Guaracilei Maciel Vidigal Jr. traz informações importantes sobre as promissoras pesquisas sobre células-tronco em Implantodontia.
A pesquisa no campo das células-tronco (CT) é uma realidade em diversas especialidades da área da saúde. Por isto, a compreensão de seus processos biológicos é imprescindível para o desenvolvimento da terapêutica adequada.
As células-tronco adultas (CTAs) são células indiferenciadas encontradas nos tecidos e que são responsáveis pela sua regeneração1. As características que as diferenciam de outras células envolvidas na regeneração dos tecidos, como os osteoblastos, por exemplo, são sua capacidade de autorrenovação (reproduzem a si mesmas) e a multipotência (podem se diferenciar em vários tipos celulares)².
As CTs podem ser encontradas em diferentes partes do corpo, tais como: osso, sangue, fígado, cordão umbilical (Figura 1), placenta, sistema nervoso, pele, folículo capilar, músculo, tecido sinovial, tecido adiposo, todos os órgãos parenquimatosos e nas regiões perivasculares de todos os tecidos.
Outra característica das CTs é que elas envelhecem junto com o indivíduo e, ao longo desse processo, suas capacidades de autorrenovação e multipotência diminuem. Esta é a racionalidade para o armazenamento e preservação em laboratório, para uso futuro, de células-tronco do cordão umbilical, da polpa de dentes decíduos e de outros tecidos.
Dos diversos tipos de CTAs, as células-tronco mesenquimais (CTMs) são as que possuem maior plasticidade (mecanismos de transdiferenciação, fusão e indução), podendo formar tecidos mesodermais, como o osso. Na cavidade oral, por exemplo, podem ser isoladas da polpa de dentes decíduos (Figura 2), do folículo pericoronário e da papila apical (Figura 3). As CTMs possuem propriedades imunomoduladoras e imunossupressoras, secretando diversas citocinas pró e anti-inflamatórias, e fatores de crescimento, modulando a resposta inflamatória da regeneração tecidual de forma fisiológica³.
As células-tronco esqueléticas (CTEs) são um tipo de CTM. Estudos recentes sugerem que existem diferentes tipos de CTE: do periósteo (CTEP) e pericôndrio, da medula óssea (CTEMO) e as da placa de crescimento ósseo/cartilagem epifisária2. As CTEPs estão localizadas na parte interna do periósteo e possuem elevada capacidade de autorrenovação, tanto pela via endocondral (caso da fratura óssea) quanto pela via intramembranosa (caso dos transplantes). As CTEMOs localizam-se preferencialmente ao redor dos sinusoides, em pequenos vasos sanguíneos com características diferentes dos capilares, cujo diâmetro é quatro vezes maior e possui somente uma camada de células endoteliais e poros maiores. Usando o modelo de transplante em cobaias, autores4 observaram que as CTEPs apresentaram boa capacidade de regeneração óssea.
As CTMs humanas são raras e representam 0,1% do aspirado da medula5. Por isto, após pequenas biopsias de tecidos em áreas como a polpa de dentes decíduos e o periósteo, elas são enviadas para os laboratórios para serem isoladas das outras células da biopsia e expandidas (multiplicadas em quantidade)6. As CTs se expandem rapidamente em meios de cultura. Em aproximadamente 30-60 dias, algumas centenas de células (102) podem gerar milhões (106) de unidades em baixas passagens para uso clínico. O aumento do número de células em poucas passagens evita o envelhecimento das células e suas consequências.
A pesquisa com células-tronco é excitante e com resultados promissores. Porém, é uma área em que muitos mecanismos não foram elucidados. Desta forma, nas células-tronco em Implantodontia, assim como em toda Odontologia, a maioria dos protocolos de tratamento clínico ainda não está estabelecida. Portanto, muita pesquisa ainda é necessária. Nas próximas colunas, continuaremos abordando formas alternativas em regeneração óssea.
Referências
1. Mendelson A, Frenette PS. Hematopoetic stem cell niche maintenance during homeostasis and regeneration. Nat Med 2014, 2014;20(8):833-46.
2. Matsushita Y, Ono W, Ono N. Skeletal stem cells for bone development and repair. Curr Osteoporos Rep 2020, 2020;18(3):189-98.
3. Monteiro BS, Argolo Neto NM, Carlo RJ. Células-tronco mesenquimais [On-line}. Disponível em <https://doi.org/10.1590/S0103-84782010000100040>.
4. Lageneste OD, Julien A, Abou-Khalil R, Frangi G, Carvalho C, Cagnard N et al. Periosteum contains skeletal stem cells with high bone regenerative potential controlled by Periostin. Nat Commun 2018;9(1):773.
5. de Deus GC, Normanton M, Hamerschlak N, Kondo AT, Ribeiro AAF, Goldberg AC et al. Isolamento e caracterização de células-tronco mesenquimais de filtros reutilizáveis e descartáveis de medula óssea. Einstein 2012;10(3):296-301.
6. Ferreira JRM, Greck AP. Adult mesenchymal stem cells and their possibilities for Dentistry: what to expect? Dental Press J Orthod 2020;25(3):85-92.
Guaracilei Maciel Vidigal Júnior
Especialista e mestre em Periodontia e Doutor em Engenharia de Materiais – Coppe/UFRJ; Livre-docente em Periodontia e especialista em Implantodontia – UGF; Pós-doutor em Periodontia e professor adjunto de Implantodontia – Uerj.
Orcid: 0000-0002-4514-6906.