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Fontes de luz de baixa intensidade na estética facial

Luz de baixa intensidade: lasers de baixa potência e LEDs (light emitting diodes) podem contribuir para a melhora da saúde e qualidade da pele.

Fontes de luz de baixa intensidade estão cada vez mais presentes na prática clínica do cirurgião-dentista1. No contexto da estética facial, dentro da especialidade de Harmonização Orofacial, lasers de baixa potência e LEDs (light emitting diodes) podem contribuir para a melhora da saúde e qualidade da pele.

A pele é capaz de interagir (absorver, refletir, transmitir e espalhar) com fontes de luz de diferentes comprimentos de onda, energia e potência – dependendo também de propriedades intrínsecas do tecido biológico a ser irradiado, como presença de cromóforos, concentração de melanina, quantidade de água e fluxo sanguíneo tecidual.

A aplicação de uma determinada fonte de luz em um tecido biológico, promovendo inibição ou estimulação de atividades em nível celular, é chamada de fotobiomodulação (FBM), geralmente realizada por meio de fontes de luz em baixa intensidade, como lasers e LEDs. Vale ressaltar que comprimentos de onda entre 247 e 1.300 nm possuem interações e profundidade de penetração diferentes nos tecidos biológicos2 (Figura 1).

Luz de baixa intensidade
Figura 1 – Profundidade de penetração dos diferentes comprimentos de onda5.


O mecanismo envolvido na fotobiomodulação inicia quando uma molécula específica, presente no tecido-alvo (a ser irradiado) e conhecida como cromóforo, absorve um fóton de luz de um determinado comprimento de onda. Alguns cromóforos endógenos que absorvem luz visível (400 e 700 nm) são: melanina, protoporfirina IX, água, riboflavina, hemoglobina, bilirrubina, flavoproteínas e citocromos. Existem também cromóforos que absorvem apenas luz ultravioleta – UVA (320 a 400 nm) e UVB (290 a 320 nm) – e outros que absorvem luz em comprimentos de onda na emissão do espectro eletromagnético do infravermelho (acima de 700 nm)3. A Figura 2 mostra o espectro de absorção dos principais cromóforos da pele.

Luz de baixa intensidade
Figura 2 – Espectro de absorção dos cromóforos da pele3.


Estudos demonstram que ambos, laser e LED, possuem efeitos biológicos similares4 e que as respostas promovidas pela fototerapia não estão associadas exclusivamente a propriedades específicas da luz laser, mas principalmente com reações advindas da absorção dos fótons pelos cromóforos presentes nos tecidos. A coerência dos lasers não é pré-requisito para processos de fotobiomodulação5 e a monocromaticidade do laser é compensada pela quasimonocromaticidade da nova geração de LEDs4.

Dessa forma, as fontes de luz em baixa intensidade têm grande potencial de uso como coadjuvantes aos procedimentos estéticos em face, otimizando os resultados clínicos, além do uso na abordagem de intercorrências e complicações associadas a essas intervenções. Quais são, portanto, as fontes de luz mais utilizadas e quais seus efeitos em pele?

FONTES DE LUZ COM EFEITOS BACTERICIDAS

As fontes de luz que emitem no espectro do violeta-azul (400 a 495 nm, Figura 3) têm sido amplamente utilizadas na área da Saúde para tratamentos de acne, psoríase, dermatite atópica e cicatrização de feridas, inclusive as infectadas. Com doses de estimulação acima de 4 J/cm2, levam à produção de radicais livres que apresentam efeitos deletérios para bactérias e fungos, portanto a dose e a frequência de aplicação devem ser controladas para se tornar segura e eficaz.

Luz de baixa intensidade
Figura 3 – Comprimentos de onda no espectro violeta-azul.


O mecanismo de ação da fototerapia para acne se deve à absorção de luz (especificamente luz azul) por protoporfirinas que foram produzidas pela bactéria Propionibacterium acnes como parte de seu metabolismo e que atuam como fotossensibilizadores endógenos. Este processo causa uma reação fotoquímica e forma radicais livres reativos e espécies de oxigênio singleto que, por sua vez, levam à morte bacteriana3.

Nessa faixa do espectro, a penetração da luz LED na pele é baixa, sendo sua ação superficial devido à alta absorção pela melanina presente na epiderme. Assim, é importante muita cautela em relação à dose, potência e tempo de exposição quando utilizada a luz azul violeta em indivíduos com fototipos IV a VI, pois a grande quantidade de melanina pode levar a um aquecimento intenso da pele e até queimaduras superficiais.

FONTES DE LUZ COM EFEITO HIDRATANTE

Recentemente, as fontes de luz LED azul vêm apresentando tendências para um possível efeito na hidratação de pele. Pesquisadores6 formularam hipóteses a fim de explicar os mecanismos de ação da luz azul na hidratação dos tecidos. Uma delas considera que ocorre uma termoterapia controlada, por promover calor moderado (40°C) ao nível da pele, devido à intensa absorção da luz pela melanina. Acredita-se que este efeito fotofísico facilita a decomposição do peróxido de hidrogênio dentro dos tecidos orgânicos e a difusão de subprodutos para o espaço intersticial, resultando em edema do tecido, o que leva à alteração da firmeza da pele por um processo de expansão.

Outra hipótese está relacionada à capacidade da luz azul de otimizar o metabolismo das células, acelerando a cadeia respiratória mitocondrial e, portanto, intensificando as reações biológicas que levam à produção de colágeno e elastina. A terceira hipótese se refere ao aumento da deposição de queratina, uma proteína abundante no corpo humano e que possui funções importantes de proteção e retenção de água. A queratina absorve intensamente a luz azul, o que aumenta a retenção hídrica.
O uso das fontes de luz LED azul com objetivos hidratantes ainda não apresenta evidências científicas que confirmem a eficácia desta abordagem para o tecido tegumentar. Recomenda-se o seu uso associado a comprimentos de onda que estimulem o processo de reparo e regeneração tecidual6, como os lasers que emitem no espectro do vermelho (660 nm) e do infravermelho próximo (808 nm), até que mais estudos clínicos evidenciem o efeito hidratante da luz azul.

FONTES DE LUZ COM EFEITOS REGENERADORES

Os comprimentos de onda do laser e LED que mais favorecem o reparo tecidual são faixas espectrais de luz verde (530 nm), âmbar (590 nm), vermelho (600 a 780 nm) e infravermelho próximo (780 a 940 nm).

Estudos in vivo e in vitro mostraram que a luz verde – que apresenta como cromóforo as opsinas ligadas a canais iônicos sensíveis à luz – pode estimular o aumento da angiogênese, reduzir a inflamação e acelerar o processo de reparo tecidual, além de aumentar a proliferação dos fibroblastos7-8.

As fontes de luz âmbar, vermelha e infravermelha próxima são absorvidas pelo mesmo cromóforo, a citocromo C oxidase. No entanto, considera-se que, devido à presença de melanina na epiderme, a luz vermelha e a luz infravermelha próxima, por possuírem maior comprimento de onda, penetram mais profundamente na pele do que a luz âmbar9.

A faixa de espectro do LED âmbar parece influenciar positivamente no processo de renovação celular dos queratinócitos da epiderme, na expressão gênica de colágeno tipo I, na redução da expressão de metaloproteases e na liberação de óxido nítrico. Seu pico de absorção pela enzima citocromo C oxidase acelera a taxa de produção de ATP pelas mitocôndrias, sendo essa energia utilizada para otimizar as respostas celulares da pele e manter a integridade da epiderme9. Clinicamente, a luz âmbar pode ser utilizada para reduzir o eritema e edema após procedimentos estéticos mais agressivos, como os realizados com laser de alta potência, luz intensa pulsada e microagulhamento, os quais a inflamação exacerbada pode levar a complicações futuras, como hiperpigmentação pós-inflamatória.

Dentro da faixa de comprimentos de onda considerada ótima para ativar a citocromo C oxidase, estão a luz vermelha e a infravermelha próxima. Os comprimentos de onda nessas faixas do espectro eletromagnético apresentam uma base sólida na literatura, no que diz respeito aos efeitos biológicos obtidos por meio da terapia de fotobiomodulação, como aceleração do processo de reparo tecidual, alívio de dor e modulação do processo inflamatório8.

Na Harmonização Orofacial, a luz vermelha e a infravermelha próxima, por atingirem as camadas mais profundas da pele, podem ser utilizadas após procedimentos invasivos, como os cirúrgicos, o uso de lasers ablativos (de alta potência), de preenchedores e fios faciais, entre outros. Além disso, essas fontes de luz podem ser utilizadas na reestruturação dérmica, coadjuvantes a tratamentos de rejuvenescimento, por estimulação dos fibroblastos para a produção de colágeno e elastina10.

A Tabela 1 apresenta, de forma resumida, as indicações e os efeitos das fontes de luz em estética facial.

DERMOCOSMÉTICOS ASSOCIADOS ÀS FONTES DE LUZ LASER E LED

A demanda por produtos e tecnologias de antienvelhecimento para a prevenção e manutenção do estado jovial da pele aumentou significativamente nos últimos anos. Esses produtos, que atuam tanto na saúde como na beleza, foram recentemente definidos como dermocosméticos e compreendem uma categoria alocada entre produtos cosméticos e farmacêuticos. Existem muitos dermocosméticos disponíveis no mercado, no entanto, mesmo contendo ingredientes básicos, eles podem variar em detalhes da formulação.

Quanto às tecnologias, podem englobar diferentes modalidades de energia, desde as fontes de luz em baixa intensidade (laser e LED) até técnicas minimamente invasivas, como as terapias intradérmicas por carboxiterapia.

Diferentemente da terapia fotodinâmica, na qual produtos químicos fotossensíveis são utilizados simultaneamente com as fontes de luz em baixa intensidade, os produtos dermocosméticos (não indicados na terapia fotodinâmica) podem ser utilizados em associações com as fontes de luz laser e LED. A associação pode ser realizada na mesma sessão de tratamento, de forma sequencial, sendo os dermocosméticos rejuvenescedores ou regeneradores aplicados na pele imediatamente após a irradiação com as fontes de luz, com o objetivo de intensificar os efeitos fisiológicos.

Em estudos clínicos, a terapia por luz tem sido relacionada com o aumento da produção de colágeno e a redução simultânea das metaloproteases, com consequente melhora da aparência da pele danificada pelo processo de envelhecimento9-10. Associar dermocosméticos aos tratamentos com laser e LED pode oferecer melhores resultados estéticos. Ainda que o uso de dermocosméticos seja preconizado por algumas empresas, intercalado com o uso das fontes de luz, ainda não há evidências científicas do benefício dessa técnica, visto que as fontes de luz em baixa intensidade não “abrem caminho” para a penetração dos ativos.

Previamente ao uso do laser e LED, é importante o preparo da pele com produtos cosméticos que realizem a limpeza do local para remoção das impurezas, o que otimiza a penetração da luz. Quando o objetivo terapêutico for rejuvenescer a pele, é indicado o uso de dermocosméticos após a irradiação da luz, como os que contêm vitamina C, coenzima Q10, vitamina E, fatores de crescimento, ácido hialurônico de baixo peso molecular ou oligoelementos, entre outros. Esses princípios ativos promovem estímulos celulares visando à reestruturação dérmica e melhora da firmeza e elasticidade da pele, além do aumento da nutrição e hidratação derme/epiderme. Os dermocosméticos associados ao protocolo de tratamento com laser e LED atuam na prevenção e como coadjuvantes no tratamento dos sinais do envelhecimento.