Visualizar a escala de brancos para definir a cor, opacidade e translucidez certa das peças livre de metal pode ser um desafio sem as ferramentas certas.
Muitas vezes, é difícil estimar se a cor final das peças irá atender as expectativas do paciente e do cirurgião-dentista. Para isso, temos que usar todas as ferramentas disponíveis no mercado para diminuir os retoques e ajustes de cor nas peças. Tais ajustes prejudicam o fluxograma do laboratório, atrasam a produção e interrompem outros trabalhos em andamento. O mercado atual disponibiliza uma série de aplicativos, softwares e dispositivos que ajudam a alinhar os processos clínicos e laboratoriais na tentativa de melhorar os resultados estéticos das próteses metal free. Alguns deles são gratuitos, vale lembrar.
Uma opção que eu adotei em minha rotina é o Shade Navigation, da Ivoclar Vivadent, que ajuda na seleção mais adequada de pastilhas e blocos para cada caso trabalhado. Imagine que o aplicativo possui mais de dez mil possíveis combinações de equilíbrio entre as cores dos remanescentes e das variadas possibilidades de cores, opacidade e translucidez dos materiais disponíveis produzidos pela empresa. Essa função representa uma vantagem enorme para quem está na bancada, pois diminui significativamente a possibilidade de erros de seleção da cor e da variação de opacidade escolhida para cada caso. O que poderia dar errado, seguindo a partir deste pressuposto, estaria ligado à maneira como o técnico finalizou esta peça e como ela seria posteriormente cimentada.
Obviamente, são necessárias informações para que o aplicativo possa ser usado. É preciso saber a cor desejada, o tipo de serviço (coroa, faceta, inlay etc.), o espaço protético ou espessura da peça, a cor do preparo dentário, o tipo de material cerâmico (dissilicato de lítio, zircônia), entre outros parâmetros.
Uma vez que o aplicativo colhe todos esses dados, ele pode processá-los e combiná-los entre si, oferecendo a pastilha ou bloco que mais se aproximam daquela necessidade. Aliás, mesmo em um processo totalmente analógico, só é possível fazer tal definição a partir dessas mesmas informações. Mas não se iluda. Às vezes, nem mesmo o próprio aplicativo consegue apresentar uma solução adequada aos parâmetros que você inseriu. Isso acontece porque, naturalmente, existem limites clínicos que nos impedem de alcançar o resultado que desejamos. Nesses casos, uma conversa com o cirurgião-dentista talvez seja necessária para a discussão do caso.
Outro aspecto positivo do aplicativo é a melhora na comunicação clínico-laboratorial. Ele permite que o técnico e o cirurgião-dentista apliquem as informações e trabalhem em conjunto, definindo um diálogo mais aberto e produtivo. Essa comunicação é fundamental para, por exemplo, definir uma mudança na cor final das peças após a instalação ou um desgaste nos preparos dentários para ganho de espaço protético, mantendo assim a cor final desejada.
O próprio aplicativo facilita esse tipo de solução. Quando não há uma opção de material e cor no acervo, as seguintes informações podem ser alteradas:
Cor desejada – Se a cor final desejada for BL4, por exemplo, e o algoritmo do aplicativo não conseguiu encontrar nenhuma pastilha ou bloco com aquelas características, o profissional pode ir trocando a cor desejada por uma mais escura. Neste caso, troca-se pela cor A1. Se não funcionar novamente, troca-se então pela cor A2, e assim por diante. Quando o aplicativo conseguir encontrar o material, o técnico informa ao cirurgião-dentista que a cor que ele e o paciente desejam não será obtida e, da forma que está o caso, a única opção de cor final será A2, por exemplo.
Espaço protético ou espessura da peça – No campo de preenchimento do aplicativo, o técnico altera a espessura da peça pouco a pouco. Se você tem 0,3 mm de espaço, ele pode alterar para 0,5 mm e assim sucessivamente, até que o aplicativo lhe dê uma opção de material e cor a serem utilizados. Neste caso, você terá a exata quantidade de desgaste que precisa para que você consiga entregar o serviço de acordo com todas as expectativas desejadas.
Seleção de cor sempre foi um assunto que rende excelentes discussões. É fantástico como a tecnologia tem contribuído nesse tema, deixando cada vez menos espaço para aqueles achismos que reinavam nos laboratórios de prótese.
As informações enviadas pelo cirurgião-dentista são inseridas no aplicativo: a cor desejada, a indicação, a cor do substrato, a espessura da peça protética e o material desejado.
Neste exemplo, com uma cor mais escura no substrato, chegamos à cor desejada a partir de um aumento do espaço protético. O maior trunfo do aplicativo é proporcionar um diálogo mais direto no que diz respeito ao desgaste necessário a ser feito.
David Morita
Técnico em Prótese Dentária – Senac; Proprietário do Laboratório e Instituto de Treinamento David Morita; Segundo secretário da Assembleia Administrativa da SBO Digital.