You are currently viewing Implante imediato à exodontia em região anterior: preencher ou não o gap com biomaterial?

Implante imediato à exodontia em região anterior: preencher ou não o gap com biomaterial?

Sérgio Scombatti exemplifica um caso de implante imediato com preenchimento do gap por biomaterial sintético de absorção lenta.

A Implantodontia evoluiu ao longo do tempo, de uma cirurgia inicialmente indicada para rebordos cicatrizados e sem a aplicação de carga imediata ao implante, para a possibilidade da realização de implantes instalados imediatamente após a extração do dente, eventualmente com a função imediata deste implante.

A literatura apontou, ao longo dos anos, diversos passos importantes para a realização de implantes imediatos. Araújo e colaboradores1 mostraram que a inserção imediata de um implante com um diâmetro que ocupasse todo o alvéolo pós-extração levava a uma grande perda da tábua óssea vestibular. Estes resultados foram corroborados por outro estudo2, que mostrou que implantes de menor diâmetro instalados no alvéolo pós-exodontia apresentam menor reabsorção das tábuas ósseas em relação a implantes de maior diâmetro.

Além disso, um estudo realizado no mesmo ano3 mostrou que “implantes instalados em alvéolos de extração devem ser posicionados subcrestais em relação ao nível da crista alveolar vestibular, e em uma posição lingual em relação ao centro do alvéolo”, de modo a deixar espaço (gap) vestibular entre a superfície do implante e o osso vestibular.

Outro ponto importante é a realização da técnica cirúrgica flapless, sem retalho. Novaes Jr. e colaboradores4 mostraram em um estudo realizado em animais que implantes imediatos instalados sem retalho reduziram a perda óssea da tábua vestibular em relação a implantes instalados com retalho. Além disso, a análise histológica evidenciou um osso mais denso por vestibular ao redor do implante na técnica flapless, indicando que, além das diferenças quantitativas, há também melhoras qualitativas no osso quando se escolhe a técnica flapless. Estes resultados foram corroborados por um estudo clínico realizado em humanos5, que avaliou 135 implantes imediatos instalados com a técnica flapless e mostrou uma taxa de sobrevivência de 98,5% e uma taxa de sucesso de 94,8% em um acompanhamento de cinco anos, preservando a arquitetura 3D do alvéolo pós-extração, bem como a largura e altura do rebordo alveolar.

A seleção cuidadosa do caso, o planejamento cirúrgico-protético correto e a obediência a um protocolo cirúrgico adequado são requisitos indispensáveis para o sucesso deste tipo de procedimento. Para a realização de implantes imediatos à exodontia em região anterior, as melhores práticas clínicas atuais recomendam o uso de cirurgia flapless, a instalação de implante com um diâmetro menor do que o alvéolo com o centro em região do cíngulo do dente, com estabilização primária na tábua óssea lingual e no osso apical ao alvéolo, de modo a deixar um gap entre o implante e a tábua óssea vestibular.

Um aspecto importante da técnica de implantes imediatos que se relaciona com o uso de biomateriais, tema principal desta coluna, é o preenchimento ou não do gap entre o implante imediato à extração e o osso alveolar circunjacente com um substituto ósseo. Araújo e colaboradores6 mostraram, em uma pesquisa realizada com animais, que o preenchimento do gap com um material de absorção lenta (no caso específico deste artigo, osso bovino inorgânico associado a colágeno suíno) resulta em uma maior preservação da tábua óssea vestibular em relação ao preenchimento do gap apenas com o coágulo sanguíneo. Tal resultado foi corroborado por um estudo em animais utilizando substituto ósseo sintético7, mostrando que diversos tipos de biomateriais de absorção lenta podem ser utilizados com esta finalidade.

Duas revisões sistemáticas recentes, avaliando apenas estudos clínicos aleatorizados em humanos, mostraram as vantagens do preenchimento do gap durante a instalação de implantes imediatos à exodontia. Zaki e colaboradores8 avaliando 20 estudos clínicos concluíram que o uso de biomateriais no gap reduziu a reabsorção óssea horizontal vestibular (média de 0,52 mm a menos) e melhorou a estética dos tecidos moles peri-implantares (escore estético médio 1,49 maior). No ano seguinte, Seyssens e colaboradores9 avaliaram 15 estudos clínicos com 577 pacientes que receberam 604 implantes imediatos unitários (298 com preenchimento do gap e 306 sem preenchimento). Os autores concluíram que o uso de substituto ósseo no gap dos implantes imediatos contribui para a preservação óssea horizontal (em média 54% menos perda óssea vestibular quando foi feito o preenchimento do gap) e estabilidade dos tecidos moles vestibulares (a migração apical dos tecidos moles no centro da face vestibular do implante em que houve preenchimento do gap foi em média 0,58 mm menor). Desse modo, frente aos bons resultados apresentados, os autores recomendaram que o preenchimento do gap por substituto ósseo deve ser considerado um tratamento adjunto ao implante imediato na prática clínica.

As Figuras 1 a 10 exemplificam um caso de implante imediato com preenchimento do gap por substituto ósseo sintético de absorção lenta, mostrando estabilidade dos tecidos e bom resultado estético e funcional a longo prazo.

Referências

  1. Araújo MG, Sukekava F, Wennström JL, Lindhe J. Ridge alterations following implant placement in fresh extraction sockets: an experimental study in the dog. J Clin Periodontol 2005;32:645-52.
  2. Caneva M, Salata LA, de Souza SS, Bressan E, Botticelli D, Lang NP. Hard tissue formation adjacent to implants of various size and configuration immediately placed into extraction sockets: an experimental study in dogs. Clin Oral Implant Res 2010;21:885-90.
  3. Caneva M, Salata LA, de Souza SS, Baffone G, Lang NP, Botticelli D. Influence of implant positioning in extraction sockets on osseointegration: histomorphometric analyses in dogs. Clin Oral Implant Res 2010;21:43-9.
  4. Novaes Jr. AB, Barros RRM, Papalexiou V, Almeida AL. Buccal bone loss after immediate implantation can be reduced by the flapless approach. Journal of Osseointegration 2011;3(3):45-55.
  5. Ionescu A, Dodi A, Petcu LC, Nicolescu MI. Open healing: a minimally invasive protocol with flapless ridge preservation in implant patients. Biology 2022;11:142-54.
  6. Araújo MG, Linder E, Lindhe J. Bio-Oss collagen in the buccal gap at immediate implants: a 6-month study in the dog. Clin Oral Implants Res 2011;22:1-8.
  7. Suaid F, Grisi MFM, Souza SLS, Palioto DB, Taba Jr. M, Novaes Jr. AB. Buccal bone remodeling after tooth extraction using the flapless approach with and without synthetic bone grafting. A histomorphometric study in dogs. Clin Oral Implants Res 2013;24:407-13.
  8. Zaki J, Yusuf N, El-Khadem A, Scholten RJP, Jenniskens K. Efficacy of bone-substitute materials use in immediate dental implant placement: a systematic review and meta-analysis. Clin Implant Dent Relat Res 2021;23:506-19.
  9. Seyssens L, Eeckhout C, Cosyn J. Immediate implant placement with or without socket grafting: a systematic review and meta-analysis. Clin Implant Dent Relat Res 2022;24:339-51.