David Morita revela diálogo com colega da Odontologia sobre problemas com escaneamento intraoral e a tecnologia digital.
“Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, eu ainda não tenho certeza”. Decidi iniciar esta coluna com a célebre frase de Albert Einstein para contar uma episódio que me ocorreu há algum tempo. Eu fui convidado para o lançamento de um projeto sobre Odontologia Digital por uma empresa voltada para este segmento, em um restaurante muito agradável em São Paulo, regado a um lindo banquete. Diga-se de passagem: um almoço delicioso rodeado de pessoas importantes, entre cirurgiões-dentistas e técnicos em prótese dentária.
Neste almoço, foi lançado um programa sobre cadastramento de cirurgiões-dentistas e técnicos em uma plataforma que possibilitaria uma integração e localização melhor para aqueles que utilizam o modelo digital na execução dos trabalhos protéticos, aproximando as duas partes: dentistas e TPDs.
Após a apresentação do programa de integração que a empresa estava lançando, iniciamos o tão esperado almoço. Sentado à mesa, comecei a observar e escutar os comentários que ali estava acontecendo. Muitos assuntos interessantes me chamavam a atenção. Até que uma pessoa, em alto e bom tom, disse: “O problema da Odontologia Digital, no que diz respeito ao escaneamento intraoral, é que ele tem que evoluir muito”. Até aí, tudo bem, continuei ouvindo porque a frase dita me chamou muito a atenção.
Então, decidi prestar mais atenção e tentar interagir de alguma forma na conversa, fazendo sinais visuais e movimentos com minha cabeça para demonstrar interesse no diálogo. Assim, resolvi lançar uma pergunta: O que você acha que está faltando para esta evolução? E a resposta veio de forma categórica: “Existem distorções quando avalio um escaneamento intraoral.”
Para tentar entender melhor, eu lancei outra pergunta ao colega: Qual tipo de distorção você se refere? E ele continuou: “Pequenos nódulos positivos, às vezes falta de afastamento inadequado em algum ponto do preparo, pequenas áreas retentivas, dificuldade de visualizar a linha de término que separa um dente do outro quando são preparos de facetas, por exemplo”, ele respondeu.
Decidi me posicionar e começar a expor meu ponto de vista sobre os argumentos do meu colega. Claro que concordei com ele sobre sua argumentação, mas decidi fazer uma pergunta antes de entrar a fundo na discussão: você só encontra esses problemas na Odontologia Digital? Ou você afirmaria que também os encontra na Odontologia tradicional (analógica)?
O colega me respondeu: “Também encontro na Odontologia analógica”. A partir deste momento, eu comecei minha argumentação com ele, já que o que lhe faltava era conhecimento dentro do universo digital. Se você, leitor, chegou até aqui nesta leitura, vou expor meu ponto de vista. Durante todo meu tempo como técnico, tive que, de alguma forma, resolver problemas da Odontologia analógica. Agora tenho que, de alguma maneira, encontrar soluções dentro deste mundo digital. É muito fácil criticarmos quando não temos conhecimento. Aliás, é o caminho mais confortável e mais fácil para escolhermos.
Quando recebemos um molde em que não temos uma impressão que dê condições de seguirmos, devemos questionar e conversar com o cirurgião-dentista sobre a solução que deveremos tomar. E, muitas vezes, um novo molde dever ser obtido. Isso não muda. O mesmo acontece na Odontologia Digital. Se não conseguimos determinar a linha de término, se há distorções severas que não possibilitam seguir com o trabalho, ele vai precisar ser refeito, independentemente do fluxo, seja ele digital ou analógico. Porém, quando o problema é pequeno, podemos resolver dentro do laboratório para que não seja necessária a ida do paciente ao consultório para a obtenção de um novo molde ou escaneamento.
Afirmo isso usando como exemplo uma bolha positiva ou negativa no modelo de gesso. O que aprendemos dentro de um laboratório é remover a bolha, caso seja positiva, ou preenchê-la com algum material, caso seja negativa. Podemos aliviar com cera pequenas áreas retentivas para a correta inserção da peça, separar um elemento do outro quando preparos de facetas não tiveram contatos interproximais rompidos, recontornar adequadamente o término do preparo na hora da preparação de um elemento troquelizado, entre tantos outros exemplo de manobras que vamos elaborando durante a execução de algum trabalho protético.
E por que não fazemos isso no âmbito digital? Minha resposta é: falta de conhecimento neste magnífico universo! Isso mesmo, meu caro leitor. Muitos optam pela recusa em vez de buscar uma solução para o problema. Afinal, é muito mais fácil achar uma desculpa do que uma solução. Devemos procurar as ferramentas adequadas no nosso software, que nos tragam as soluções para estes problemas que assolam tanto a Odontologia Digital quanto a analógica. Vamos retroagir em vez de avançar? Você está buscando suas ferramentas digitais para solucionar problemas ou está buscando suas desculpas? Deixo aqui estas perguntas para você mesmo responder.
Assista também ao vídeo que mostra o trabalho sendo realizado no fluxo digital:
David Morita
Técnico em Prótese Dentária – Senac; Proprietário do Laboratório e Instituto de Treinamento David Morita; Segundo secretário da Assembleia Administrativa da SBO Digital.