Segundo Maria Geovânia Ferreira, o tratamento com microbotox é simples, não cirúrgico, com riscos baixos e sem tempo de inatividade.
Microbotox é a injeção de múltiplas microgotículas de toxina onabotulínica A diluída na derme ou na interface entre a derme e a camada superficial dos músculos faciais. O objetivo é diminuir a atividade das glândulas sudoríparas e sebáceas para melhorar a textura e o brilho da pele, e direcionar a camada superficial dos músculos que encontram aderência à superfície inferior da derme, causando rítides visíveis.
A microbotox foi desenvolvida no ano 2000 por Waffles Wu. O autor tem mais de 1.867 casos documentados de microbotox em várias partes da face (testa, glabelar, pés de galinha, infraorbital e bochechas) e pescoço. A técnica foi chamada inicialmente de mesobotox, pois o método de aplicação era parecido com a técnica da mesoterapia. Mais tarde, considerou-se que este termo não era suficientemente científico e nem transmitia a extensão ou profundidade das injeções sobre as áreas-alvo. O termo microbotox foi escolhido para refletir as pequenas doses de toxina distribuídas em cada microgotícula.
Portanto, microbotox se refere à injeção sistemática de múltiplas bolhas minúsculas de botox diluído em intervalos de 0,8 a 1 cm na pele ou logo abaixo, nas fibras superficiais dos músculos faciais. A intenção não é paralisar completamente os músculos faciais subjacentes, mas apenas enfraquecer as fibras superficiais que são inseridas na superfície inferior da pele, que são responsáveis pelas linhas finas e rugas no rosto e no pescoço.
Essas injeções intradérmicas teriam o efeito desejado de alisar e enrijecer a pele (devido à atrofia volumosa induzida neuroquimicamente das glândulas sudoríparas e sebáceas), bem como diminuir os efeitos sutis de tensionar os músculos faciais onde estão ligados à pele. Pequenos volumes de injeção evitariam a difusão indesejada da solução para os músculos mais profundos, retendo assim mais função muscular para dar uma aparência natural. Isso é especialmente útil nas regiões da testa ou sob os olhos, onde a dosagem tradicional de botox e o tamanho das gotas geralmente levam à testa rígida e imóvel ou pálpebras inferiores inanimadas.
Para o tratamento da parte inferior da face e pescoço, centenas de microgotículas de botox diluído são injetadas na derme ou no plano subdérmico imediato para melhorar a textura da pele, suavizar vincos horizontais e diminuir a formação de faixas verticais do pescoço, bem como para obter melhor aposição do platisma à linha da mandíbula e pescoço, aprimorando o contorno do ângulo cervicomental.
A solução de microbotox é misturada na seringa, adicionando um pequeno volume de lidocaína ou soro fisiológico à dose calculada de onabotulinumtoxin A retirada de um frasco padrão de botox preparado com 2,5 ml de solução salina. Cada seringa com 1 ml de solução microbotox contém de 20 a 28 unidades de onabotulinumtoxinA por ml de solução e é usada para administrar de 100 a 120 injeções. A parte inferior da face e pescoço geralmente requer 1 ml de cada lado. As injeções são administradas por via intradérmica, usando uma agulha de 30 G ou 32 G, levantando uma minúscula verga esbranquiçada em cada ponto.
No entanto, após a satisfação eufórica nos anos 1990 de ser capaz de induzir a paralisia dos músculos e reduzir o aparecimento de rugas periorbitais apenas por meio de injeções, muitos pacientes se queixavam da testa congelada, sobrancelhas rígidas e imóveis, e um aspecto anormal – aparência inanimada ao sorrir. Eles queriam resultados mais naturais e menos dramáticos.
Além disso, a aparência lisa e lustrosa da pele da testa, devido à diminuição da atividade das glândulas sebáceas e suor, foi um bônus estético. Este último foi um efeito que já havia sido notado sempre que as injeções intramusculares de botox na testa eram aplicadas, pois as bolhas usadas eram tão grandes que, inevitavelmente, algum botox se difundia na derme, criando um efeito intradérmico não intencional.
O uso de microbotox foi então estendido às linhas sob os olhos, para diminuir a oleosidade da zona T central do rosto e das bochechas, e eventualmente para a parte inferior da face e pescoço. A microbotox para a parte inferior da face e pescoço é uma solução não cirúrgica simples, ideal para pacientes que buscam melhora da flacidez e papada leve do pescoço, pele enrugada com textura áspera e linhas horizontais, e faixas verticais, mas não desejam submeter-se à cirurgia. São pacientes que já estão recebendo outros tratamentos não cirúrgicos para combater os sinais de envelhecimento. Eles devem ser informados de que os efeitos não duram mais do que alguns meses e que o procedimento deve ser repetido periodicamente para manter o resultado. A perda de resultado, portanto, não é considerada uma falha.
A maioria das complicações surgiu de erros com o tamanho da gota e a profundidade da injeção. Se as injeções forem administradas por via subdérmica e o tamanho da gota for maior do que o recomendado, a microbotox se difundirá na espessura do músculo subjacente, criando paralisia total em vez de um mero enfraquecimento muscular superficial. Da mesma forma, se a gota tiver sido aplicada corretamente por via intradérmica, mas for muito grande, também se difundirá mais profundamente no músculo subjacente. Quando isso acontece, os pacientes se queixam de sobrancelha rígida e imóvel, quando aplicados na região da testa, e fraqueza dos músculos esternocleidomastoideo e depressor do ângulo da boca, quando aplicados na parte inferior da face e pescoço. Assimetria e sorriso torto foram vistos em alguns pacientes1.
Algumas terapias para tratar pele oleosa podem causar efeitos colaterais graves. A eficácia do tratamento com toxina botulínica em pele oleosa tem causado grande preocupação. Não está totalmente claro quais são os mecanismos de BoNT-A que contribuem para diminuir a produção de sebo. O autor propôs que a BoNT-A reduziu efetivamente a produção de sebo por meio do bloqueio da sinalização colinérgica; e alertou que indivíduos com pele oleosa são mais responsivos à acetilcolina do que aqueles com pele normal, pois mais sebócitos maduros têm mais acetilcolina em suas glândulas sebáceas. Essa diferença é a razão pela qual as injeções intradérmicas de toxina botulínica diminuíram significativamente a pele oleosa, mas sem alterações significativas em pessoas com pele normal. No entanto, não há consenso em relação às técnicas de injeção e doses de BoNT-A. Em conclusão, a injeção intradérmica de BoNT-A pode representar um novo tratamento promissor para pele oleosa e outros problemas dermatológicos relevantes2.
O tratamento com microbotox é simples, não cirúrgico, com riscos baixos e sem tempo de inatividade. Ele mostra inúmeros benefícios terapêuticos para os pacientes, pois reduz os poros faciais grandes/proeminentes, reduz a produção de óleo facial, diminui o risco de acne e rosácea, e melhora a textura da pele. Por outro lado, a grande desvantagem dessa opção terapêutica é o efeito temporário, que costuma durar cerca de seis meses e precisa ser repetido quando necessário para manter o efeito desejado, como é o caso em diferentes indicações de botox3.
Maria Geovânia Ferreira
Especialista em Prótese Dentária – UFU; Professora nas áreas de toxina botulínica, biomateriais preenchedores e anatomia facial.
Orcid: 0000-0002-0807-515X.