Além de contribuir para osseointegração e estabilidade primária, o desenho macrogeométrico de um implante é também o cartão de visita de cada sistema.
Os implantodontistas da velha guarda já nos ensinaram muito sobre o formato dos implantes odontológicos, em uma trajetória que foi iniciada muito antes da chegada da Osseointegração. Dos experimentos pioneiros realizados nas décadas pregressas da velha Implantodontia, herdamos alguns designs que hoje soam totalmente exóticos, como os implantes justaósseos, agulhados e laminados. Foi dessa época que se observaram os primeiros implantes em formato de parafuso bicortical, que ficaram famosos pelo trabalho do italiano Dino Garbaccio. Inspirado nesse modelo, o Prof. P-I Brånemark desenhou o seu próprio implante cilíndrico, confeccionado em titânio. O resto é história.
De lá para cá, muita coisa mudou e aprendemos muito sobre a importância do desenho macrogeométrico dos implantes e o seu papel fundamental no equilíbrio biomecânico da prótese. Desde o primeiro contato do implante com o tecido ósseo, seu design contribui em maior ou menor proporção para a sua estabilidade primária. Além disso, ele será responsável pela distribuição adequada das cargas oclusais em diferentes sentidos durante a mastigação. Recentemente, a macrogeometria também tem sido pensada com o objetivo de favorecer cada vez mais o processo de Osseointegração.
O mercado oferece uma ampla diversidade de desenhos para seus modelos de implante, sendo que alguns são concebidos a partir de projetos absolutamente inovadores, enquanto outros seguem uma linha mais conservadora, agregando aprimoramentos a modelos antigos que já foram consagrados comercialmente. Evidentemente, ao escolher seu sistema de implante, o profissional deve procurar saber sobre a política do fabricante sobre seus investimentos em pesquisas e desenvolvimento de produtos. Mesmo quando se trata de um modelo com poucas inovações, ele deve ser rigorosamente testado pela empresa responsável antes de seu lançamento comercial, para atestar sua eficiência e segurança.
Estabilidade primária
Considerada um dos critérios essenciais para o sucesso de qualquer reabilitação sobre implantes, a estabilidade primária é definida pela ausência de mobilidade no leito ósseo após a inserção da ancoragem. Quando a circunstância clínica remete a um paciente com pouca disponibilidade ou densidade óssea, obter a estabilidade primária desejada pode ser desafiador. Além da geometria do implante e da qualidade óssea, conforme foi citado, a técnica cirúrgica empregada contribui também para a estabilidade primária. A ação combinada desses três fatores deve ser compreendida pelo cirurgião-dentista, para que ele possa traçar sua estratégia e alcançar resultados mais previsíveis, mesmo em situações clínicas complexas.
Ainda na busca por um modelo que favoreça a estabilidade, uma das opções adotadas pelo mercado nos últimos anos é a incorporação de implantes cônicos em seu portfólio. Esse formato seria capaz de direcionar as forças de compressão sobre o tecido ósseo e promover uma significativa estabilidade mecânica logo após a cirurgia, antes mesmo da osseointegração. Diante de tais características, os implantodontistas passaram a olhar com mais atenção para o formato cônico, principalmente sabendo que a utilização de carga imediata vem sendo cada vez mais desejada entre os pacientes. Além disso, em determinadas situações clínicas, o implante cônico também pode ser mais facilmente instalado em espaços reduzidos, entre dentes naturais adjacentes.
Compressão de tecidos
Quando o assunto é estabilidade, outro aspecto que também vem sendo observado com atenção pelos pesquisadores é o desenho das roscas, seu formato, a distância entre cada uma delas e a posição ao longo do corpo do implante. Tais fatores devem ser combinados de forma estratégica para contrabalancear as forças de compressão do metal sobre o osso, de modo que a estabilidade primária seja mecanicamente alcançada e, ao mesmo tempo, favoreça as condições químicobiológicas para que o processo de osseointegração aconteça de forma acelerada.
Por exemplo, uma forma mais quadrada das roscas, teoricamente, proporcionaria o aumento do contato osso/implante, bem como uma distribuição das cargas em uma superfície óssea maior, principalmente das forças laterais. O formato em V das roscas, por sua vez, determinaria inserções mais profundas sobre o osso, principalmente em tecidos de menor densidade e se elas estiverem localizadas na parte mais apical do implante, o que significaria, em tese, maior estabilidade mecânica e resistência às forças verticais. Além desses dois exemplos, existe uma ampla variedade de formatos disponíveis no mercado, sendo que um mesmo implante pode apresentar mais de um tipo de rosca ao longo de seu corpo.
A presença ou ausência de roscas leva a outra discussão que tem muito a ver com o desenho macrogeométrico: o posicionamento do implante acima ou abaixo da crista óssea. As fixações que são instaladas acima do nível do osso precisam de uma área transmucosa em sua porção superior, totalmente lisa, justamente para garantir uma boa adaptação dos tecidos moles ao corpo do implante. Os modelos totalmente submersos surgiram depois, sugerindo que poderiam oferecer uma solução estética peri-implantar mais favorável e reduzir a chance de peri-implantite. O assunto, no entanto, é controverso, pois existem pesquisas que relatam aumento na perda óssea para implantes colocados subcrestalmente, possivelmente por conta de infiltrações bacterianas que teriam se formado na junção implante/pilar desses modelos. Como a discussão está em andamento, cabe ao implantodontista acompanhá-la e considerar seus argumentos na escolha de seu sistema.
Papel na osseointegração
Uma vez que a estabilidade primária está garantida, a principal preocupação dos fabricantes de implantes é possibilitar que seu desenho macrogeométrico contribua de alguma maneira para acelerar o processo de osseointegração. Na maior parte das vezes, a discussão sobre osseointegração acaba concentrada demais no tratamento de superfície dos implantes, enquanto outros fatores importantes acabam marginalizados, como a qualidade óssea do sítio implantado, as condições sistêmicas do paciente, a técnica cirúrgica empregada, o torque aplicado e até a qualidade do titânio usado na fixação.
O desenho macrogeométrico, por sua vez, tem a incumbência de contribuir nesse processo oferecendo as condições mais propícias de contato osso/implante. A definição é simples, mas a tarefa é bastante complexa, já que estamos falando de diferentes fatores mecânicos, químicos e biológicos que interagem entre si. Dessa forma, cada fabricante vai desenvolver uma estratégia de osseointegração e tentar alcançar os melhores resultados dentro dessa proposta.
À medida que essa discussão amadureceu, um dos recursos utilizados por algumas empresas para melhorar seus indicadores de osseointegração é a adoção das chamadas câmaras de cicatrização. Trata-se da criação de pequenos espaços no corpo do implante, que serão ocupados por coágulos sanguíneos no momento da implantação e, posteriormente, em tecido duro a partir do processo de neoformação.
Por fim, além de todas as questões mecânicas atribuídas à macrogeometria, vale lembrar que o desenho macrogeométrico de um implante é também a imagem que representa todo o sistema, como um cartão de visita do próprio fabricante.
Sugestões de leitura
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