Toda mudança severa dentro de uma área da Saúde não é imediata. Um dos procedimentos mais corriqueiros em Odontologia Restauradora é a moldagem, utilizada há décadas para copiar as arcadas dentárias ou parte delas, com o intuito, por exemplo, de que uma coroa total em cerâmica possa ser confeccionada.
Tradicionalmente, utilizamos materiais como alginato e silicones para realização do molde, além de algum tipo de gesso para criar modelos. Apesar de parecer algo simples, a obtenção de um modelo de qualidade depende de uma intrincada sequência de passos executados de maneira cuidadosa, pois a certeza da precisão das etapas só pode ser confirmada quando a prótese é provada para finalização na boca com estética e função restabelecida.
Dessa maneira, é importante entender que todo procedimento em Odontologia é um “conjunto de passos”. Quando um desses passos é finalizado – e antes de irmos para o próximo – devemos criar um processo de validação, que são protocolos de operação padrão que servem para conferir a qualidade em cada uma das etapas. Nas áreas da Saúde, o conceito de dupla checagem é utilizado em hospitais para controlar, por exemplo, a infecção hospitalar. Em nossa área de atuação, esse conceito serve para reduzir o número de erros dentro de uma “cadeia produtiva”.
Um exemplo clássico é a avaliação de um molde para dez elementos protéticos em maxila. A execução de moldagens que envolve uma área em curva, no caso a arcada superior, é sempre passível de limitações e eventuais erros. Até profissionais experientes muitas vezes se deparam com pontos de contato inadequados na boca, mesmo que no modelo final esteja perfeito. Como mencionado, há muitos fatores envolvidos e é difícil de controlar todos, mas há necessidade de que busquemos sempre a eliminação dessas eventuais falhas em busca da excelência.
Nesta coluna, vamos explorar como a tecnologia pode nos ajudar nessa redução de falhas e na melhoria do processo, em casos de elementos de cerâmica na maxila como exemplo. São recomendações que se mostram eficazes dentro dessa complexa rede de detalhes em nosso dia a dia clínico laboratorial.
Recomendação 1: realize sempre duas moldagens ou dois moldes, principalmente em casos de arcos da região anterior ou que envolvam muitos dentes. O custo e o tempo gastos para fazer um ou dois moldes é menor do que uma eventual necessidade de agendar novamente com o paciente, realizar a anestesia, tirar provisório, colocar fio e cimentar provisório, gerando um desgaste desnecessário na relação com o paciente, além da agressão ao tecido periodontal com um novo afastamento gengival. Eu, particularmente, realizo sempre dois moldes desde o final da década de 1990, e há alguns anos um molde e um escaneamento. Quando digo isso, muitos profissionais me questionam a razão de moldar se eu tenho um escâner intraoral, e a explicação está acima: o conceito de dupla checagem. Com um molde e uma imagem escaneada, o laboratório tem a chance de validar qual o melhor para ser trabalhado e, muitas vezes, ambos são utilizados, visto que o fl uxo digital permite a sobreposição de imagens e a correção das margens. O processo de validação pode ser aplicado em todos os passos de uma reabilitação oral, seja moldando ou escaneando.
Recomendação 2: é necessário entender que vivemos uma fase de transição digital. Na Reabilitação Oral, os processos estão cada dia mais dependentes da tecnologia digital, seja com imagens tomográficas ou com sistemas CAD/CAM. Esse caminho não tem volta e precisamos estar preparados. Um exemplo para todas as áreas é a utilização do escâner intraoral, que está se tornando uma multiferramenta e serve também como um mecanismo de validação de etapas. O escâner não serve somente para economizar material de moldagem. Ele auxilia na melhoria de toda a condução de um tratamento odontológico. Esstas duas recomendações são uma espécie de alerta para cada vez mais incluirmos melhorias de processos na educação desde a graduação. Entendo perfeitamente que ainda o custo desta digitalização é alto, mas com a evolução cada vez mais rápida – e a forma como esse recurso está se tornando indispensável – haverá mais opções que irão popularizar o que hoje pode parecer inacessível. Afinal, digitalização de processos não é o futuro, já é a realidade cada vez mais presente em clínicas odontológicas, radiológicas e laboratórios de prótese.