Vacinas em Periodontia seriam uma modalidade de tratamento proposta para a prevenção da doença periodontal. Marco Bianchini analisa a real possibilidade.
Vacina é definida como “um patógeno inativado ou atenuado, ou ainda um componente de um patógeno (ácido nucleico, proteína) que, quando administrado ao hospedeiro, estimula uma resposta protetora das células do sistema imunológico1-3. O uso de vacinas na Medicina tem sido uma intervenção eficaz de saúde pública para prevenir muitas doenças infecciosas2.
Há uma grande necessidade de terapias preventivas para a periodontite, especialmente devido à atual prevalência mundial desta doença e sua ligação com outras enfermidades sistêmicas, como doenças cardiovasculares e diabetes. Pesquisadores vêm explorando o conceito de desenvolver uma vacina periodontal visando antígenos de patógenos anaeróbios gram-negativos, que são específicos dentro do biofilme bacteriano periodontal4. Esta vacina periodontal eficaz para humanos provavelmente exigirá que várias espécies bacterianas responsáveis pela patogênese da doença sejam o alvo do futuro imunizante.
As prováveis vacinas periodontais seriam uma modalidade de tratamento proposta para a prevenção da doença periodontal4, que é uma infecção polimicrobiana complexa que envolve a interação entre várias espécies patogênicas e a resposta imune de um hospedeiro suscetível. Cerca de 400 espécies de bactérias foram detectadas no sulco gengival de dentes afetados por periodontite. Dentre elas, o Porphyromonas gingivalis, o Treponema denticola e a Tannerella forsythia são considerados os principais causadores da doença em um hospedeiro suscetível5-6 e seriam os principais alvos das vacinas1.
Embora as pesquisas atuais sobre os imunizantes periodontais pareçam ser promissoras, ainda faltam evidências em apoio de uma vacina para prevenir a periodontite. Até agora, nenhum teste de vacina periodontal em humanos provou prevenir a formação de biofilmes polimicrobianos, conhecidos por causar a doença periodontal ou suprimir a perda óssea alveolar1 . Assim como aconteceu com a maioria dos imunizantes, que são consagrados na saúde pública, mais pesquisas adicionais são necessárias para avaliar os resultados a longo prazo da efetividade de uma vacina periodontal, observando principalmente os possíveis efeitos colaterais que poderão ocorrer.
Enquanto a vacina não chega, seguimos usando as terapias que estão consagradas na literatura. Atualmente, existem muitas abordagens para o tratamento da doença periodontal: remoção mecânica do biofilme (por meio de terapia periodontal não cirúrgica ou cirúrgica), uso de antibióticos diretamente na bolsa periodontal, técnicas regenerativas (que recuperam os tecidos periodontais perdidos) etc. Todas estas abordagens, algumas mais outras menos, têm se mostrado eficazes ao longo do tempo.
Contudo, mesmo que todas estas alternativas curativas possam resolver muitos dos nossos casos, a prevenção das doenças periodontais ainda parece ser a melhor opção para evitar a perda precoce de elementos dentários. Várias intervenções clínicas alternativas preventivas continuam sob investigações científicas, incluindo o uso de vacinas1. Talvez, em um futuro não muito distante, estaremos administrando vacinas seguras em nossos consultórios para prevenir as periodontites.
Referências
1. Srinivas SR, Kristen B, Howard WH. Biological strategies for the prevention of periodontal disease: probiotics and vaccines. Periodontology 2000 2020;84(1):161-75.
2. Lahariya C. Vaccine epidemiology: a review. J Family Med Prim Care. 2016;5(1):7-15.
3. Plotkin SA, Orenstein W, Offit PA. Vaccines (6th ed.). Philadelphia, PA: Saunders, 2013.
4. Socransky SS, Haffajee AD, Cugini MA, Smith C, Kent Jr. RL. Microbial complexes in subgingival plaque. J Clin Periodontol 1998;25(2):134-44.
5. Kasuga Y, Ishihara K, Okuda K. Significance of detection of Porphyromonas gingivalis, Bacteroides forsythus and Treponema denticola in periodontal pockets. Bull Tokyo Dent Coll 2000;41(3):109-17.
6. Paster BJ, Boches SK, Galvin JL, Ericson RE, Lau CN, Levanos VA et al. Bacterial diversity in human subgingival plaque. J Bacteriol 2001;183(12):3770-83.
Marco Bianchini
Professor associado IV do Depto. de Odontologia – Universidade Federal de Santa Catarina; Autor dos livros O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia e Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-implantares.