo presente da melhor maneira, sem deixar de semear o caminho futuro.
A força da tradição
No contraponto das mais modernas técnicas de escaneamento digital, a Odontologia acumula centenas de anos no aprimoramento de suas técnicas para reproduzir com fidelidade os detalhes anatômicos de cada sorriso, por meio da moldagem tradicional.
Trata-se de uma grande variedade de materiais utilizados com esse fim, como alginatos, pasta zinco enólica, poliéter, silicones por condensação e silicones de adição. Uma vez que os moldes devem apresentar estabilidade dimensional, tempo de trabalho adequado, correta viscosidade e biocompatibilidade, o silicone de adição é considerado a primeira opção para fornecer um resultado preciso e com boa adaptação. Entre as técnicas mais utilizadas, estão a dupla moldagem (dois passos), moldagem simultânea (um passo com dois materiais) e a monofásica (um passo com um material).
De maneira geral, os materiais de moldagem devem oferecer, no mínimo, um minuto e meio de trabalho ao profissional. Um tempo menor poderá resultar na polimerização prematura, antes mesmo da inserção na cavidade oral do paciente. Se o tempo for mais longo, porém com curva de presa lenta, haverá risco de distorção, pois o paciente não consegue permanecer imóvel por um período prolongado, além de se sentir desconfortável.
Independentemente da técnica de moldagem utilizada (tradicional ou digital), é importante obter afastamento gengival adequado, tanto em termos de profundidade como em espessura. O afastamento vertical deve ser subgengival ao preparo, em torno de 2-3 décimos de milímetros, para permitir que o material registre a área além do limite do preparo. Isso é necessário para obter um adequado perfil de emergência protético; o afastamento horizontal deve permitir a obtenção de uma espessura adequada na área marginal para que o material não se solte no momento da remoção da moldeira. Se houver inflamação na gengiva, é fundamental que se realize o controle do sangramento, para que ele não interfira no resultado da moldagem.
A tecnologia encurtando caminhos
Com a força de um tsunami, a Odontologia digital vem se disseminando em todo o mundo. Os scanners intraorais são considerados a porta de entrada para que o cirurgião-dentista comece a se familiarizar com a tecnologia e, mais tarde, adote o fluxo digital completo, que inclui os softwares de planejamento, a impressão de guias cirúrgicos e modelos, e a fresagem de cerâmicas.
O principal argumento de divulgação da moldagem digital reside justamente nas vantagens dessa integração, já que as informações clínicas capturadas em poucos minutos podem ser enviadas imediatamente para o sistema em que serão trabalhadas. O método convencional, por sua vez, passa por uma série de etapas entre a aplicação do material na boca do paciente e a confecção do modelo em gesso. Depois, ainda existe um tempo de transporte desse modelo até o laboratório.
Ou seja, o fluxo digital é claramente mais ágil, uma vez que elimina o tempo despendido no trânsito dos modelos entre o consultório e o laboratório, diminuindo o tempo para finalização da prótese no final do tratamento.
Além da questão da agilidade, outro forte argumento favorável é que a moldagem digital é muito mais do que um mero substituto da moldagem tradicional, já que a digitalização das arcadas do paciente permite a integração dos modelos digitais com sistemas de diagnóstico, planejamento (cirurgia e prótese) e desenho do sorriso. Também é possível alinhar os modelos digitais com a face do paciente, usufruindo da vantagem de se trabalhar com estruturas tridimensionais.
Outra vantagem, que também é frequentemente lembrada pelos adeptos do digital, está na eliminação de eventuais erros que podem ocorrer em uma ou mais etapas da moldagem tradicional. Nesse aspecto, pode-se considerar desde a escolha incorreta dos materiais de moldagem até o emprego da técnica propriamente dita.
A moldagem digital é uma peça fundamental para os profissionais que pretendem aderir ao sistema chairside, realizando o processo clínico e laboratorial completo, o que possibilitaria a reabilitação completa do paciente em sessão única. Hoje, esse modelo de trabalho, que demanda um investimento maior em todos os equipamentos do fluxo digital, divide espaço com o serviço de aluguel de scanners, que é oferecido por muitos laboratórios de prótese e empresas de radiologia, de forma a facilitar o acesso dos clínicos à Odontologia digital, abrindo uma opção para quem não deseja investir na aquisição do scanner, pelo menos por enquanto.
Como em toda tecnologia nova, os profissionais precisam passar por um treinamento antes de desfrutarem de todas as vantagens da moldagem digital. No entanto, o relato de quem já abraçou a tecnologia mostra que a curva de aprendizado para a utilização dos scanners é relativamente pequena – principalmente quando comparada com outras etapas do fluxo digital.
Vale destacar que a moldagem digital ainda exige uma série de cuidados similares com o preparo e afastamento dos tecidos em casos de prótese sobre dente. Uma vez que os scanners utilizam luz em suas capturas – e luz não faz curva – é preciso estar atento aos preparos muito profundos e áreas subgengivais, sendo mais fácil nesses casos utilizar a moldagem tradicional. Outro ponto de atenção são as capturas de áreas extensas, que podem apresentar distorções.
Como não existe alteração dimensional de materiais no processo digital, a expectativa é que a adaptação das peças fresadas aconteça de forma mais fácil, com menos ajustes interproximais e oclusais. Além de todos os argumentos citados para a vantagem do clínico, pode-se destacar também os benefícios do paciente que, muitas vezes, tem aversão aos materiais de moldagem.
Além disso, uma vez que as informações estão inseridas em um sistema digital, fica mais fácil explicar ao paciente o trabalho que está sendo realizado.