Reflexões – ImplantNews 20 anos: uma reflexão sobre a longevidade dos implantes dentários nas últimas duas décadas.
É certo que os implantes dentários sobrevivem em ambientes hostis, como a cavidade bucal. Isto deveria ser ensinado no começo de qualquer curso básico ao assunto. A outra verdade é que essa sobrevivência está ligada a diversos fatores. Ao abrirmos mão de uma barreira natural de defesa, que é o ligamento periodontal, esse tipo de tratamento já estaria com seus dias contados. Entretanto, nada é simples quando se trata da Implantodontia e a famosa taxa dos 5% de insucesso.
Considerar que o seu implante é biocompatível, está na posição correta e que seus pacientes não possuem condições sistêmicas já afasta diversos problemas. Mas há outros fatores. Primeiro, existem mais de 700 espécies (microrganismos) prontas para “detonar” o seu implante. Elas sobrevivem dos restos alimentares e regurgitam subprodutos que afetam a camada de óxido de titânio, criando corrosão. Essas “pilhas eletroquímicas” também se formam quando materiais restauradores diferentes, como ligas metálicas de NiCr ou CoCrMo, entram em contato com o titânio, e acentuam-se pela presença de bactérias, especialmente S. aureus: daí o mau cheiro e a perda óssea.
Segundo, outro fato que merece nossa atenção é o nível ósseo radiográfico. Acostumamo-nos, forçosamente, a fazer melhor as radiografias periapicais pela técnica do cone longo para compreender o funcionamento desse “termômetro de tons de cinza”. É verdade que nem sempre iremos pegar essas bactérias no ato. Por isso, seu paciente deve retornar periodicamente ao consultório para garantir a sobrevivência do implante. Logicamente, o curso natural das nossas preocupações culminaria na Classificação das Doenças Periodontais, de 2018, com uma seção especial sobre os fatores prognósticos na longevidade dos implantes, enfatizando também a importância de se usar a sonda periodontal: profundidades de sondagem ≥ 6 mm e perdas ósseas radiográficas ≥ 3 mm seriam peri-implantite. Na era da inteligência artificial, com os dados acima, seria mais fácil criar mapas que nos mostrem para onde nossos implantes estão caminhando.
Terceiro, o que dizer da quantidade de cimento nas margens de uma coroa? O cimento que você utiliza é radiopaco ou não? Você consegue remover os excessos de cimento em margens “muito” subgengivais, mesmo colocando um fio retrator? Diversos trabalhos mostram que mais de 50% do perímetro marginal externo dessas restaurações carregam esses “resorts” para microrganismos.
Por fim, aos fatores acima, acrescente a dinâmica oclusal. A regra é não poupar papel, fita, carbono e todo tipo de geringonça que você tiver no seu consultório. Os componentes mecânicos dos seus implantes são como peças de um carro: se adaptam bem quando a estrada parece um tapete, mas perdem desempenho frente aos buracos, “tartarugas” e outros obstáculos não lineares. Acontece que nossos “sensores bucais automotivos” nunca funcionaram em sequência de alerta: 1) um incômodo doloroso; 2) o afrouxamento do parafuso protético; e 3) o começo de mobilidade do implante.
Mesmo assim, atualmente, nos sentimos mais seguros para dizer aos nossos pacientes o que é um implante dentário, o que vai acontecer na sua história odontológica e como ele poderá sobreviver. A remoção e a colocação de uma nova fixação deixaram de ser pecados mortais há muito tempo.