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Associação de canabinoides na melhora da qualidade de vida

Nivaldo Vanni pondera que os fitocanabinoides não serão a cura de todos os males, mas podem colaborar na melhoria da saúde.

Tempos difíceis surgiram desde o início da pandemia de Covid-19. A devastação humana, as oscilações econômicas e o caos social que foi implantado com tamanhas mudanças trouxeram uma transformação comportamental irreversível, acarretando em uma grande insegurança nas perspectivas pessoais.

Juntemos a isso alguns desvios comportamentais, como ansiedade, estresse, pânico, medo e depressão, entre outros, que aumentaram visivelmente, e mais desdobramentos que seguiram, como o abuso de medicação ansiolítica, antidepressiva, analgésicos e o grande crescimento no uso drogas hipnóticas indutoras de sono, as famosas drogas “Z”.

Esse cenário chega ao mundo da Odontologia através do aumento no número de casos de bruxismo, tema que surge com força nas redes sociais, nos cursos e nas rodas de colegas. As ofertas de placas interoclusais trazem mais confusão ainda a esse cenário.

Já é sabido que déficit de sono e alterações cognitivas comportamentais trazem alterações metabólicas, e entre elas está o bruxismo da vigília. Diferentemente do que acontece no bruxismo do sono, que tem uma busca na reposição da ventilação respiratória e oxigenação, o bruxismo da vigília é uma atividade vazia, sem função, uma parafunção.

Apesar disso, a atividade traz dores, muitas vezes crônicas, além de danos teciduais e funcionais, perpetuando um problema. Muitas vezes, o cirurgião-dentista tem a simplória ideia de que uma placa ou dispositivo oclusal irá resolver todo esse caos metabólico.

FITOCANABINOIDES

Durante milênios, a cannabis tem sido utilizada de forma medicinal. O registro mais antigo de seu uso remete ao ano 2.700 a.C, pelo imperador chinês Shen Nung, para o tratamento de mais de 100 doenças. No decorrer desse período histórico, outros relatos de seu emprego medicinal foram encontrados em diversas regiões do mundo, como Índia (1.000 a.C.), Mediterrâneo (450 a.C.), Pérsia (1.000 d.C.) e América do Sul (1.500 d.C.). Até que, em 1839, o médico irlandês William O’Shaughnessy introduziu o cânhamo indiano na medicina ocidental.

Em 1937, a Marijuana Tax Act, ou Lei de Imposto sobre a Maconha, foi promulgada e estabeleceu um imposto sobre a venda de cannabis nos EUA. Porém, em 1964, o químico israelense Raphael Mechoulam descobriu o THC. Mais de duas décadas depois, em 1988, o mesmo Mechoulam surge com a descoberta do receptor canabinoide CB1, abundante no SNC e ligante ao THC.

Esse é praticamente o início dos estudos das terapias fitocanabinoides. Com o avanço dos estudos, foram descobertos 1.495 compostos ativos na planta cannabis, sendo 177 canabinoides, 231 terpenos e terpenoides, 68 tipos de flavonoides, 147 polifenóis e esteroides, e 882 compostos ainda não estudados.

Os terpenos são óleos essenciais que dão aroma e sabores às plantas, são aromáticos e potencializam as ações terapêuticas dos fitocabinoides. Eles têm propriedades antioxidante, anti-inflamatória e antibacteriana. Os flavonoides fornecem pigmentos para flores e plantas, protegendo seu crescimento e ajudando na polinização. Existem mais de 5.000 na natureza e 20 presentes na cannabis, tendo propriedades antioxidante e anti-inflamatória. A canaflavina, presente apenas na cannabis, possui potencial anti-inflamatório 30 vezes maior que a da aspirina.

Dentre os fitocabinoides, os mais estudados e usados são o THC, CBD, CBN, CBG, CBC, THCV, CBDV, CBDa e THCa. Eles agem como ligantes aos receptores canabinoides, CB1 e CB2, produzindo efeitos através da modulação e regulação do sistema endocanabinoide, promovendo a homeostasia e o consequente equilíbrio corporal. Possuem potenciais de ação diferentes um do outro e podem ser usados de forma isolada ou em conjunto. Quando somados aos terpenos e flavonoides, eles imprimem um potencial de ação maior, conhecido como efeito entourage, ou seja, as substâncias presentes na planta funcionam melhor quando estão juntas.

APLICAÇÃO CLÍNICA

Como falamos anteriormente, as desordens de sono, dores crônicas, depressão, ansiedade, insegurança e caos social que vivemos hoje têm coincidentemente um acréscimo. Ansiolíticos, antidepressivos e hipnóticos indutores de sono, como o zolpidem, por exemplo, são medicações na sua maioria dose-dependentes, exigindo um aumento na sua dosagem com o passar do tempo, além de apresentar importantes efeitos colaterais e dependência química.

Por outro lado, os fitocanabinoides surgem como um promissor aliado nesse cenário. Eles também são neuromoduladores, efeitos buscados pelos demais medicamentos citados, mas apresentam algumas características muito interessantes.

Por serem naturais, esses compostos imprimem menos efeitos colaterais, não são dose-dependentes, não causam síndrome de abstinência e são ótimos analgésicos. E o melhor: podem ser somados às medicações usuais e possibilitar a redução de dose. E, em algumas situações, até a sua substituição.

NOVOS HORIZONTES

Todo esse processo regulador que os fitocanabinoides produzem no corpo humano pode ser traduzido como um importante ganho de qualidade de vida do paciente. Logo nos primeiros dias de uso, já é possível notar uma maior sensação de bem-estar, uma respiração melhor, qualidade do sono e até na cognição de pensamentos.

Os fitocanabinoides não serão a cura de todos os males, mas podem colaborar no enfrentamento do processo de envelhecimento e perdas do dia a dia com mais calma, energia, disposição e, consequentemente, com uma saúde melhor, o que fará com que a jornada seja mais leve.