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A proporção coroa/implante pode influenciar nos resultados das reabilitações em longo prazo?

Com os diversos tamanhos de implantes à disposição, alguns caminhos de tratamento podem não ficar tão claros quanto as abordagens mais corriqueiras. Por isso, a análise a longo prazo é fundamental.

O sucesso das reabilitações com o uso de implantes osseointegráveis está pautado na previsibilidade dos materiais e técnicas empregadas, os quais devem ser baseados em evidências científicas. Durante muitos anos, os conceitos de reabilitações sobre tais implantes foram baseados em conceitos empíricos oriundos das reabilitações protéticas sobre dentes naturais, acreditando-se que tais conceitos poderiam ser aplicados para as próteses sobre implantes. Atualmente, a literatura vem mostrando que, em virtude das diferenças existentes entre ambos, principalmente a ausência do ligamento periodontal, os implantes vão se comportar de forma diferente ao longo dos anos e, por isso, os protocolos terapêuticos devem ser atualizados.

Os implantes curtos, com comprimento menor do que 8 mm, demonstraram bons resultados nos estudos iniciais, porém tais estudos foram pautados somente nos conceitos de Osseointegração e de simples metodologia, com avaliação e acompanhamentos de aproximadamente cinco anos. Esses implantes surgiram com a premissa de se evitar cirurgias invasivas e traumáticas de enxertos ósseos, muitas vezes com resultados imprevisíveis em determinadas regiões, em vista do grau de atrofia já existente. Além disso, com o uso de implantes curtos, diminui-se o tempo de tratamento, os custos tornam-se reduzidos e o grau de morbidade também é menor. Entretanto, a grande dúvida por parte dos profissionais reabilitadores está no tamanho da coroa protética em relação ao comprimento do implante, uma vez que os conceitos aplicados em dentes naturais requeriam proporção de 1:1 mínima.

Uma das linhas de pesquisa no programa de pós-graduação dentro da São Leopoldo Mandic estuda o comportamento biomecânico dos implantes osseointegráveis por meio de testes laboratoriais. Tais estudos são importantes, uma vez que os implantes estão submetidos a cargas mastigatórias durante todo o seu período de uso e, nesse ínterim, são necessários estudos de fadiga em que implantes e componentes protéticos são submetidos a cargas cíclicas até que o conjunto apresente falha. Os resultados são de suma importância para prever quando, como e onde essas falhas podem ocorrer ao longo do tempo. Desta forma, é possível propor modificações e melhorias em determinados componentes, a fim de aumentar a segurança e previsibilidade dos tratamentos reabilitadores, o que seria difícil com estudos clínicos.

As dissertações de mestrado dos alunos da São Leopoldo Mandic, Ayrton Miranda Neto e Luciano Franklin Sousa do Carmo, tiveram como intuito avaliar, por meio de ensaios mecânicos, a influência da proporção coroa/implante no afrouxamento de parafusos de retenção de próteses utilizando implantes curtos e extracurtos. Para tal, ambos os estudos utilizaram o teste de fadiga por ciclagem mecânica seguindo as diretrizes da norma ISO 14801:2007, em que submeteram os espécimes a 2.000.000 de ciclos a uma frequência de 4Hz e simulando uma força de mastigação de 120 N. Segundo a literatura, essa configuração corresponde a dois anos e meio de função mastigatória.

O primeiro estudo utilizou implantes com 8 mm de comprimento, com diferentes alturas de coroas protéticas (relação coroa/implante de 1:1 e 1,5:1), para serem submetidos ao processo de ciclagem e, posteriormente, um torquímetro digital foi utilizado para verificação do contratorque. O segundo estudo, por sua vez, utilizou os implantes extracurtos com 4 mm de comprimento, com alturas de coroas protéticas que variaram de 6 mm a 12 mm, submetidos aos mesmos padrões de testes mecânicos. Os resultados foram semelhantes em ambos os estudos, em nenhum caso houve afrouxamento dos parafusos, mostrando que os diferentes conjuntos testados suportaram bem as cargas e os ciclos de fadiga aos quais foram submetidos. Ainda assim, os resultados de contratorque dos parafusos não mostraram diferenças estatísticas significantes, o que mostra que, independentemente do comprimento dos implantes e da proporção coroa/implante, os mesmos são capazes de suportar as forças mastigatórias sem prejuízo ao sistema. Além disso, nenhum dos componentes protéticos do conjunto sofreu qualquer tipo de dano ou deformação, o que será mostrado nas próximas edições com os estudos por análise de elementos finitos.

Os estudos concluíram que os implantes curtos e extracurtos são uma alternativa viável nos casos de atrofias ósseas verticais. Eles atendem adequadamente a necessidade de fixação de próteses, evitando as cirurgias reconstrutivas mais invasivas, reiterando a importância desse tipo de metodologia.

A. Implante curto montado em base de poliuretano. B. Abutment montado sobre implante. C. Espécimes montados com simulador de coroa protética.