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Alerta para o preenchimento de têmporas

Márcia Viotti destaca a importância da indicação correta para a realização do procedimento de preenchimento de têmporas.

Hoje em dia, muito se fala sobre o preenchimento da região de têmporas. Primeiramente, é interessante lembrar que é de suma importância o conhecimento anatômico desta região antes de realizar qualquer tipo de procedimento.

A base óssea da região temporal é composta pelos ossos frontal, esfenoide, temporal e parietal. Ela é limitada inferiormente no arco zigomático, superiormente na crista temporal, anteriormente na porção lateral da órbita e posteriormente no limite occipital do músculo temporal (cerca de 1 cm a 3 cm posterior à linha vertical que passa pelo meato acústico externo).

Para facilitar, didaticamente, alguns autores dividem a têmpora em anterior e posterior, utilizando uma linha que atravessa o meio do arco zigomático. Isto facilita o entendimento do efeito dado pelos preenchedores. Quando injetados na região anterior da têmpora, promovem correção das alterações locais, como perda de volume temporal e melhora do aspecto “esqueletizado”. Ao serem injetados na porção posterior, promovem lifting no terço médio e até no terço inferior da face.

Com o aumento de idade, a região temporal contribui para o envelhecimento facial, pois sofre alterações como a perda de volume temporal e maior visibilidade da crista temporal, da vascularização superficial, da rima orbitária e do arco zigomático, dando à face um aspecto “esqueletizado”, característica de face envelhecida.

Acima da estrutura óssea, há camadas de tecidos moles de diferentes espessuras dispostas paralelamente:

1 – Pele;
2 – Compartimento de gordura superficial: região segura, pois não há estruturas neurovasculares de maior calibre;
3 – Fáscia temporal superficial: é contínua à gálea aponeurótica (cranialmente) e músculo frontal (anterocranialmente). É composta de duas lâminas e, entre elas, encontram-se os ramos anterior e parietal da artéria temporal superficial;
4 – Gordura profunda da têmpora: este plano é contíguo ao tecido areolar (tecido conjuntivo frouxo) do scalp e com a fáscia inominada do compartimento temporal superior. Os compartimentos superior e inferior da têmpora são separados pelo septo. No inferior, encontramos a gordura profunda da têmpora e ramos do nervo facial. Ainda dentro da gordura temporal profunda, encontramos a veia temporozigomática medial, emergindo da fáscia temporal profunda junto com ramos do nervo zigomático temporal;
5 – Fáscia temporal profunda: contígua com o periósteo do crânio, também dividida em duas lâminas (superficial e profunda), que ocorre de 2 cm e 3 cm superior ao arco zigomático. A lâmina superficial da fáscia temporal profunda passa sobre a superfície do arco zigomático e é contígua à fáscia parotídea massetérica. Já a lâmina profunda da fáscia temporal se dirige profundamente ao arco zigomático e é contínua à fáscia bucotemporal, sendo o espaço criado entre essas duas lâminas preenchido pelo compartimento de gordura temporal superficial;
6 – Compartimento de gordura temporal superficial: está localizado entre a lâmina superficial e profunda da fáscia temporal profunda, e dentro dela encontra-se a veia temporal média. A veia entra nesse compartimento de gordura e drena em direção da veia temporal superficial;
7 – Lâmina profunda da fáscia temporal profunda;
8 – Compartimento de gordura temporal profundo: também denominado extensão do compartimento de gordura bucal (gordura de Bichat). Está conectado com o terço médio da face e, em indivíduos com idade mais avançada, essa gordura pode se estender até a mandíbula. Posteriormente ao processo zigomático do osso temporal, emerge a artéria zigomaticotemporal de seu respectivo forâmen e sofre anastomose com a artéria temporal profunda. Neste local, todas as estruturas estão envolvidas pela gordura temporal profunda;
9 – Músculo temporal: músculo da mastigação que tem origem nos ossos do crânio na fossa temporal, abaixo da fáscia temporal profunda. Limita-se anterior ao processo zigomático do osso frontal. Encontra-se em sua porção anterior com o ramo anterior da artéria temporal profunda e em sua porção central com o ramo posterior da artéria temporal profunda;
10 – Periósteo.

Não podemos deixar de salientar a vascularização da região da têmpora. A artéria temporal superficial – ramo terminal da artéria carótida externa – caminha acima da fáscia temporal e se ramifica da artéria temporal medial para o músculo temporal e duas artérias menores para o escalpo (ramos frontal e parietal). A artéria é acompanhada da veia temporal superior, e a veia medial cursa entre as duas camadas da fáscia temporal.

Uma observação muito importante deve ser feita quanto à anastomose do ramo frontal da artéria temporal superficial (ramo da artéria carótida externa) com os ramos da artéria supraorbital lateral e medial (ramos da artéria carótida interna), onde a injeção de excesso de produto ou a injeção intravascular na região de têmporas acometendo o ramo frontal poderão acarretar cegueira, muitas vezes, irreversível.

Não podemos nos esquecer também das necroses, que têm evolução rápida nesta região devido à obstrução do fluxo sanguíneo do ramo frontal ou parietal da artéria temporal superficial. Produtos com G prime alto devem ser evitados nessa área.

Quanto à inervação, a fossa contém quatro ramos de quatro diferentes feixes nervosos. Os ramos terminais incluem:

• Um ramo do nervo mandibular (V3);
• Os ramos anterior e posterior do nervo temporal profundo;
• O nervo auriculotemporal;
• Os ramos temporais do nervo facial.

O preenchimento na região de têmporas somente deve ser realizado quando devidamente indicado, por exemplo, em casos de esqueletização da face. A anatomia da face é composta de áreas côncavas e conexas que refletem sombra e luz, originando a chamada curva Ogee, que confere às faces belezas individuais.

Assim, preenchimentos mal indicados na região das têmporas, que são compostas por depressões, podem transformar as áreas côncavas em convexas, resultando em face redonda, não sendo, na maioria das vezes, favorável esteticamente ao paciente.