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Por trás dos bastidores: facetas feldspáticas

David Morita aborda a duplicação de troquéis de gesso para a técnica de cerâmica livre de metal sobre troquel refratário – mais conhecida como facetas feldspáticas.

“Têm pessoas que olham apenas o palco e se esquecem de olhar os bastidores”. Essa frase do psicanalista e especialista em desenvolvimento emocional Paulo Valzacchi é impactante, porém verdadeira. Muitos esquecem o que acontece durante todo um processo para a elaboração de algo e, quando começa a executá-lo, percebe a complexidade de fatores operados para alcançar o objetivo. Isso ocorre no âmbito pessoal e profissional. Mas, como o assunto aqui é direto da bancada, vou falar sobre duplicação de troquéis de gesso para a técnica de cerâmica livre de metal sobre troquel refratário – mais conhecida como facetas feldspáticas.

Atualmente, esta técnica vem sendo substituída por outras mais avançadas, como cerâmicas feldspáticas fresadas em CAD/CAM ou sistemas de cerâmica injetável. Mas, mesmo assim, ainda existe uma demanda grande porque muitos técnicos não digitalizaram seus processos laboratoriais, o que os direciona a optar por esta técnica totalmente artesanal.

Hoje, se perguntam sobre a minha preferência, eu respondo que prefiro a tecnologia por oferecer o benefício de diminuir os processos laboratoriais, o que corrobora diretamente com a menor distorção causada durante os processos artesanais de confecção. Mas, como venho de uma geração totalmente analógica, durante muito tempo confeccionei facetas livres de metal com a técnica de cerâmica sobre troquel de revestimento refratário. Por esta razão, vou abordar pontos que julgo importantes para garantir um trabalho bem elaborado quando utilizamos esta técnica.

Não será falado sobre a troquelização do modelo, pois a intenção é partir do ponto da duplicação do troquel de gesso. Ao duplicá-lo, é preciso usar um material de silicone cuja polimerização seja feita por adição, que oferece maior estabilidade dimensional. Outros silicones mais baratos encontrados no comércio de insumos e artesanato não devem ser usados em hipótese alguma, pois não são estáveis e podem gerar grandes problemas na confecção das peças de cerâmica.

Assim, posicione os troquéis sobre uma base e fixe-os com cera em torno de toda a sua extremidade. Certifique-se de que a junção entre o troquel e a base utilizada para posicioná-lo esteja formando uma conexão em formato de raio. Isso irá colaborar de maneira significativa para o escoamento do material de preenchimento dentro do molde, quando for preenchido posteriormente para dar origem ao troquel de revestimento refratário. Mantenha uma distância entre os elementos de, pelo menos, 3-4 mm, para não comprometer os troquéis durante a remoção do molde de silicone. Nenhum tratamento nos troquéis de gesso precisa ser feito para serem duplicados, mas melhora-se o resultado da desinclusão quando os troquéis estão parcialmente hidratados. Isso porque o silicone é hidrofóbico e diminui-se o molhamento da sua superfície.

Porém, em sua primeira fase, o silicone de adição tem a polimerização inicial, que pode variar entre 15-30 minutos até ficar pronta para a desinclusão. Mas, isso não significa que já pode preencher o molde de silicone. O material de adição tem como subproduto o hidrogênio, que é liberado após a polimerização – e esta reação química pode durar até duas horas. Por isso, é preciso atenção às recomendações do fabricante. Se não aguardar o tempo necessário, provavelmente inúmeras bolhas estarão presentes em toda a superfície do troquel de revestimento ou gesso. Isso também se aplica aos moldes de silicone de adição obtidos em consultório.

Ainda, é importante utilizar antibolhas nos moldes antes de preenchê-los com revestimento. Ao usar o agente surfactante nos moldes, lembra-se de secar totalmente a superfície para o aditivo não entrar em contato com o revestimento. Caso isso aconteça, causará danos severos na reação química do revestimento ou do gesso. Este surfactante tem como propósito apenas tratar a superfície do molde, a fim de melhorar o molhamento de superfície entre o molde e o material de preenchimento. Nunca se esqueça disso.

Sempre manipule o revestimento seguindo as recomendações do fabricante e use aquele específico para a técnica, pois possui melhor resposta no que diz respeito à adaptação após a remoção do revestimento da cerâmica. Aguarde o tempo indicado pelo fabricante e remova os troqueis de revestimento utilizando ar comprimido, que os expulsará de dentro do molde. Tome cuidado porque é comum os troqueis serem lançados ao ar e danificarem após a queda. Antes do tratamento térmico, o revestimento é muito frágil e deve ser tratado termicamente de acordo com a recomendação do fabricante. Isso deve ser feito para sinterizá-lo e ele só ficará pronto para a aplicação de cerâmica após este tratamento.

Claro que toda a “confusão” dos bastidores não acaba por aqui. Por isso, na próxima edição, darei continuidade a este assunto. Tenho uma paixão enorme por esta técnica, que me ajudou muito nos meus primeiros trabalhos em metal free. Não devemos nos esquecer de onde viemos, saber onde estamos e onde queremos chegar.