Diogo Viegas e João Tiago Mourão relatam que o afastamento gengival ainda é um passo crítico para o sucesso final do tratamento.
O afastamento gengival é um problema crítico, ainda nos dias de hoje. A realização de restaurações dentárias é uma prática comum nas clínicas odontológicas. As etapas associadas à confecção de uma coroa incluem deslocamento gengival, moldagem do dente preparado, obtenção de um registro de relação da mandíbula e moldagem da arcada antagonista1.
A localização do limite cervical dos preparos dentários tem como referência o espaço livre biológico e a margem gengival. Tal limite deve ser supragengival sempre que possível, pois é mais fácil de higienizar, permite uma inspeção tátil e visual direta, e evita a impactação alimentar no sulco gengival. Muitas vezes, somos obrigados a trabalhar com margens subgengivais, como é o caso de dentes anteriores, por exigências estéticas2.
Embora tenham havido avanços cruciais na hidrofilia dos materiais de impressão1, e na sua capacidade de reproduzir detalhes, especialmente quando as linhas de terminação estão localizadas subgengivalmente, esta continua sendo uma etapa crítica (Figura 1)3. Um estudo avaliou 1.157 moldes: 86% tinham pelo menos um erro visível e 55% eram erros críticos na linha de margem4.
De maneira a eliminar os erros na linha de terminação marginal, é importante usar um elemento mecânico que é colocado no sulco gengival, como um fio ou pasta5. O objetivo é criar um espaço com cerca de 0,2 mm ou mais em torno da linha da preparação, para o afastamento horizontal (Figuras 5 e 6)6.
As impressões óticas eliminam a necessidade do uso de moldeiras e materiais que provocam desconforto para os pacientes. Com a ajuda da tecnologia, existe uma simplificação nos protocolos de trabalho e na agilidade da obtenção de restaurações. As duas principais limitações dos scanners intraorais, até o momento, são a dificuldade de registrar impressões suficientemente precisas para projetar e fabricar restaurações de arco completo, e a dificuldade de detectar corretamente as margens subgengivais de preparações protéticas. É importante não esquecer que continuamos a ter saliva, sangue, fluido crevicular e gengiva que impedem que a luz do scanner seja projetada (Figuras 6 a 8)7.
Em prótese fixa sobre dentes naturais, o ajuste marginal das restaurações é fundamental. Uma restauração mal adaptada pode levar a uma série de efeitos adversos, tais como: retenção de placa, inflamação gengival, formação de bolsa periodontal, recessões e cáries secundárias8.
Devemos levar em consideração que os conhecimentos adquiridos da moldagem convencional se mantêm, apesar da tecnologia ser uma nova aliada do processo, uma vez que no modo de impressão digital o afastamento gengival ainda é um passo crítico para o sucesso final do tratamento, pois, afinal, a luz não faz curva.
Agradecimentos: ao Dr. Guilherme Saavedra, pela cessão de imagens deste trabalho..
Referências
1. McCracken MS, Louis DR, Litaker M, Minyé HM, Oates T, Gordan VV et al. National Dental PBRN Collaborative Group. Impression techniques used for single-unit crowns: findings from the national dental practice-based research network. J Prosthodont 2018;27(8):722-32.
2. Kamozaki MBB, Francci CE, Riquieri H, Saavedra GSFA. Afastamento gengival: técnicas e materiais. PróteseNews 2015;2(4):470-82.
3. Perakis N, Belser UC, Magne P. Final impressions: a review of material properties and description of a current technique. Int J Periodontics Restorative Dent 2004;24(2):109-17.
4. Rau CT, Olafsson VG, Delgado AJ, Ritter AV, Donovan TE. J Am Dent Assoc 2017;148(9):654-60.
5. Baba NZ, Goodacre CJ, Jekki R, Won J. Gingival displacement for impression making in fixed prosthodontics: contemporary principles, materials, and techniques. Dent Clin North Am 2014;58(1):45-68.
6. Nemetz H, Donovan T, Landesman H. Exposing the gingival margin: a systematic approach for the control of hemorrhage. J Prosthet Dent 1984;51(5):647-51.
7. Mangano FG, Margiani B, Solop I, Latuta N, Admakin O. An experimental strategy for capturing the margins of prepared single teeth with an intraoral scanner: a prospective clinical study on 30 patients. Int J Environ Res Public Health 2020;17(2):392.
8. Zimmermann H, Hagenfeld D, Diercke K, El-Sayed N, Fricke J, Greiser KH et al. Pocket depth and bleeding on probing and their associations with dental, lifestyle, socioeconomic and blood variables: a cross-sectional, multicenter feasibility study of the German National Cohort. BMC Oral Health 2015;15:7 (DOI:10.1186/1472-6831-15-7).
Coordenação da coluna:
Diogo Miguel da Costa Cabecinha Pacheco Viegas
Pós-graduado e técnico em Prótese Dentária, doutorando em Ciências da Reabilitação Oral e professor assistente convidado de Prótese Fixa e Reabilitação Oral – Faculdade de Medicina dentária da Universidade de Lisboa (FMDUL), em Portugal.
Orcid: 0000-0002-6545-7875.
Autor convidado:
João Tiago Mourão
Professor associado e coordenador das disciplinas de Prostodontia Fixa I e Reabilitação Oral II do curso de mestrado integrado em Medicina Dentária e da pós-graduação do curso de especialização em Prostodontia – Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa (FMDUL), em Portugal.