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A influência da porosidade das malhas de titânio na neoformação óssea

Sérgio Scombatti e Rafael Verleigia Mantovani apresentam caso clínico com o uso isolado de malhas de titânio e substituto ósseo bovino.

O princípio básico da regeneração óssea guiada (ROG) consiste na utilização de barreiras físicas para impedir a proliferação do epitélio e do tecido conjuntivo no defeito ósseo, possibilitando a ocorrência da osteogênese1. Alguns requisitos indispensáveis para que as membranas ajam como barreira física são: apresentar biocompatibilidade, propriedades oclusivas, capacidade de criação de espaço, integração tecidual e facilidade de uso/manipulação2. Um dos parâmetros importantes para a ocorrência da ROG é a permeabilidade seletiva da barreira utilizada, que tem relação direta com o tamanho das porosidades dessa barreira. Esta associação entre porosidade e neoformação tecidual tem sido investigada na literatura.

O titânio apresenta ótimas propriedades mecânicas, alta resistência à corrosão e excelente biocompatibilidade. O uso mais frequente deste material é na confecção de malhas perfuradas para suportar e proteger enxertos particulados, visando à reconstrução de rebordos alveolares. Essas malhas, que não são barreiras oclusivas às células, podem ser encontradas no mercado com diferentes diâmetros de poros. Ainda são poucos os estudos que analisaram a relação existente entre o diâmetro dos orifícios das malhas de titânio com o tipo de neoformação óssea subjacente. Um estudo3 em cães avaliou malhas de titânio macroporosas (poros de 1,2 mm) e microporosas (poros de 0,6 mm) frente a uma barreira de polímero sintética (poros de 1 mm) quanto à neoformação óssea. Os autores verificaram que a porosidade das malhas de titânio influencia na regeneração óssea, ressaltando a importância de identificar um tamanho crítico de poros para realizar a fabricação de malhas confiáveis que impeçam o crescimento excessivo de tecido mole e promovam a neoformação óssea.

Um estudo recente4 do nosso grupo de pesquisa avaliou a influência dos diferentes tipos de porosidade de malhas de titânio presentes no mercado nacional, no processo de neoformação óssea em defeitos críticos criados cirurgicamente em calvária de ratos, por meio de análises microtomográfica e histomorfométrica. Foram avaliadas duas malhas (Surgitime Titânio, Bionnovation – Bauru/SP) com 0,04 mm de espessura, mas com porosidades diferentes: 0,15 mm (grupo MPP) e 0,85 mm (grupo MPG). Para tal, foram criados defeitos com 5 mm de diâmetro em calvária de 36 ratos, e os animais foram aleatoriamente tratados e divididos em grupos com malhas e membranas de teflon, associação de malhas e membranas, e um grupocontrole negativo (apenas com coágulo sanguíneo no defeito). Após 60 dias, os animais foram sacrificados e o tecido ósseo formado foi avaliado. Nos resultados microtomográficos, para a densidade óssea, o grupo MPP apresentou o maior valor numérico (22,24 ± 8,97), com diferença estatisticamente significante para todos os outros grupos, com exceção do grupo MPG. Na avaliação histomorfométrica, grupos com apenas malhas de titânio porosas apresentaram valores superiores quando comparados aos grupos que utilizaram a membrana de teflon e ao controle negativo. Concluiu-se que a malha de titânio com poros menores (0,15 mm) mostrou os melhores resultados, sugerindo uma correlação entre a porosidade da malha e o reparo ósseo subjacente.

Este estudo pré-clínico em animais mostrou um fenômeno muitas vezes encontrado na prática clínica: a formação óssea adequada em reconstruções de defeitos subjacentes ao uso apenas de malhas de titânio. Clinicamente, estes efeitos benéficos da utilização isolada das malhas de titânio também têm sido relatados na literatura. Foram tratados 18 pacientes5 necessitando de reconstruções ósseas verticais com o uso de enxertos autógenos + malhas de titânio. Os resultados mostraram uma média de 4,8 mm de ganho ósseo, permitindo a instalação de implantes com sucesso. Outro estudo6 mostrou bons resultados com o uso de malhas de titânio associadas a enxertos ósseos autógenos, promovendo reconstruções verticais e horizontais adequadas do rebordo alveolar. As Figuras 1 a 8 mostram um caso clínico com o uso isolado de malha de titânio (Surgitime Titânio, Bionnovation – Bauru/SP) e substituto ósseo bovino (Bonefill Porous, Bionnovation – Bauru/SP). Entretanto, embora os indícios provenientes da literatura sejam positivos, existe a necessidade da realização de um estudo clínico controlado e randomizado que corrobore os resultados que foram obtidos em animais, para poder preconizar o uso deste protocolo como procedimento clínico em humanos.

É importante ressaltar que não estamos propondo uma mudança nos conceitos de regeneração óssea guiada, que continua sendo a terapia de escolha para os procedimentos clínicos de reconstrução óssea. Entretanto, os resultados encontrados em animais abrem uma discussão para a possibilidade de neoformação óssea sob barreiras com diferentes porosidades e devem ser testados em estudos controlados em humanos, para avaliar se este resultado também ocorrerá de forma previsível. O entendimento destes fenômenos permitirá o desenvolvimento e aprimoramento de membranas e malhas cada vez mais compatíveis biologicamente com os tecidos duros e moles, aspectos essenciais para um tratamento bem-sucedido.

Referências

  1. Gottlow J, Nyman S, Karring T, Lindhe J. New attachment formation as the result of controlled tissue regeneration. J Clin Periodontol 1984;11(8):494-503.
  2. Scantlebury TV. 1982-1992: a decade of technology development for guided tissue regeneration. J Periodontol 1993;64(11 suppl.):1129-37.
  3. Gutta R, Baker RA, Bartolucci AA, Louis PJ. Barrier membranes used for ridge augmentation: is there an optimal pore size? J Oral Maxillofac Surg 2009;67(6):1218-25.
  4. Mantovani R, Fernandes Y, Meza-Mauricio J, Reino D, Gonçalves LS, Sousa LG et al. Influence of different porosities of titanium meshes on bone neoformation: pre-clinical animal study with microtomographic and histomorphometric evaluation. J Funct Biomater 2023;14(10):485.
  5. Roccuzzo M, Ramieri G, Spada MC, Bianchi SD, Berrone S. Vertical alveolar ridge augmentation by means of a titanium mesh and autogenous bone grafts. Clin Oral Implants Res 2004;15(1):73-81.
  6. Miyamoto I, Funaki K, Yamauchi K, Kodama T, Takahashi T. Alveolar ridge reconstruction with titanium mesh and autogenous particulate bone graft: computed tomography-based evaluations of augmented bone quality and quantity. Clin Implant Dent Relat Res 2012;14(2):304-11.