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Aspecto inicial da retração gengival.

Matrizes colágenas 3D para tratamento das recessões gengivais

Matrizes colágenas são indicadas em tratamento de recessões gengivais do tipo RT1 e com determinada faixa de tecido queratinizado.

 

A recessão ou retração gengival é definida como o deslocamento apical da margem gengival em relação à junção cemento-esmalte, com a exposição concomitante de uma porção da superfície radicular1. Atualmente, são situações clínicas muito comuns em nosso dia a dia de consultório. Essa condição afeta grande parte da população, independentemente do padrão de higiene bucal. A causa da exposição das superfícies radiculares pela retração gengival pode apresentar diversos fatores etiológicos, tais como trauma de escovação, movimentação ortodôntica, mal posicionamento dentário, inserções musculares e doenças periodontais2.

É importante salientar que o reposicionamento coronário do retalho associado ao enxerto gengival (subepitelial) é o padrão-ouro de tratamento para estas condições e que o sucesso do tratamento deve ser baseado na seguinte tríade: taxa de recobrimento, ganho de tecido queratinizado e aumento da espessura tecidual3. Entretanto, embora os profissionais prefiram usar enxerto de tecido conjuntivo subepitelial para otimizar os resultados clínicos, este pode não ser aceito por muitos pacientes. Essa falta de aceitação é consequência da necessidade de um segundo local cirúrgico para a obtenção do enxerto gengival, o que aumenta o tempo cirúrgico, a morbidade e o desconforto4. Assim, para reduzir o desconforto do paciente, o inchaço e a dor, uma alternativa que evita a necessidade de tecido doador palatino é o uso de substitutos mucosos, no caso, as matrizes de colágeno 3D de origem xenógena. Mas, afinal, o que são essas matrizes colágenas?

Atualmente temos algumas opções no mercado nacional, tais como Mucograft, Mucoderm e Fibroguide. De forma geral, estas matrizes funcionam como um arcabouço tecidual tridimensional. Sua estrutura apresenta uma grande porosidade associada a uma estrutura de colágeno, o que proporciona uma excelente estrutura para penetração de vasos sanguíneos. Tal característica favorece uma rápida revascularização e integração tecidual na área, com a migração e crescimento de células endoteliais e, consequentemente, diferenciação celular5-6.

Estudos clínicos7-9 avaliaram o uso do da matriz colágena Mucoderm no tratamento das retrações gengivais Classes I e II de Miller (RT1) usando a técnica de túnel avançado coronariamente modificado. Como resultado, houve uma taxa de recobrimento em torno de 73,2% a 84,3% aos 12 meses de acompanhamento.

Em outro recente estudo multicêntrico10, os autores avaliaram os resultados clínicos de seis meses de acompanhamento do uso da Mucograft em 187 pacientes com 485 recessões múltiplas Classes I e II de Miller (RT1). Os autores concluíram que o uso do Mucograft reduziu o tempo cirúrgico em torno de 15 minutos, além de diminuir também o tempo de recuperação e a morbidade do paciente quando comparado ao enxerto conjuntivo. Em termos de cobertura radicular, o enxerto de tecido conjuntivo foi superior ao Mucograft. No entanto, a diferença entre os grupos na redução da recessão gengival foi de apenas 0,44 mm, um valor que pode ser questionado do ponto de significância clínica.

Assim sendo, tais estudos demonstram que, apesar do tecido conjuntivo ser considerado o padrão-ouro de tratamento, principalmente no quesito taxa de recobrimento, os resultados obtidos pelas matrizes colágenas não deixam muito a desejar e podem ser considerados clinicamente satisfatórios.

Alguns pontos devem ser observados e mais bem estudados, principalmente para as matrizes mais novas (Mucoderm e Fibroguide), no que se refere à taxa de ganho de tecido queratinizado e alteração do fenótipo periodontal. Nestes quesitos, o enxerto subepitelial ainda é quase imbatível. Estudos avaliando estas novas matrizes devem ser publicados nos próximos anos e poderemos ter melhores preditores de seu sucesso clínico.

Com certeza, estudos longitudinais serão necessários para acompanhar a evolução destas recessões e a manutenção do resultado clínico obtido por estas matrizes colágenas. Hoje, baseando-se na literatura, indicamos o uso destas matrizes para o tratamento de recessões gengivais do tipo RT1 e com uma faixa mínima de tecido queratinizado de aproximadamente 1,5 mm e 2 mm. Baseando-se nesta indicação, podemos ver um resultado clínico de 12 meses de recobrimento do caso clínico apresentado. Vamos aguardar mais dados da literatura, mas não podemos de forma alguma desconsiderar e não ter o uso das matrizes colágenas como uma opção de tratamento em casos selecionados e bem diagnosticados.

Referências
1. Jepsen S, Caton JG, Albandar JM, Bissada NF, Bouchard P, Cortellini P et al. Periodontal manifestations of systemic diseases and developmental and acquired conditions: consensus report of workgroup 3 of the 2017 World Workshop on the Classification of Periodontal and Peri-Implant Diseases and Conditions. J Periodontol 2018;89(1):237-48.
2. Zucchelli G, Mounssif I. Periodontal plastic surgery. Periodontology 2000 2015;68(1):333-68.
3. Chambrone L, Tatakis DN. Periodontal soft tissue root coverage procedures: a systematic review from the AAP Regeneration Workshop. J Periodontol 2015;86(2):8-51.
4. Tavelli L, Barootchi S, Ravidà A, Oh T-J, Wang H-L. What is the safety zone for palatal soft tissue graft harvesting based on the locations of the greater palatine artery and foramen? A systematic review. J Oral Maxillofac Surg 2019;77(2):271-9.
5. Pabst AM, Happe A, Callaway A, Ziebart T, Stratul SI, Ackermann M et al. In vitro and in vivo characterization of porcine acellular dermal matrix for gingival augmentation procedures. J Periodontal Res 2014;49(3):371-81.
6. Kasaj A, Levin L, Stratul S-I, Götz H, Schlee M, Rütters CB et al. The influence of various rehydration protocols on biomechanical properties of different acellular tissue matrices. Clin Oral Investig 2016;20(6):1303-15.
7. Cosgarea R, Juncar R, Arweiler N, Lascu L, Sculean A. Clinical evaluation of a porcine acellular dermal matrix for the treatment of multiple adjacent class I, II, and III gingival recessions using the modified coronally advanced tunnel technique. Quintessence Int 2016;47(9):739-47.
8. Pietruska M, Skurska A, Podlewski Ł, Milewski R, Pietruski J. Clinical evaluation of Miller class I and II recessions treatment with the use of modified coronally advanced tunnel technique with either collagen matrix or subepithelial connective tissue graft: a randomized clinical study. J Clin Periodontol 2019;46(1):86-95.
9. Vincent-Bugnas S, Borie G, Charbit Y. Treatment of multiple maxillary adjacent class I and II gingival recessions with modified coronally advanced tunnel and a new xenogeneic acellular dermal matrix. J Esthet Restor Dent 2017;30(2):89-95.
10. Tonetti MS, Cortellini P, Pellegrini G, Nieri M, Bonaccini D, Allegri M et al. Xenogenic collagen matrix or autologous connective tissue graft as adjunct to coronally advanced flaps for coverage of multiple adjacent gingival recession: randomized trial assessing non-inferiority in root coverage and superiority in oral health-related quality of life. J Clin Periodontol 2018;45(1):78-88.

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