Nivaldo Vanni explica diferenças dos fitocanabinoides e indica forma correta de usar em casos de bruxismo.
ÓLEOS DE CANNABIS
Ao pensar na extração de óleos da planta cannabis, é possível que haja a sensação de que seja um produto feito de flores maceradas, como um xarope, do qual fazemos uso para a busca do efeito terapêutico desejado. De fato, essa pode ser a realidade de alguns pacientes, principalmente aqueles que têm permissão judicial para plantar e extrair domesticamente o óleo. Essa é uma saída financeiramente acessível para aqueles que não conseguem arcar com os custos de produtos desenvolvidos por indústrias, que seguem o rigor da lei, no equilíbrio dos componentes a serem consumidos. No entanto, a falta de balanceamento entre os canabinoides presentes pode trazer efeitos indesejados, além de contaminações do produto.
ANÁLISE CROMATOGRÁFICA (COA)
A análise cromatográfica é uma técnica fundamental para identificar e quantificar os compostos presentes na planta, desde os principais CBD e THC até os menores, como THCV e CBN, terpenos e flavonoides. Também analisa a contaminação por fungos, pesticidas e até metais presentes na medicação.
A planta cannabis é muito adaptativa, crescendo em praticamente qualquer tipo de solo. As raízes, por sua vez, são muitos absortivas. A prova disso é que o solo de Chernobil, onde ocorreu o desastre do vazamento de uma usina nuclear na então União Soviética, em 1986, está sendo “limpo” com plantações de maconha.
No Brasil, algumas associações já estão certificando seus produtos com essa análise. Em países como EUA e Canadá, o teste é obrigatório, pois confere ao produto um melhor rigor farmacêutico.
TIPOS DE ÓLEOS DE ESPECTRO COMPLETO
Óleos de cannabis possuem três tipos de apresentação:
1. Isolate (isolado): apenas um tipo de fitocabinoide presente. Por exemplo, o CBD;
2. Broad spectrum (amplo espectro): vários fitocanabinoides e terpenos, a planta toda sem o THC;
3. Full spectrum (espectro completo): todos os fitocanabinoides e terpenos, a planta toda.
O THC e o CBD são os compostos com maior concentração e importância. Possuem suas características farmacológicas, podendo ser agonistas em situação como analgesia e inflamação, e antagonistas em controle da fome, por exemplo. Juntamente com os canabinoides menores e os terpenos, orquestram os efeitos pretendidos.
Nos óleos de espectro completo, existe uma proporção de THC:CBD que sai de 100:1 até 1:100. Nessa régua, paralelamente, as patologias indicadas se alteram nessas proporções.
Temos, então, mais três tipos de composição:
1. Óleos ricos em THC: a proporção THC:CBD vai de 100:1 até 5:1;
2. Óleos balanceados: a proporção THC:CBD vai de 4:1 até 1:4;
3. Óleos ricos em CBD: a proporção THC:CBD vai de 1:5 até 1:100.
Saber entender as características de ação de cada composto canabinoide dará mais segurança para o cirurgião-dentista ao escolher a formulação mais indicada para seus pacientes. Isso é bastante relevante, seja para ajustar a dosagem ou para evitar efeitos colaterais indesejáveis.
O TÃO FALADO BRUXISMO
Vemos, hoje, principalmente nas redes sociais, uma busca e uma oferta massiva de conteúdos e tratamentos para bruxismo. Sem entrar na classificação e nos diferentes tipos de bruxismo, vale dizer que o bruxismo não é uma DTM. Trata-se de uma manifestação simpática estimulada por descargas adrenérgicas, que causam esses movimentos repetitivos de apertar e/ou ranger os dentes.
Dito isso, é imperioso saber o gatilho que desencadeou essa manifestação. Pode ser déficit de sono, estresse, ansiedade ou até desequilíbrios neuroquímicos, por exemplo.
A escolha do seu óleo deve ter como base o gatilho, e não a manifestação. Dessa forma, é possível adicioná-lo à sua terapia padrão. A escolha errada pode levar à piora do quadro.
A CIÊNCIA EM EVOLUÇÃO
A qualidade dos produtos está em uma evolução exponencial. Com a industrialização, o chá de flores caseiro deu um perfil farmacêutico fantástico. Hoje, já são feitas extrações com altíssima precisão e um controle de todo o ciclo produtivo, o que confere resultados melhores e mais segurança.
Ao mesmo tempo, os estudos também não param de aumentar, trazendo cada vez mais evidências e embasamento científico. Já existem testes de DNA em que são identificados biomarcadores de possíveis situações de risco e, na sequência, são indicados os receptores e fitocanabinoides envolvidos nessa prevenção. Dessa forma, existe a certeza de que veremos muito mais avanços e inclusão de tratamentos canábicos nos próximos anos, inclusive para a Odontologia.
Nivaldo Vanni Filho
Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial, mestre e especialista em DTM e Dor Orofacial, coordenador da especialização em HOF – IVA/ Facop, Professor do curso de especialização em Cannabis Medicinal – Unifesp/SBEC; Diretor do CT de Odontologia – SBEC.