A Odontologia resiste: como os cirurgiões-dentistas estão enfrentando – e vencendo – as dificuldades por conta da pandemia de Covid-19.
Por Adilson Fuzo
Você já deve estar cansado de ouvir falar sobre o novo coronavírus, além de todos os riscos que a pandemia de Covid-19 impõe à sua saúde, de sua família e de toda a população como um todo, incluindo a da Odontologia.
Também já deve ter uma opinião formada sobre os erros e acertos do governo federal nos últimos cinco meses. Afinal, o presidente da República, seus ministros e ex-ministros também se tornaram personagens da pandemia e da crise política que se formou a partir dela, ao lado dos governadores, militares, ministros do STF, deputados, senadores e de muita gente que não é do ramo da saúde, mas tem a caneta na mão para decidir o futuro do País.
Naturalmente, nossos problemas não param por aí. No período em que os consultórios odontológicos mais precisam recuperar o seu faturamento, todos os sinais apontam para uma desaceleração da economia no período pós-pandemia, já que muitos pacientes perderam parte de seus rendimentos ou a sua totalidade. A projeção atual do Banco Central para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro indica uma queda de 6,1% na atividade econômica em 2020. É uma verdadeira tragédia.
Este é apenas um resumo do cenário desafiador que a Covid-19 nos impôs. A Odontologia foi atingida em cheio e nossos problemas devem tomar nossa energia pelo resto do ano de 2020 e, provavelmente, uma parte de 2021. Tudo depende da liberação das vacinas, da imunidade de rebanho e da recuperação da economia. Mas, mesmo diante de tantas dificuldades, existem também boas notícias que precisam ser valorizadas.
A primeira delas, sem dúvidas, é que você está vivo! Mesmo que pareça que essa afirmação seja uma mensagem de autoajuda, vale lembrar que, no início da pandemia, ainda não tínhamos a real dimensão da gravidade da Covid-19. Hoje sabemos que, embora a doença tenha um alto nível de contágio, sua letalidade é relativamente baixa, pelo menos fora dos grupos de risco.
Obviamente, fica o registro, isso não significa que qualquer pessoa deva subestimar o Sars-Cov-2. Mesmo sobrevivendo à doença, cerca de 10% dos infectados são hospitalizados, podendo desenvolver sintomas graves. Com certeza, não é uma experiência agradável.
Odontologia em reconstrução em meio à pandemia
Inegavelmente, todos saíram perdendo com a pandemia, mas o cirurgião-dentista parece que carrega um peso extra. Em abril, um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revelou que os profissionais da Odontologia estão entre os mais vulneráveis à contaminação por Covid-19. Especificamente, a função de técnico em saúde bucal foi considerada a mais perigosa dentre todas as 2.500 profissões avaliadas no estudo.
Entre junho e julho, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) entrou em contato com 40.269 cirurgiões-dentistas distribuídos por todo o território brasileiro para avaliar o nível de atividade dos profissionais durante o período em que as prefeituras e os estados começaram a relaxar as medidas de quarentena, retomando gradualmente o funcionamento dos comércios e dos espaços públicos. Dentre os cirurgiões-dentistas entrevistados, 82% afirmaram que já retornaram às atividades de atendimento.
Risco vezes três
Nessa equação, o profissional de Odontologia tem três obstáculos:
1 – Preservar a própria saúde
O cirurgião-dentista está mais vulnerável à contaminação por estar exposto aos aerossóis e respingos que fazem parte da rotina no atendimento odontológico.
2 – Risco de tornar-se um vetor
Ao ser contaminado, o profissional passa a colocar em risco os demais pacientes que forem atendidos nos dias seguintes.
3 – Local de atendimento de alto risco
O Sars-Cov-2 pode permanecer em suspensão por várias horas no ambiente do consultório, mesmo depois que um paciente contaminado já foi embora.
Outro estudo recente, cujo artigo ainda está em fase de pré-impressão, dá uma boa ideia de como a Odontologia brasileira está lidando com as restrições impostas pela pandemia. Ele foi desenvolvido pelo Programa de Pós-graduação em Odontologia da Universidade Federal de Pelotas, com coordenação do Prof. Dr. Rafael R. Moraes, envolvendo mais de três mil cirurgiões-dentistas de todo o território nacional que responderam o questionário.
O estudo mostrou também que 5% dos cirurgiões-dentistas já atenderam pacientes com diagnóstico confirmado de Covid-19 e 90% relataram temer contrair a doença no trabalho. Embora tenham demonstrado grande insegurança na adoção de novas rotinas, somente 1% da amostra relatou ter testado positivo para a doença, o que sugere que o risco maior de contaminação na profissão está sendo bem gerenciado pelos profissionais. Essa informação de baixa contaminação entre os cirurgiões-dentistas foi confirmada pelo Ministério da Saúde que, em consulta realizada pelo CFO, afirmou que trata-se da categoria que menos se contaminou até agora entre aqueles que estão na linha de frente. De acordo com o governo, dos 169 óbitos de profissionais de saúde, registrados entre os meses de março e junho, cinco são cirurgiões-dentistas.
Outro tópico importante abordado pela equipe de Pelotas é que, confirmando as expectativas, 98% dos entrevistados relataram redução no número de pacientes, não só nos consultórios privados, mas também na rede pública.
De certa forma, a reconquista da confiança do paciente será o grande desafio para todos os cirurgiões-dentistas. Se ele está com dor, vai acabar procurando pelo atendimento de forma natural. Para outros tipos de tratamento, considerando que todos estão contendo as despesas, a dificuldade tende a ser maior.
Obviamente, antes de qualquer contato com o paciente, o cirurgião-dentista precisará passar pela fase de adaptação à nova realidade, redesenhando seu fluxo de trabalho para adequá-lo às novas demandas de biossegurança. Isso inclui não só a aquisição de equipamentos de proteção individual (EPI) para a equipe, mas também mudanças na rotina de trabalho, desde a recepção do paciente até a sua saída. Tudo isso depende de investimento financeiro. Se você se sente despreparado para retomar suas atividades, não se afobe. Às vezes, a melhor solução é agir rápido, mas existem situações em que esperar é a decisão certa. Cada cirurgião-dentista conhece suas próprias finanças e deve saber até que ponto vai arriscar sua saúde. Tudo isso deve ser colocado na equação.
O golpe da pandemia foi duro, mas a Odontologia continua em pé. Aos poucos, ela vai se adaptando e recuperando o fôlego para voltar mais forte do que nunca.
Histórias da pandemia
Adilson Torreão Filho (Recife/PE)
O impacto da pandemia foi enorme, pois repentinamente fomos obrigados a fechar o consultório por três meses seguidos. Estávamos trabalhando a todo vapor e, em questão de quatro dias, quando o Ministério da Saúde anunciou as primeiras recomendações, tivemos de parar tudo e mandar todo mundo para casa. Não foi nada fácil.
Nesse período em que fomos forçados a ficar em casa, aproveitei o tempo livre para ler alguns livros que não tinha tempo antes da quarentena, além de assistir aulas on-line e aproveitar melhor o tempo com a família.
Do ponto de vista financeiro, a pandemia de Covid-19 foi bastante impactante. Foram três meses muito difíceis em que não pudemos produzir nada, mas as contas continuaram chegando. Comparando os seis primeiros meses de 2019 com o mesmo período de 2020, tivemos uma queda no faturamento de 49%, ou seja, a receita foi reduzida pela metade.
Retomamos as atividades em 20 de junho. Toda a equipe estudou bem os novos protocolos de atendimento e fizemos as adequações necessárias para o retorno.
Os pacientes mais velhos não estão querendo voltar ao consultório, pelo menos agora. Os mais jovens têm vindo sem problemas. Confesso que estou até surpreso com a chegada de novos pacientes. Achei que seria mais difícil esse retorno, mas nesse primeiro mês de atividade o resultado foi maior do que esperávamos, embora ainda esteja abaixo do que tínhamos antes.
A pandemia deixou algumas lições, mas ainda é cedo para falar em mudanças a longo prazo. Existem muitas incertezas e estamos todos aprendendo as novas regras desse mundo. Acredito que nos adequaremos e a vida voltará a ser “normal”, mas será “um novo normal”.
Acho que esse ano será um ano difícil para os cirurgiões-dentistas, principalmente para aqueles que não tinham reservas financeiras de emergência. Teremos de atravessar esse ano e, a partir do próximo, voltaremos a crescer.
José Cícero Dinato (Porto Alegre/RS)
A pandemia nos pegou justamente no momento em que voltávamos das férias coletivas, no início de março. Achávamos que iríamos começar o ano e tivemos de dar férias novamente para todos os funcionários, pois ficamos restritos ao atendimento de emergência por mais de seis semanas.
Retornamos aos atendimentos eletivos na metade de maio, a partir da liberação dos órgãos de saúde, mas a pandemia se agravou e, no início de julho, o governo do Rio Grande do Sul decretou bandeira vermelha. Atualmente, as autoridades discutem a possibilidade de um lockdown na região.
Posso dizer que a pandemia trouxe um grande impacto financeiro para nossa clínica, já que foi preciso fazer investimentos e arcar com todos os custos fixos, que não cessaram. Além disso, já são mais de quatro meses totalmente atípicos e sem perspectiva de normalização no curto prazo. Fizemos várias adaptações na clínica, além de uma capacitação entre nossos funcionários para ajustarmos ainda mais os cuidados com a biossegurança e novos EPIs. Reduzimos as poltronas na sala de espera e colocamos um armário para que os pacientes pudessem colocar suas bolsas, casacos etc. Espalhamos dispensadores de álcool em gel e colocamos um tapete sanitizante e um seco na entrada da sala. Adquirimos mais de 100 aventais para serem trocados pela equipe a cada paciente, além de campos fenestrados e um grande investimento na aquisição de uma bomba de vácuo para névoa de spray, com capacidade na ponta aspiradora de 400 L/min.
Não há como fazer previsões, mas minha esperança é de que, a partir de março de 2021, possamos lentamente nos recuperar. Não só economicamente, mas também afetivamente, reunindo novamente os amigos e familiares, e retomando plenamente nossas atividades profissionais. Até termos a vacina, é nossa obrigação seguir as recomendações das autoridades sanitárias, manter o afastamento social e cuidar uns dos outros. A única certeza é de que tudo vai dar certo no final.
Marcelo Kyrillos (São Paulo/SP)
No início de março, muitos pacientes entraram em contato desmarcando suas consultas, principalmente aqueles que moram fora da cidade e que não queriam pegar um voo e nem vir para São Paulo, que estava se tornando o epicentro da Covid-19 no Brasil naquela época. Por conta do alto número de cancelamentos, interrompemos nossas atividades por 75 dias, retomando a partir de 1o de junho.
Desde 2018, já vínhamos em um movimento de tornar os negócios mais sustentáveis e enxutos, seguindo uma tendência mundial. Nosso congresso de 2019, inclusive, tratou da importância da gestão de forma enfática. Com a chegada da pandemia, essa tendência de enxugamento apenas se acentuou, tornando-se obrigatória em todas as empresas.
Nossa clínica sempre teve um rígido controle de infecção cruzada, mas algumas adaptações foram necessárias para lidar com a Covid-19. Principalmente na diminuição do fluxo de pacientes na sala de espera e no tempo de limpeza da sala. Também eliminamos alguns mimos, como lanches, sucos e bolo que servíamos aos pacientes, assim como as interações prolongadas com beijos, abraços etc. Nossa relação se tornou, obrigatoriamente, mais fria e distante.
Vejo muitas mudanças irreversíveis na vida de todos nós. Dentro da realidade da Odontologia, os pacientes estão muito mais questionadores sobre o tipo de tratamento proposto. Do ponto de vista financeiro, também estão mais cautelosos, optando por fazer tratamentos mais pontuais, pois existe uma incerteza generalizada sobre o futuro. Portanto, a comunicação com os clientes precisa ser clara, com propostas de tratamentos enxutas, específicas e dentro de suas reais necessidades.
De um modo geral, será melhor para todo mundo, tudo seguirá uma tendência mais sustentável, mais real, mais necessária, mais pé no chão. Embora esteja incerto, vejo o futuro com muito otimismo.
Fábio Bezerra (Salvador/BA e São Paulo/SP)
Tenho duas clínicas, sendo uma em São Paulo e outra em Salvador. Entre os meses de março, abril e maio, passamos a nos dedicar apenas aos atendimentos de emergência, iniciando a adoção de novos protocolos de segurança. A partir de junho, retomamos os atendimentos eletivos.
É claro que estamos consternados com as famílias que perderam seus entes queridos e com as pessoas que perderam seus empregos. Minha família também teve seis casos de Covid-19 e, felizmente, nenhum evoluiu de forma grave. Mesmo diante das adversidades, eu tenho como filosofia pessoal buscar sempre o lado bom dos acontecimentos. Assim, quando fui forçado a ficar em casa, procurei usar o meu tempo livre para reciclar meus conhecimentos e produzir artigos científicos, já que raramente sobra tempo para isso na correria do dia a dia. Nosso time conseguiu finalizar 14 publicações nesse período, então valeu a pena.
O impacto financeiro da pandemia foi muito grande. Nossas clínicas tiveram uma redução de 75% no faturamento nos primeiros três meses da pandemia, mas esses números foram recuperados entre junho e julho, e estamos próximos da normalidade. Felizmente, não foi preciso demitir ninguém. Utilizamos os recursos legais de afastamento de trabalho e redução de carga horária, renegociação de prazos com os fornecedores etc. Tudo isso é muito importante para que possamos honrar os compromissos e manter a empresa em pé. Todos os colaboradores entenderam bem as dificuldades e, juntos, estamos conseguindo sair dessa situação.
De forma geral, acho que a pandemia nos deu a oportunidade de rever como estávamos conduzindo nossas vidas profissionais e pessoais. É um momento para aprendermos a valorizar coisas importantes que estavam bem diante dos nossos olhos, mas não víamos, como a nossa liberdade, as nossas amizades, o prazer do convívio com a família, o valor de um abraço, da nossa saúde e a qualidade de vida.
Maristela Lobo (São Paulo/SP)
Eu interrompi os atendimentos durante dois meses seguidos, de 15 de março a 15 de maio. Em seguida, passei um mês atendendo esporadicamente, apenas urgências e emergências.
Durante o período de quarentena, aproveitei para estudar muito e escrever artigos. Passei a dar aulas on-line e fazer lives com maior regularidade. Também foi um período em que pude aproveitar meu tempo para meditar, organizar a casa e estar mais perto da família.
A partir de meados de junho, decidi restabelecer os atendimentos de forma regular, porém de uma forma muito mais espaçada, com mais tempo de cadeira para cada paciente e menos pacientes por dia. Atualmente, atendo, no máximo, quatro pacientes ao dia. Não tenho sentido medo por parte dos pacientes. Nós implementamos protocolos rígidos de biossegurança e os pacientes percebem isso, creio que se sentem seguros. Estou retomando minha rotina aos poucos, principalmente com relação aos cursos. Mais importante do que a velocidade é a direção em que caminhamos. Temos que nos adaptar à nova realidade e às dificuldades de pacientes e alunos.
Assim como aconteceu com muitos colegas, o impacto da pandemia foi bem grande nas finanças. Sem os atendimentos e os cursos, nossas receitas foram reduzidas drasticamente. Por outro lado, procurei usar essa oportunidade para eliminar gastos supérfluos e organizar melhor as finanças.
Não está sendo um período fácil para ninguém, é claro, mas acredito que no longo prazo nossa vida ficará mais prática, menos corrida e mais focada nas reais prioridades.
Mario Groisman (Rio de Janeiro/RJ)
A chegada da pandemia foi realmente muito impactante. Interrompemos nossas atividades em 11 de março e só voltamos no final de junho, mantendo apenas os atendimentos de emergências e urgências.
Nos primeiros três dias, eu confesso que fiquei meio perdido sobre como usar o tempo “livre”. Depois, a ficha caiu e percebi que essa experiência deveria servir como uma fase de aprendizado e estudo. Foi quando realizamos uma sequência de lives com colegas da Suécia, Bélgica, Austrália, Estados Unidos, Chile, Espanha, Portugal etc.
Como a evolução da Covid-19 estava mais avançada em vários desses países, tivemos uma visão de como a Odontologia estava se comportando neste novo contexto. Ficamos realmente muito envolvidos com as discussões sobre a pandemia, estudando o Sars-Cov-2 e tentando encontrar formas de abaixar a curva de contaminação no Brasil. Também passamos a fazer lives sobre gestão e biossegurança, já pensando na retomada de nossas atividades.
Adaptamos o consultório para o fluxo de entrada e saída de pacientes, treinamos nossa equipe e adquirimos os EPIs para a obtenção de maior segurança e conforto para nossos pacientes e colaboradores.
Financeiramente, a coisa ficou muito difícil. Aqui no Rio de Janeiro, o nosso ano começa depois do Carnaval, então a pandemia nos pegou justamente no período em que precisávamos trabalhar para compensar os meses de inatividade, lembrando que a economia já vinha mal nos últimos anos. Para um consultório que conta com outras 15 pessoas, o custo financeiro ficou bastante elevado. Em julho, estamos com 40% do faturamento esperado. Consideramos que 2020 será um ano dificílimo. Mesmo assim, temos a total convicção de que sairemos fortes e resilientes dessa pandemia. Diante dessas adversidades, devemos ter em mente que a crise é um momento para exercitar a criatividade, descobrindo maneiras de alcançar nossos objetivos, gastando menos, buscando potencializar ainda mais nossa estrutura.
Renata Faria (Santos/SP)
Quando começou a quarentena, no início de março, meu consultório foi fechado e as aulas na universidade foram interrompidas. Um mês depois, começaram a aparecer as emergências, que foram atendidas de forma pontual. A partir de meados de maio, passamos a receber os pacientes que estavam com seus tratamentos em andamento e que queriam dar sequência. Desde então, o fluxo no consultório vem crescendo gradativamente, com a chegada de alguns pacientes novos.
Atualmente, estamos atendendo em horário reduzido, apenas no período da tarde, com espaçamento maior entre cada paciente, para que seja possível fazer a higienização e preparação da sala. Nosso protocolo de biossegurança ficou mais rigoroso, mas boa parte dessas medidas já eram rotineiras para as cirurgias em nosso consultório. Eu gostei dessa mudança e, inclusive, pretendo manter o protetor facial e o jaleco descartável em meu protocolo permanente, mesmo depois que a pandemia acabar.
Na universidade, foram incorporadas as aulas on-line. Vejo que foi uma experiência bastante interessante, principalmente para os alunos. Obviamente, as atividades à distância compreendem apenas a parte teórica da matéria.
Nos primeiros meses da pandemia, o faturamento do consultório chegou a cair mais de 60%. Com o retorno dos pacientes, esse valor está se recuperando lentamente e deve atingir a normalidade em breve.
Cabe uma curiosidade: o índice de restaurações fraturadas, apertamento e bruxismo nunca foi tão alto entre meus pacientes. Também percebi um crescimento nos quadros de inflamação gengival e higienização prejudicada, provavelmente como consequência da alimentação desregrada. Aparentemente, os problemas emocionais estão se refletindo na boca da população.
Ainda não consigo enxergar o momento em que nossas rotinas voltarão a ser algo perto do que era antes. Certamente, não será em 2020. Vamos aguardar a chegada da vacina.
Maurício Cardoso (Bauru, Jaú e São Paulo/SP)
Eu sou ortodontista e mantenho três consultórios particulares nas cidades de Bauru, Jaú e São Paulo, trabalhando ao lado do meu pai, que tem 72 anos e pertence ao grupo de risco.
Por isso, nossa primeira providência foi afastá-lo do trabalho, suspendendo as atividades clínicas por completo entre os dias 20 de março e 30 de abril.
Como a paralisação foi inevitável, eu procurei investir o tempo livre dessa quarentena na produção de um livro que estou escrevendo em parceria com o Prof. Alberto Consolaro, conciliando o trabalho com os afazeres domésticos ao lado de minha família.
Ao reabrir parcialmente no final de abril/início de maio, passamos a atender apenas as urgências ortodônticas. A partir de junho, passamos a chamar todos os pacientes para dar sequência no tratamento ortodôntico, mas alguns deles ainda se sentiam inseguros em retornar ao consultório.
O impacto da pandemia em nossas finanças foi enorme. Além das dificuldades no consultório particular, as aulas presenciais que eu ministro no Brasil e no exterior foram suspensas por conta da pandemia. Por sorte, desde o nascimento dos meus filhos, me disciplinei a manter uma reserva financeira para momentos em que eu não pudesse trabalhar. Isto deveria servir de reflexão para muitos colegas.
Para a adaptação ao novo protocolo de biossegurança, minha principal preocupação foi com os aerossóis que, na prática ortodôntica, estão presentes especialmente no momento da retirada do aparelho. Como protocolo, decidimos marcar todos os atendimentos em que isso fosse necessário para o final de cada dia, facilitando a logística de limpeza e isolamento das salas de atendimento. Fora isso, já mantínhamos um padrão rigoroso de biossegurança.
Para lidar com a Covid-19, bastou treinar a equipe, incorporar alguns EPIs extras, espaçar os atendimentos e reduzir a permanência do paciente dentro do ambiente clínico. Acredito que o deslocamento do paciente nos grandes centros até o local de atendimento é mais crítico do que a própria permanência dentro do consultório.